85% das pessoas com obesidade já sentiram preconceito pelo excesso de peso
De acordo com um novo levantamento, 85% das pessoas com obesidade já sentiram algum tipo de constrangimento por conta do excesso de peso. Desses, mais da metade afirma que é vítima de discriminação pelo menos uma vez ao mês.
Os dados fazem parte de uma pesquisa sobre obesidade e gordofobia feita pela SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e pela Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica) para conscientização da data comemorada nesta sexta-feira (4), Dia Mundial da Obesidade.
A pesquisa foi realizada online em fevereiro deste ano e teve a participação de 3.621 pessoas, 88% delas com excesso de peso, sendo 37% com obesidade grau 3.
Locais com maior preconceito
O levantamento também mostrou que é no ambiente familiar onde as pessoas relatam mais episódios de constrangimento por conta do peso (72%). Em segundo lugar estão as lojas e comércio em geral (65,5%), seguido por situações de discriminação no médico (60,4%) e no trabalho (50,7%).
Inclusive, apenas 13% das pessoas disseram procurar ajuda para perder peso no SUS (Sistema Único de Saúde), sendo que 62% desses declararam que não se sentiram confortáveis e acolhidos no atendimento, sendo mais frequente, quanto maior o grau de obesidade.
Não é só uma questão de 'força de vontade'
30% das pessoas com sobrepeso importante acreditam serem culpadas por aquela condição e não buscam ajuda profissional. Isso mostra como perder peso não é uma "questão de vontade", segundo a endocrinologista Maria Edna, presidente do departamento de obesidade da SBEM.
"Sabemos que, na realidade, a obesidade é uma doença que sofre influência de diversos fatores como a genética, estilo de vida, estresse, existência de outras doenças associadas, alguns tratamentos medicamentosos, além de, claro, o tipo de alimentação que aquela pessoa segue. Não é uma escolha individual, mas consequência de uma confluência de fatores", diz.
Os resultados mostram ainda que 81% das pessoas com obesidade já tentaram perder peso de alguma forma, sendo que 68% com ajuda especializada, seja de médicos, nutricionistas ou demais especialistas da saúde, e 32% por conta própria.
Dos que tentaram por contra própria, mais da metade (63%) investiu no combo dieta e atividade física. No entanto, segundo a endocrinologista, esse tipo de pensamento de "coma menos, exercite-se mais" ignora a complexidade da doença que requer mais intervenções que vão além, como acompanhamento especializado e uso de medicamentos adequados.
Outro número preocupante apontado revela que, das pessoas que afirmaram ter tentado perder peso por conta própria, pelo menos 18% declararam que fizeram uso de medicamentos sem acompanhamento médico e demais artifícios arriscados como substitutos de refeição (shakes), produtos ou medicamentos vendidos na internet, fitoterápicos e chás.
Importância da individualização do paciente
70% das causas da obesidade podem estar associadas a fatores hereditários relacionados à genética, histórico familiar e etnia, não apenas à falta de hábitos saudáveis, conforme dito anteriormente. Por isso, o tratamento adequado para a doença combina diversos fatores, como:
- Reeducação alimentar;
- Atividade física;
- Acompanhamento multidisciplinar que ampare tanto o lado físico quanto o emocional;
- Dependendo do caso, medicação.
"É importante ressaltar que a obesidade não pode ser resumida ao que a pessoa vê no espelho —existem diversas questões por trás desse diagnóstico. Como profissionais da saúde, precisamos estar preparados para aprofundar essa conversa com o paciente, que muitas vezes já se sente culpado e envergonhado diante da forma que a obesidade é tratada socialmente", diz o endocrinologista Henrique Suplicy.
Para Edna, é importante deixar claro que quando os médicos falam em mudança do estilo de vida é sobre um universo cheio de desafios.
"O controle do nosso apetite ocorre nas áreas mais primitivas do nosso sistema nervoso central. Quando estamos na frente de um alimento, principalmente aqueles hiperpalatáveis, industrializados, ricos em açúcar, com inúmeros atrativos, somos levados a um ato quase automático pelo próprio corpo. A região cortical do nosso cérebro, onde realizamos as ponderações, tem participação muito pequena", explica.
Diagnóstico de obesidade
A condição é definida como a presença de gordura corporal em quantidade que representa riscos à saúde do paciente, seja ele criança, adulto ou idoso.
Uma pessoa recebe diagnóstico de obesidade quando seu IMC (Índice de Massa Corporal) é maior ou igual a 30 kg/m2. A faixa normal varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2. Além disso, o diagnóstico pode ser composto pela medida das pregas cutâneas, bioimpedância e medida da circunferência abdominal.
Segundo o Ministério da Saúde, a obesidade é um dos principais fatores de risco para várias doenças não transmissíveis, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, AVC (acidente vascular cerebral), problemas no fígado, infertilidade e várias formas de câncer.
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