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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


'Jogando tênis, vi que meu corpo pode mais', diz atleta com paralisia

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Fernando Barros

Colaboração para VivaBem

01/03/2022 04h00

Foi no início de 2021, pesquisando sobre modalidades paralímpicas e atletas com deficiência na internet, que Vinicius Schmidt, 32, decidiu que ia disputar competições de alto rendimento no tênis e tentar chegar às Paralímpiadas de Paris 2024.

Com deficiência motora congênita, o consultor de diversidade e inclusão para empresas nasceu em Florianópolis e sempre gostou de esportes, mas nunca tinha pensado em ser um atleta de alto rendimento. "A pessoa com deficiência é sempre vista em um lugar de limitação, de incapacidade. Assim, eu acabava duvidando de mim mesmo e achava que não era possível", conta ele, que nas aulas de educação física do colégio tinha de ficar no banco, apenas vendo os colegas fazer exercícios.

Vinícius começou a jogar tênis como hobbie em 2009, quando conheceu um projeto voltado para pessoas em cadeiras de rodas na faculdade, durante sua primeira graduação —ele se formou em jornalismo e depois em psicologia.

A grande virada de chave, no entanto, aconteceu ao descobrir a trajetória do norte-americano Nicholas Taylor, tenista profissional cadeirante, campeão de 11 torneios Grand Slams (os mais importantes da modalidade) e medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos de 2004, 2008 e 2012.

Vinicius Schmidt, tenista paralímpico  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Até então, eu praticava esporte de brincadeira, por lazer, com os amigos. Nunca tinha cogitado competir. Mas a história de Nick me fez acreditar que era possível jogar em alto nível", lembra Vinicius.

Com a inspiração, o catarinense fez um suporte para prender a raquete no pulso, adaptação parecida com a que o atleta norte-americano usava para jogar, e buscou um treinador para conduzir sua preparação esportiva. Em paralelo, passou a se dedicar também ao CrossFit, para deixar o corpo mais forte para as competições e se conhecer melhor.

"Foi uma maneira de entender que meu corpo podia mais, que eu podia ir além nos meus limites. Fazer exercícios antes impossíveis e pegar pesos que eu nem imaginava", diz Vinicius, que atualmente usa uma cadeira motorizada.

Rotina de treinos e um objetivo: as Paralímpiadas de 2024

Vinicius Schmidt, tenista paralímpico  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Vinicius vem treinando duro e estabeleceu um objetivo ambicioso: chegar até as Paralímpiadas de Paris. Ele sabe que não vai ser fácil entrar no circuito em tão pouco tempo, mas afirma que não vai deixar de tentar por causa disso.

Cheio de disciplina e determinação, seu intuito agora é desenvolver condicionamento, força, potência e amplitude de movimento. Para tanto, pratica tênis duas a três vezes na semana e faz CrossFit três vezes. Cada treino dura uma hora.

Vinicius concilia a rotina esportiva com o seu trabalho de consultoria para empresas. No entanto, o ritmo de treinos deve aumentar em 2022. Isso porque ele pretende participar de muitos campeonatos de tênis.

Vinicius Schmidt, tenista paralímpico  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Vinicius faz CrossFit para fortalecer o corpo e suportar as exigências do tênis
Imagem: Arquivo pessoal

Junto com o treinador, o consultor vai traçar uma estratégia para participar dessas competições. Para ele, serão oportunidades de testar as técnicas e táticas que vêm aprendendo e analisar o que precisa melhorar. "A ideia é ver como me saio competindo para valer e também ranquear rumo às Paralímpiadas", explica.

Além da preparação esportiva, ele, que é vegetariano, faz acompanhamento com nutricionista e segue uma dieta específica para manter a saúde em dia e garantir o aporte de proteínas, carboidratos e todos os nutrientes necessários para uma atleta.

Nesse caminho em direção a Paris, Vinicius conta que vai começar a buscar apoio e patrocínio. Dessa forma, ele espera poder trocar seu equipamento esportivo.

O esporte como empoderamento

Das aulas de educação física na escola —onde só assistia aos colegas praticando exercícios— até seus planos rumo às Paralímpiadas, muita coisa mudou na vida de Vinícius. Para ele, o esporte teve um papel de destaque em seu amadurecimento e na autoestima.

Duvidar de si é algo bem comum para pessoas com deficiência, porque o mundo o tempo todo nos diz que não podemos fazer isso, não conseguimos fazer aquilo. O tênis me ajudou a superar essas narrativas de incapacidade e ver que meu corpo pode mais!"

Vinicius Schmidt, tenista paralímpico  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Ele, que costumava se colocar numa posição de co-dependência, precisando de alguém por perto para as suas demandas, ganhou mais autoconfiança para fazer as coisas sozinho, além de foco e motivação para seguir seus sonhos.

Ao mudar seu status de espectador e fã de esportes para alguém que pratica uma modalidade e treina em busca de alto rendimento, Vinicius passou a conhecer toda a potência que seu corpo tem e estava adormecida. Agora, ninguém o segura. É match point!