Mãe de quíntuplos: gestação de altíssimo risco e prematuridade extrema
Criar, educar e cuidar de uma criança não é nada fácil. Agora, já pensou ter essa tarefa quintuplicada? Desde 4 de junho de 2019, essa tem sido a missão de Mariana Mazzelli, 37, advogada e influenciadora digital, e Jayme Reisen, 38, empresário, pais dos quíntuplos Jayme, Bella, Benício, Laís e Beatriz (as duas últimas, gêmeas não idênticas).
A vida agitada dessa família do Espírito Santo virou a série "Quintuplicou", de seis episódios, que estreou no dia 9 de fevereiro na plataforma de streaming discovery+. A reportagem de VivaBem assistiu aos dois primeiros episódios e bateu um papo com a família das crianças, que hoje estão com 2 anos e 8 meses.
Os episódios misturam momentos de emoção, engraçados e também de tensão, como num passeio que a família faz à praia que terminou com todo mundo assustado com o "sumiço" de Laís e da babá. Há também cenas que nos fazem dar risada, como quando o bebê Jayme derruba uma pilha de caixas numa loja de calçados no shopping.
Há ainda registros que fazem qualquer mãe e pai repensarem seu nível de paciência ao assistirem Mariana e sempre mais uma pessoa, o marido, a mãe dela ou a babá, dando comida para os pequenos enquanto eles cospem e amassam a comida, choram e puxam o cabelo. "É sempre uma luta", afirma a influenciadora.
Juntos desde 2011, Mariana conta que após quatro anos de casada aflorou a vontade de ser mãe. Jayme, que já tinha Ailton, 14, filho de um outro relacionamento, também queria aumentar a família. Durante as tentativas para engravidar naturalmente, Mariana descobriu que tinha uma baixa reserva de óvulos e foi orientada por um médico de uma clínica de reprodução assistida a fazer um tratamento chamado coito programado.
"O coito programado consiste na estimulação da produção de óvulos e da ovulação por meio do uso de medicamentos administrados por via oral ou injetável, programando a ovulação e a época das relações sexuais. É indicado para casais quando o problema é a falta de ovulação. Como ocorre a estimulação de mais de um óvulo, pode ocorrer a gestação gemelar, trigemelar ou mais", explica Mário Macoto Kondo, obstetra do Hospital e Maternidade Santa Joana (SP).
Ao descobrir a gestação quíntupla, o casal viveu uma mistura de emoções. "Quando a médica falou que tinha 5 corações batendo, fiquei desesperada e fiz um escândalo. Fiquei dois dias trancada no quarto, mas meu marido me acalmou dizendo que nossa família seria linda, grande, alegre, e que ele iria sempre me apoiar."
A gestação de Mariana foi de altíssimo risco e não teve os tradicionais chá revelação e chá de bebê. "O médico me aconselhou a não fazer nada disso para preservar meu psicológico, pois havia a possibilidade de perder um dos bebês."
"Na gestação de quíntuplos, o acompanhamento pré-natal com consultas e exames mais frequentes é muito importante devido ao aumento do risco de parto prematuro e restrição de crescimento dos fetos com diferença importante de peso entre os bebês", afirma Kondo.
A internação, o parto e as consequências
Até a 20ª semana, a influenciadora ficou bem e trabalhou normalmente ajudando a mãe na administração de um cartório da família, mas na 25ª foi internada. Os bebês estavam sem espaço e os médicos descobriram que Beatriz estava em sofrimento fetal, com baixo peso.
Eles marcaram a cesárea, que contou com o auxílio de 36 profissionais. Os bebês nasceram prematuros extremos com 27 semanas de gestação.
Mariana relembra desse momento no primeiro episódio. "Quando cheguei para vê-los foi algo tão impactante que nunca vou esquecer. Eles eram muito pequenos. As meninas tinham 24 cm, o maior era o Jayme, com 30 cm. Pensei: 'Meu Deus, como vou fazer para eles sobreviverem?'", conta emocionada.
Devido à prematuridade, os quatro primeiros meses de vida dos quíntuplos na UTI neonatal foram muito difíceis, alguns precisaram fazer cirurgias no intestino, no coração e nos olhos. Além disso, o casal também descobriu que Benício tem síndrome de Down e que Bella e Beatriz tiveram uma paralisia cerebral que afetou a parte motora.
Bebês que nascem antes de 28 semanas são classificados como prematuros extremos e podem ter algumas intercorrências, conforme explica o obstetra: "Como os pulmões não estão completamente desenvolvidos e não produzem uma substância chamada surfactante, que ajuda na oxigenação, é necessário o uso de aparelhos para auxiliar na respiração e na administração do surfactante".
Também pode ocorrer o desenvolvimento anormal dos vasos do olho do bebê com descolamento da retina, sendo necessária uma cirurgia para evitar deficiência visual ou cegueira. Uma outra situação que pode ocorrer em 25% dos bebês é a hemorragia dentro ou ao redor do cérebro, a hemorragia peri-intraventricular (HPIV). Sua forma grave pode resultar em danos cerebrais crônicos.
