É perigoso? Tem tratamento? Engorda? Veja mitos e verdades sobre o ronco
Roncar nada mais é do que produzir um som, ou ruído, mais ou menos forte, devido a uma dificuldade do ar em passar pelas vias áreas superiores, que nesse momento encontram-se estreitadas ou obstruídas por diversos motivos. O ato de respirar então vibra os tecidos moles, como céu da boca (palato), campainha (úvula), língua e estruturas no interior do nariz.
É preciso estar em sono profundo?
Mito. O ciclo do sono é dividido em cinco estágios, mas há quem ronque logo nos primeiros minutos após adormecer. Se avançar até a fase três e quatro e intensificar, é grande o risco de se ter paradas respiratórias de cerca de dez segundos, características da síndrome da apneia obstrutiva do sono.
Por isso, se diz que ronco não combina com sono profundo, pois faz acordar antes do estágio final, o REM (Rapid Eye Movement, ou Movimento Rápido dos Olhos).
Todo ronco envolve apneia?
Mito. O ronco que envolve apneia cursa com obstrução entre as paredes da faringe, causando a diminuição ou interrupção respiratória temporária, despertares abruptos e baixa oxigenação do sangue. Se esses episódios forem frequentes, há risco de desenvolvimento e agravamento de condições cardiovasculares, como hipertensão, arritmia, infarto, AVC e até morte súbita. A noite insone provoca no dia seguinte sonolência, cansaço, irritabilidade e falhas de memória.
Então nem todo ronco é perigoso?
Fato, mas não significa saudável. Se for leve, breve e esporádico, o ronco não sugere problema sério. Roncamos assim quando muito exaustos e dormimos principalmente de costas (decúbito dorsal).
Com a gravidade e o relaxamento, a musculatura da garganta então fica mais flácida, a língua recua e o palato mole também, o que dificulta a entrada de ar e provoca vibração. Agora, ronco rotineiro, intenso, prolongado e que envolve apneia é considerado patológico.
Sempre se ronca pela boca?
Mito. Como citado na introdução, temos também estruturas moles no interior do nariz que são passíveis de vibração. Geralmente isso ocorre quando as cavidades nasais estão ressecadas ou entupidas, ou quando se ronca com a boca fechada.
Por isso, é importante ir ao médico e manter as vias sempre liberadas e limpas. Roncar de boca aberta também é mais comum de barriga para cima, mas nada impede de o ruído ser produzido de bruços, com pescoço torcido.
Dormir de lado faz roncar menos?
Fato. Não trata causas nem cessa de vez o roncar, mas ajuda a minimizar o efeito "sinfônico". É que com o corpo nessa posição, o pescoço fica alinhado e o ar entra e sai com mais facilidade pelas vias respiratórias. A língua também não desce tanto para o fundo da cavidade oral, bloqueando o fluxo de ar, como tende a acontecer com quem dorme virado para o alto. Vale ainda usar um apoio sob o travesseiro para se manter inclinado e não "afundar" a cabeça.
Idosos e pessoas com obesidade tendem a roncar mais?
Verdade, a prevalência do ronco é maior. Com o envelhecimento, perde-se o tônus de diversos músculos, incluindo os do fundo da boca. Assim, a faringe reduz e dificulta a passagem do ar.
Nas mulheres, com a menopausa, há também um declínio do estrogênio, hormônio sexual feminino que na idade fértil protege a musculatura da garganta. Já pessoas com obesidade roncam e tendem a ter mais apneia (sobretudo os homens) devido à gordura que se acumula na língua e no pescoço.
Roncar também faz engordar?
Verdade, roncar é uma das consequências, mas também uma das causas do ganho de peso. Como prejudica o sono e leva à indisposição no dia seguinte, sentimos menos vontade de nos exercitar e até de nos alimentar de forma saudável, priorizando pratos que não demandem trabalho, como congelados e lanches.
Não dormir bem também eleva os níveis dos hormônios cortisol, que contribui para o acúmulo de gordura abdominal, e grelina, que estimula a fome.
Criança não ronca, só adulto?
Mito. Qualquer um pode roncar, inclusive crianças, que ainda estão sujeitas a sofrer apneias menores, de dois a três segundos. Entre os fatores: dormir de barriga para cima; obesidade; mas ainda inchaços de amígdalas e adenoides (carne esponjosa dentro do nariz); desvio de septo (parede que separa uma narina da outra); pescoço anatomicamente curto e grosso; rinite; sinusite; queixo retraído, que também faz a base da língua recuar; palato mole e úvula aumentados; excessos alimentares antes de dormir, pois geram refluxos, que irritam mucosas.
Álcool, remédio e cigarro fazem roncar?
Sim, é verdade, e isso vale tanto para homens como mulheres. Em comum, bebidas alcoólicas em excesso e medicamentos ansiolíticos, anticonvulsionantes e relaxantes musculares (à base de benzodiazepínicos) tiram a tensão e promovem a flacidez dos tecidos de boca e garganta, fechando o espaço respiratório e vibrando com suas paredes.
Já o cigarro promove um efeito inflamatório dessas mucosas, que dilatadas reverberam o ruído com a inspiração e expiração.
Não existe tratamento para ronco?
Mito e dos grandes. Existe até uma especialidade para isso, a medicina do sono, que conta com otorrinolaringologistas, gastroenterologistas, neurologistas, cardiologistas, pediatras e pneumologistas. Para acabar com roncos e apneias, é preciso mudar o estilo de vida, se hidratar bem durante o dia para evitar o ressecamento de vias nasais e orais; e tratar as causas. Existem aparelhos intraorais, cirurgias específicas, intervenções ortodônticas e exercícios fonoaudiológicos.
Fontes: Aline Turbino, neurologista e mestre em neurociências pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Cícero Matsuyama, otorrinolaringologista e coordenador da residência médica do Hospital Cema (SP); João Vicente da Silveira, cardiologista do Hospital Sírio-Libanês (SP); Marcos Moura, dentista e membro da ABHA (Associação Brasileira de Halitose), de Maceió; e Vitor Madeiro, gastroenterologista e coordenador médico das unidades de internação do Hospital Memorial São José, em Recife.
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