Psiquiatra tira dúvidas sobre exposição de crianças e adolescentes às telas
No 13º episódio da segunda temporada do Conexão VivaBem, o tema central foi o uso em excesso de telas por crianças e adolescentes. De um lado os malefícios, do outro, a necessidade dos pais de deixar as crianças em frente às telas. A seguir, o psiquiatra Luiz Zoldan tira 7 dúvidas sobre o assunto:
1) Qual o tempo recomendado de tela para crianças?
Segundo o psiquiatra, existem algumas referências de tempo, no entanto, tudo dependerá do motivo pelo qual a criança está sendo exposta à tela, se é para um bate-papo com algum familiar por vídeo, por exemplo, ou se ela está consumindo programas e conteúdos que talvez não lhe tragam nenhum benefício.
Para crianças abaixo de 2 anos, zero tela; para crianças entre 2 e 6 anos, de uma a duas horas; para crianças de 6 a 11 anos, no máximo 3 a 4 horas.
A partir dos 12 anos, a exposição pode ser um pouco maior, porque nessa idade já passou um pouco da fase chamada de poda neural, que é quando o cérebro está se remodelando e fazendo a reconstrução de alguns circuitos neurais.
2) Quais os principais prejuízos que o excesso de telas provoca nas crianças?
Diversos. O primeiro, psicologicamente falando, é em relação a circuitaria cerebral, em que ocorre um prejuízo relacionado ao que a gente chama de controle inibitório, ou seja, no online, as crianças têm tudo ali, é só clicar e está pronto.
"Isso não acontece na vida real, isso faz com que nessas podas neurais a criança não fique preparada para controlar o impulso, então muitas vezes elas acabam ficando mais impulsivas devido ao excesso de tela", explica o psiquiatra.
E isso é só o começo. A capacidade de manter a atenção fica reduzida, há prejuízos neuromotores, problemas de postura dada a posição em que elas ficam em frente ao celular ou a pequenas telas.
Além disso, aumenta o sedentarismo, o risco de obesidade infantil, os problemas oculares relacionados à secura porque a criança fica muito tempo com o olho aberto sem piscar. Isso pode causar ranhuras, miopia e outros problemas oculares a longo prazo.
Não bastasse tudo isso, o excesso de tela também prejudica o sono das crianças.
"O excesso de tela é o vilão do sono. O excesso de luminosidade, principalmente à noite, acaba com a nossa capacidade de iniciar e de manter o sono. O sono é essencial, a gente precisa dormir em torno de 7 horas por noite porque é o momento de limpeza do cérebro, é quando a gente tira as toxinas do cérebro. Se a gente dorme pouco, a gente vai acumulando cada vez mais toxinas. A longo prazo isso é um grande perigo para a nossa cognição, inteligência e memória", afirma Luiz.
3) A criança fica mais irritada quando passa muito tempo em frente à tela?
Sim, quando a criança ou adolescente passa daqueles tempos previstos e extrapola o tempo de tela, ela pode ter os chamados comportamentos disruptivos, isso significa que ela pode ficar mais irritada, com birras mais constantes, desatenção e chegar ao ponto fazer de ameaças, inclusive, ameaças suicidas.
4) Por que as telas são prazerosas?
As telas funcionam no nosso sistema cerebral aumentando a sensação de recompensa, o neurotransmissor chamado dopamina.
"Quando você está em frente à tela e, principalmente, nas redes sociais, recebendo likes, que é um prazer imediato, a quantidade de dopamina sobe. Quando você está longe da tela e você se lembra daquilo, vem aquele desejo de novo pelo prazer que é o que o sistema de recompensa cerebral pede, é o fenômeno das dependências", diz o psiquiatra.
Assim como o funcionamento de outras dependências, como do álcool, doce, cigarros, a tela entra de uma maneira muito parecida nesse mesmo circuito.
5) Quando é considerado um vício?
Se numa ocasião pontual a criança faz uma ameaça caso não tenha acesso à tela, isso não é considerado um vício. Mas se isso começar a se repetir, pode ser que ela esteja adquirindo o que a gente chama de tolerância, isto é, ela precisa de mais tempo de tela para obter aquele prazer.
Além disso, ela também pode apresentar os sintomas de abstinência da tela. "Quando ela está longe da tela, cai a dopamina e ela vai ficando com esses sintomas de irritabilidade, de barganha, de grosserias. Esses são alguns indícios de que ela possa estar desenvolvendo algum tipo de dependência por tela ou vício por tela", explica Luiz Zoldan.
6) Os pais devem se preocupar com os jogos?
Se a criança ou adolescente ficar mais de uma hora, duas horas consecutivas jogando videogame ou em frente ao computador, os pais podem estar diante de um problema.
No caso do videogame especificamente, existe uma recompensa muito rápida e pode ser que o adolescente desenvolva uma doença denominada gaming disorder, que é um transtorno por jogo de videogame, que está relacionada a mais um tipo de dependência específico para além das telas.
E como identificar que chegou a esse ponto? Basicamente, pelo desejo incessante e por mentiras, comenta o médico. "Eles insistem e barganham para jogar por mais tempo. Eles podem desenvolver alguns sintomas depressivos, que na criança se caracteriza muito mais por isolamento, birras e irritabilidade do que de fato por uma tristeza que é visível ou uma falta de prazer."
Além disso, eles começam a mentir, escondem que estão jogando, acordam à noite para jogar, e, posteriormente, acordam super cansados.
7) Quais estratégias para diminuir o tempo de tela das crianças?
Primeira: negocie com elas o tempo e condicione esse tempo a algumas tarefas, isso ajuda bastante.
Segunda: busque outras atividades em que ela se movimente, incentive a prática de esportes.
Terceira: proponha atividades que sejam feitas entre pai/mãe e filho(a) para que elas possam compreender melhor o mundo da tela e o mundo fora da tela.
E a dica final: caso você libere o uso de tela para a criança, fique junto. "Explique o que ela está vendo, como aquilo se aplica no mundo, porque senão ela vai fazer distorções na cabeça dela. É função do adulto quando ele dá a tela para a criança consumir algum tipo de programação que ele esteja junto."
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