Os bebês
Os pais contam um pouco de como cada bebê é:
Jayme é um bebê muito amoroso: foi o primeiro a nascer e é o maior e mais pesado da turma.
Bella adora distribuir beijos, brincar e interagir com seus irmãos. Devido à prematuridade, ela faz fisioterapia para melhorar suas habilidades motoras e suas pequenas (grandes!) conquistas são motivo de comemoração para toda a família.
Benício, que tem síndrome de Down, é um bebê radiante, carinhoso e brincalhão que virou o queridinho dos seguidores de sua mãe nas redes sociais.
Laís é autêntica e tem personalidade forte, ela é gentil, mas também não deixa de manifestar seu descontentamento.
Beatriz é gêmea de Laís, mas não idênticas, nem na aparência, nem no temperamento. Ela usa óculos para corrigir o estrabismo e também participa de sessões de fisioterapia para aprimorar suas capacidades motoras.
Rotina é essencial
Com a alta hospitalar dos bebês, Mariana e Jayme perceberam que o apartamento de dois quartos em Vila Velha (ES) havia ficado pequeno. Eles venderam o imóvel e foram morar junto com a mãe da advogada, na cidade de Guarapari. "Sempre gostei muito de criança e Mariana ter ido lá pra casa com o marido e com esse monte de crianças foi uma bênção", conta Marina Mazzelli, 73, aposentada.
Durante o dia, Jayme sai para trabalhar na loja de suplementos que tem com o irmão, enquanto Mariana, a mãe e a babá se unem para cuidar das crianças e da casa. "Tem que ter rotina para funcionar, horário para mamar, para comer, para dar banho. Sou uma pessoa organizada, paciente e prática, mas quando minha mãe sai ou a babá vai embora mais cedo, perco alguns braços e fico ansiosa", fala a mãe.
Num dos episódios, Mariana passa duas horas sozinha com os filhos e fica brava com o marido que demorou para chegar. "Me tira do sério o Jayme falar que está chegando e não chega nunca. Cada minuto sozinha com meus filhos me sobrecarrega num nível que é muito difícil de descrever", relata.
Jayme conta que, desde que os filhos nasceram, trabalha numa carga menor: "Preciso dar suporte para minha esposa, porque o trabalho em casa é quintuplicado".
Tirando os desentendimentos normais de um casal com (cinco) filhos, os dois são parceiros na criação das crianças, como mostra um dos episódios em que eles ficaram acordados de madrugada com Bella, que passou a noite vomitando e precisou ir ao hospital.
Ficar doente é a parte mais difícil de ter quíntuplos, confessa Mariana. "Isso quebra nossa rotina e bagunça tudo. Um simples resfriado se torna um caos. Teve uma vez que eles pegaram virose, ficaram vomitando e com diarreia. Troquei 100 fraldas num dia", conta à reportagem.
Dá para manter a saúde mental?
A forma que Mariana encontra para manter sua saúde mental em ordem é fazendo exercício físico. Ela vai todos os dias à academia fazer musculação no horário em que as crianças estão dormindo. De sábado, ela corre na orla da praia com o marido, e sempre que possível eles dão um mergulho no mar e jogam frescobol.
"É importante manter o autocuidado. Sou uma mulher vaidosa. Se eu ficar fora de forma fico nervosa, impaciente e me sinto desleixada, isso só vai impactar meu psicológico. Preciso me cuidar para cuidar bem dos meus filhos. Além disso, sou influenciadora digital. Ninguém quer ficar ouvindo uma pessoa mal-humorada", afirma ela, que compartilha a rotina da família no Instagram e tem uma loja de roupas e artigos infantis.
Dos 5 filhos, Jayme e Laís alcançaram a idade cronológica, já andam e estão com o desenvolvimento neuro, psico e nutricional dentro do esperado. Benício, Bella e Beatriz ainda não andam e recentemente começaram a terapia psicomotora Cuevas Medek Exercise, destinada a bebês e crianças que apresentam alterações no desenvolvimento motor causado por síndromes não degenerativas que afetam o sistema nervoso central.
O pai diz se emocionar todos os dias com cada vitória deles: "Engatinhar, [falar] uma palavra, [dar] um sorriso. Para mim isso já vale a pena todo esforço que faço desde a hora que acordo até a hora que vou dormir", desabafa.
Mesmo a situação mais simples virando um caos na vida dessa família capixaba, Mariana diz que ter cinco filhos é uma benção, uma alegria, uma felicidade sem fim. "A melhor parte é a alegria dentro de casa. Nossa vida é preenchida de amor."
Ter uma gestação quíntupla é um evento raro, afirma o obstetra Mário: "Segundo dados da literatura, no mundo, a incidência é de 1% a 2%, o equivalente a 1 para 60 milhões de nascimentos. Um estudo feito na Suíça, entre 2005 e 2008, revelou uma incidência de 0,3 por 100 mil nascidos vivos."
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