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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Ter foco é importante, mas distração também; veja como manter equilíbrio

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

07/03/2022 04h00

Ter foco é importante para executarmos diferentes tarefas, desde entregar a tempo um relatório pedido de última hora pelo chefe, até dirigir um carro com segurança por uma estrada ou preparar um jantar romântico sem sabor de queimado. Portanto, a falta de foco pode nos prejudicar em muitos aspectos. Porém ter distrações é igualmente importante. Elas servem para nos organizarmos mentalmente, pois nossos olhos, ouvidos e cérebro também se cansam.

Para chegar a um estado de equilíbrio e harmonia entre foco e distração, VivaBem consultou especialistas em funcionamento cerebral e comportamento humano para explicar algumas questões. Entre elas, de onde vem a supervalorização do foco; os erros que, sem perceber, cometemos no dia a dia; as diferenças de uma distração necessária para uma distração por transtorno ou fugas e vícios e indicar estratégicas pessoais para melhorar o foco na dose certa.

É impossível focar em tudo

O termo multitarefa surgiu com a informática e se popularizou a partir dos anos 1960 para descrever computadores que processavam vários programas simultaneamente. Mas nosso cérebro está longe de funcionar dessa forma. Você pode até conseguir falar ao telefone enquanto digita e responde um e-mail, mas, sem perceber, alterna o foco das atividades com pausas de poucos segundos, ou então não se concentra profundamente em nenhuma delas.

"Existem pessoas que quando treinadas ou fazem algo com muita frequência conseguem se dividir entre várias tarefas ao mesmo tempo. Mas, no fundo, sabe-se que o ser humano foca, direciona os sentidos e a memória e se sai realmente 100% bem em apenas uma única atividade por vez", afirma Júlio Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião com especialização pela UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).

Tentar resolver múltiplas tarefas que só tendem a aumentar vai gerar um número elevado de alternâncias entre foco e distração e com isso mais sua mente desacelera. Esse é o primeiro erro, mas há outros, como não se organizar nem estabelecer prioridades e objetivos, preocupar-se em excesso com o passar das horas e com coisas pequenas (como a cada like que aparece na tela do seu celular), pensar na conclusão de uma atividade estando no início dela.

A procrastinação é um dos problemas da educação formal  - Thinkstock - Thinkstock
É normal que o organismo busque interrupções após 90 minutos de atenção dirigida, a fim de recuperar energia
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Diferentes tipos de distração

Não descansar entre tarefas também é um erro, precisamos disso para refletir, imaginar e criar, coletar informações, tomar decisões. A fim de recuperar as energias, o organismo busca e inicia interrupções, em geral até após 90 minutos de atenção dirigida. Essa distração é necessária e não compromete obrigatoriamente o foco, informa Wimer Bottura, psiquiatra pelo Instituto de Psiquiatria da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

"Agora, no TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), é uma distração intensa. Na verdade, não há falta de foco, mas um hiperfoco, que pode ser bom para algumas coisas, mas quando mutável leva o indivíduo constantemente a mudar de interesse sem chegar a lugar algum, não evolui, enquanto na dispersão normal a pessoa vagueia e volta. Se evitar contato com a realidade pode até se relacionar com autismo", complementa o médico.

Já na distração atrelada a algum vício, a exemplo de não se desgrudar das telas de TV, celular, videogame, pode ter a ver com fuga, tédio por não gostar do que faz, da própria realidade, ou querer algum prazer após um dia cansativo e que pode se somar ao TDAH. Desafios também podem levar à abstração, por dificuldade, falta de experiência em solucioná-los e, sobretudo, quando se percebe que está nos momentos mais simples ou finais do processo de execução.

Como alcançar o equilíbrio

Para garantir um foco na medida certa, sem se distrair demais, mas também evitando uma exaustão mental, é necessário investir mais em si. Se a causa da desatenção forem estímulos externos excessivos (barulhos na rua, dentro de casa ou no trabalho), abafadores acústicos podem funcionar. Mas, do contrário, se não resolver e perceber ou suspeitar que o problema esteja em você e tem atrapalhado sua rotina, afazeres e relações, procure ajuda profissional.

"Fazemos uma avaliação neuropsicológica com uso de testes para identificar se a pessoa tem um problema atencional maior, ou transtorno e encaminhamos para neurologista/psiquiatra fecharem o diagnóstico, que é multidisciplinar", informa Gabriela Luxo, psicóloga e doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP). O tratamento para TDAH envolve medicamentos e psicoterapia para tratar causas, problemas associados.

Ainda é fundamental estimular crianças para alguma atividade (quando isso não acontece, maior a dificuldade de foco e que pode piorar na fase adulta), dormir bem e tirar cochilos (para que haja a consolidação do aprendizado e revigoramento), dosar o consumo de álcool, que afeta a região cerebral responsável pela manutenção da atenção, o córtex pré-frontal, trabalhar técnicas de respiração e meditação (agem como campos de treinamento para atenção), fugir de energéticos (drogas e bebidas do tipo viciam num ritmo antinatural) e apreciar mais a vida.