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Cebola que não faz chorar, manga sem fiapo: alimento modificado faz mal?

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Imagem: iStock

Luiza Ferraz

Colaboração para o VivaBem

07/03/2022 04h00

Você já imaginou cortar uma cebola sem que ela ardesse os olhos? Ou então comer uma melancia que não tivesse sementes? E que tal chupar uma manga sem fiapo? Apesar de parecer algo de outro mundo, a presença desses alimentos está cada vez mais comum nos mercados.

Eles são os chamados OGM (Organismos Geneticamente Modificados) e consistem em alimentos aprimorados geneticamente para entregar exatamente o que o consumidor pede. Seriam como alimentos "perfeitos".

De modo genérico, a técnica consiste na edição artificial dos genes dos vegetais. Ela aperfeiçoa as características que desfavorecem determinados produtos, como a sementes, por exemplo. Desta maneira, é feita a identificação das áreas onde estão os genes a serem modificados e, assim, são manipulados.

Mas essas modificações vão além. "Esse melhoramento é feito em algumas plantas para que tenham mais qualidade, como produção elevada, resistência às pragas, melhora no sabor, no odor e na textura, além de maior durabilidade", explica Luciana de Siqueira Oliveira, engenheira de alimentos, especialista em bioquímica e pós-colheita de frutos tropicais e docente da UFC (Universidade Federal do Ceará).

Entretanto, embora sejam muito atrativas, essas criações ainda geram dúvidas sobre suas qualidade e segurança: elas podem causar algum tipo de alergia? Quais são as suas desvantagens?

São transgênicos?

É importante ressaltar que, apesar de todo alimento transgênico ser considerado OGM, nem todo OGM é transgênico. Isso porque os cruzamentos podem ser feitos de formas diferentes. No caso do transgênico, é introduzido um pedaço de gene de outra espécie. Já no OGM, não necessariamente existe essa mistura de famílias.

Por mais que causem espanto e curiosidade, esses produtos fazem parte do nosso dia a dia há mais tempo do que imaginamos. Boa parte dos alimentos que consumimos já foram alterados em algum momento através de técnicas que vêm sendo desenvolvidas há milhares de anos, como é o caso do milho e da berinjela.

"As populações humanas eram apenas caçadoras e coletoras, mas no período neolítico passaram a plantar alguns grãos, surgindo assim a agricultura. A partir daí, as culturas alimentícias foram sendo selecionadas pelo homem em função de maior produtividade, resistência às doenças do solo e às mudanças climáticas", diz Bárbara Costa, farmacêutica-bioquímica com mestrado em ciência e tecnologia de alimentos pela UFPA (Universidade Federal do Pará), doutorado em ciência de alimentos pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e docente na UFAM (Universidade Federal do Amazonas).

Hoje, com as tecnologias avançadas, esses aperfeiçoamentos acontecem de forma mais rápida e dinâmica, fazendo com que novos produtos surjam nas feiras e supermercados sem nos darmos conta. Segundo a especialista, eles podem ser consumidos normalmente e sem medo. Possíveis alergias não estão relacionadas a sua mutação, e sim à reação a algum composto a que a pessoa já tenha sensibilidade.

O lado negativo dos OGM

"Essa modificação pode resultar no aumento da resistência aos pesticidas e agrotóxicos, o que faz com que o uso desses produtos seja maior, podendo causar problemas à saúde", ressalta Bárbara.

Do ponto de vista nutricional, essas alterações não são vistas com bons olhos. Isso porque elas podem retirar dos alimentos características benéficas ao organismo, como as vitaminas, fibras e antioxidantes naturais.

"Um alimento conta com benefícios só pela sua reprodução. O que é modificado não vai ter um crescimento natural, pensando em vitaminas e minerais que obteríamos se tivesse um tempo de colheita em um solo orgânico, por exemplo", diz Gabriela Cilla, nutricionista clínica e funcional da Clínica NutriCilla.

Portanto, é importante lembrar que existem benefícios atrelados a algumas características das versões "originais" desses alimentos.

O que já é possível encontrar no Brasil

No Brasil, já existem algumas dessas variedades de vegetais. Trazemos aqui algumas das mais populares, explicando o que elas oferecem de diferente.

Cebola picadinha - iStock - iStock
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Cebola que não faz chorar

Cortar cebola é um verdadeiro pesadelo para qualquer pessoa que decide se aventurar na cozinha. Não importa o que você faça, o resultado sempre virá com muitas lágrimas derramadas. Mas já existem criações de diferentes tipos de cebola que não fazem os olhos lacrimejarem. Aqui no Brasil, ela foi batizada de dulciana e foi lançada em 2017, popularizando-se nos últimos anos.

O segredo para evitar choro está na redução do ácido pirúvico, responsável pelo ardor na hora do manuseio. Por ser mais suave do que as demais, ela também conta com um sabor menos ardido, podendo ser usada em saladas e mesmo na sua forma crua.

mãe filha comendo fruta; melancia - iStock - iStock
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Melancia sem sementes

Essa é para quem já deixou de comer melancia pela simples preguiça de tirar as sementes. Essa versão sem sementes já está disponível nas feiras brasileiras e conta com um tamanho menor do que a tradicional: ela pesa de 6 kg a 9 kg.

O tamanho menor tem as suas recompensas. Além de quase não ter sementes, essa fruta também tem um sabor mais doce do que as demais.

A nutricionista Gabriela Cilla, no entanto, alerta para não tornarmos vilãs características que na verdade são benéficas. "Muitos produtos são feitos a partir do extrato das sementes de melancia para o alívio da pressão alta. Ela aumenta o calibre das nossas veias, melhorando a retenção hídrica, a questão renal, o inchaço e diminuindo o risco de infecções urinárias", explica.

Manga - iStock - iStock
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Manga sem fiapo

Comer manga é ótimo, mas o trabalho para tirar os fiapos que ficam entre os dentes depois é bem chato. É por isso que a manga palmer é a queridinha de muitos dos amantes da fruta. Ela conta com menos —ou quase nenhum— fiapo e ainda tem o caroço menor do que as concorrentes, fazendo com que sobre mais polpa.

É importante lembrar que esses fiapos, que podem incomodar, também têm suas vantagens: são as fibras que estão presentes na fruta, melhorando o processo imunológico, a constipação e a saúde intestinal, explica Cilla.