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Vermelho, amarelo, verde, azul: alterações de cor revelam estado de saúde

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

14/03/2022 04h00

A maioria das pessoas reconhece o que significam algumas alterações de cor no organismo. Por exemplo, tom avermelhado na pele após tomar muito sol sem protetor indica que ocorreu uma inflamação, com possibilidade de queimadura, por radiação na epiderme (a parte mais externa da pele). Vermelho em olhos, urina, fezes também não são bons indicativos. Mas e quando a presença dessa cor não tem a ver, necessariamente, com ardência ou sangue?

E as demais tonalidades, como amarelo, arroxeado, esverdeado, azulado, sugerem o quê? Se o pigmento conhecido como melanina determina nosso tom natural (de pele, cabelos, mucosas, íris, bem como tem participação no bronzeado), infecções, cânceres, problemas de regulação térmica, circulação, imunidade, respiração, além de exposições prolongadas a determinados agentes, sendo nocivos ou não, ditam uma "paleta" mais suspeita e podem se revelar por ela.

Queimadura de sol, pele vermelha, insolação, inflamação na pele, bronzeado, câncer de pele - iStock - iStock
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Essas alterações podem ainda variar de intensidade, resultando até em perda de cor, mas em geral passageira e nada relacionada com albinismo, vitiligo, piebaldismo, caracterizados pela ausência total ou parcial de melanina.

Assim sendo, é válido conhecer algumas, não para se autodiagnosticar, mas para ter informação sobre os fatores que podem estar envolvidos e reconhecer quando procurar um clínico geral, especialista ou correr para o pronto-socorro.

Cores quentes: do vermelho ao amarelo

Coloração avermelhada ou perto disso tem a ver com o que já foi explicado no início da reportagem (presença de sangue, insolação, inflamações, incluindo vasodilatação intensa), mas ainda infecções, doenças autoimunes como lúpus eritematoso, psoríase eritrodérmica, rosácea, acne, escabiose ou reações alérgicas.

"Sangramentos gastrointestinais, mesmo ocultos, também podem deixar a pele alterada para pálida, pouco corada", explica Luana Luz, gastroenterologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo e da clínica Gastrofig.

Jovem mulher com olhos amarelos, amarelados, icterícia, problema no fígado - iStock - iStock
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Pele e parte branca dos olhos amareladas também indicam alterações no funcionamento do fígado e excesso de bilirrubina (pigmento de mesmo tom) no sangue. Esse tipo de condição recebe o nome de icterícia e pode ter por causas: hepatite, cirrose, obstrução do duto biliar (encarregada por transportar a bile) por tumores ou cálculos, intoxicação por plantas e medicamentos, distúrbios hereditários, como síndrome de Gilbert, anemia e febre amarela.

A ingestão excessiva de cenoura, mamão e abóbora, por exemplo, também pode deixar a pele amarela ou alaranjada (especialmente palmas de mãos e pés), mas não caracteriza icterícia. Tem a ver, na verdade, com hipercarotenemia, excesso do pigmento caroteno —encontrado nesses alimentos— no sangue.

Enquanto a icterícia requer investigação médica o mais rápido possível, ou em poucos dias, neste caso a alteração de cor some com a redução de consumo.

Cores frias: do verde ao azul

Manifestações esverdeadas pelo corpo são observadas em hematomas (geralmente cinco dias após a contusão e decorrentes de processos químicos locais), secreções, como catarro (o que aponta infecções respiratórias, como faringite, tuberculose e pneumonia) ou corrimentos na região íntima (sinal de tricomoníase, infecção parasitária transmitida por sexo desprotegido; vulvovaginite; vaginose) e unhas e dedos acometidos pela bactéria Pseudomonas aeruginosa.

Hematoma - iStock - iStock
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"Enquanto urina amarela intensa pode sugerir desidratação, laranja pode indicar a presença de rifampicina ou fenazopiridina, medicamentos, respectivamente, para tuberculose e analgesia urinária; vermelha uma grande ingestão de beterraba e corantes, infecção urinária e até cânceres de próstata e rim, urina verde está ligada ao uso de fármacos, como nitazoxanida (antiparasitário) ou até infecções bacterianas, como pseudomonas", aponta Erick Barreto Pordeus, médico do Hospital Esperança Recife, mestrando em medicina tropical e professor na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Questionado sobre alterações de cor azul (cianoses), Pordeus cita as quedas de oxigenação e de fluxo sanguíneo como as principais responsáveis. Podem ocorrer em razão de compressão, exposição contínua a um frio muito intenso e sem roupas apropriadas (afetando sobretudo as extremidades, como lábios e dedos de mãos e pés) e ainda por doenças pulmonares, como asma, infecções graves e insuficiência respiratória, além de problemas cardíacos e circulatórios.

Cores raras: roxo e prateado

Tons violáceos são comuns em situações de trauma, em que os vasos sanguíneos se rompem formando na pele uma nódoa temporária e arroxeada conhecida por equimose, e ausência de oxigênio. Fora isso, costumam estar associados a condições raras, como sarcoma de Kaposi (tipo de câncer de pele), vasculite e angeíte (inflamações vasculares), púrpura (erupção de manchas roxas) e dermatomiosite (inflamação que deixa a pele e o entorno dos olhos lilás).

"Uma coloração roxa de pele pode ainda refletir cardiopatias congênitas, isto é, problemas graves [na estrutura ou função] do coração presentes desde o parto e que atingem cerca de 1% das crianças nascidas", informa João Vicente da Silveira, cardiologista do Hospital Sírio-Libanês e médico assistente da Unidade de Hipertensão do InCor (Instituto do Coração) do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Ficar inteiramente roxo ou em tons prateado e acinzentado dos pés à cabeça, abrangendo mucosas e órgãos internos, também pode ser consequência de uma complicação atípica chamada argiria. Ela ocorre por acúmulo excessivo de sais de prata no organismo e que pode advir de inalação ou contato direto e prolongado com pó e compostos do elemento, efeito colateral de medicamentos, como minociclina, e uso impróprio de suplementos alimentares.