Estrabismo na infância: aprenda a perceber sinais e quando é preciso operar
O estrabismo consiste no desalinhamento dos eixos visuais, deixando os olhos voltados para dentro, para fora ou no sentido vertical. A disfunção acomete cerca de 2% a 4% das crianças e deixa sequelas se não receber os cuidados necessários.
"A ambliopia —diminuição da acuidade visual, em um ou os dois olhos— somente pode ser tratada nos primeiros anos de vida, até os 5 ou, no máximo, 8 anos", orienta Maria Isabel Lynch, médica oftalmologista, chefe do serviço de oftalmologia e professora do HC-UFPE (Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco).
Os pais necessitam ter atenção para identificar os sinais e a indicação cirúrgica dependerá do tipo existente, características e causas.
"O estrabismo pode ser o sinal inicial de alguma doença grave, seja ocular ou sistêmica. Por isso, na suspeita de que há algo estranho, se faz necessária uma avaliação com oftalmologista pediátrico", enfatiza Iluska Agra, especialista em oftalmologia pediátrica, estrabismo e catarata infantil no Hupes (Hospital Universitário Professor Edgar Santos) da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
Recomenda-se que a primeira consulta com o oftalmologista pediátrico seja nos primeiros 6 meses de vida para diagnóstico e tratamento precoces de doenças que levam à baixa visão.
Tipos e características
Em relação ao sentido do desvio, ele é chamado convergente ou esotropia quando o olho é voltado para dentro, divergente ou exotropia ao se apresentar virado para fora e vertical ou hipertropia, quando um está mais para cima ou mais para baixo em relação ao outro.
São comuns, ainda, combinações entre os tipos, como o olho voltado para cima e para o nariz ao mesmo tempo. É possível que o desvio seja alternado —ora o direito, ora o esquerdo— e, também, variação de alinhamento e desvio.
"O mais comum em crianças é a esotropia, principalmente, a congênita e a acomodativa, causada devido ao esforço de foco dos olhos ao tentar ver com nitidez. A convergente congênita manifesta-se nos primeiros 6 meses de vida e a acomodativa aparece na faixa etária de 2 a 5 anos" explica Iluska Agra.
No primeiro caso, a cirurgia é precoce, realizada nos primeiros 18 meses de vida, na tentativa de restaurar a visão em 3D e a de profundidade, a fim de desenvolver melhores condições sensoriais.
"Nos bebês, é comum o falso estrabismo que ocorre pela presença do epicanto —prega no canto interno dos olhos— ou por distância interpupilar muito pequena que dá a impressão de que os olhos estão próximos. Esse tipo de situação requer o encaminhamento ao oftalmologista, pois na consulta são detectados outros problemas como diferença de grau entre os dois olhos, alterações de transparência de meios, de fundo de olho e outros", alerta Keila Monteiro de Carvalho, médica oftalmologista pediátrica com especialização em estrabismo e reabilitação visual e professora titular de oftalmologia da FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Prevalência
Em 2012, foi publicado um estudo populacional, realizado no estado de São Paulo, no qual foram avaliados 10.900 indivíduos, entre os quais 1,46% tinham estrabismo, divididos em 46% convergentes, 38% divergentes e 15% verticais.
"Os números refletem a média geral. O número de cirurgias é variável, depende de fatores socioculturais e econômicos", informa Lynch. Segundo informações do DataSUS (departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil), no ano de 2019 foram realizadas 4.143 cirurgias de estrabismo no Brasil e as listas de espera no SUS são significativas.
Tratamentos
De modo geral, os tratamentos visam obter a melhor acuidade visual, o alinhamento ocular e a visão binocular, quando os olhos são usados em conjunto, e consistem em óculos, oclusão, cirurgia e, também, o uso de alguns fármacos, como toxina botulínica e colírios.
"Para a correção, a primeira conduta é a prescrição de óculos, que resolvem muitos casos. A seguir, após a avaliação e existindo diferença de visão entre os dois olhos é feita a recomendação do tampão para igualar a acuidade visual e a criança não desenvolver a ambliopia. Caso o desvio permaneça é realizada a operação", esclarece Carvalho.
Indicação cirúrgica
A intervenção não é estética e, sim, funcional. A médica do Hupes lista que o procedimento visa a melhora da visão binocular, do campo visual, da noção de localização espacial, principalmente em crianças com paralisia cerebral, e melhora de alterações psicossociais, como autoestima e depressão.
"É vital para o desenvolvimento de uma personalidade afirmativa e autoconfiante. O estrabismo é uma das causas mais frequentes de bullying e nada é mais cruel do que crescer marcado por um estrabismo", afirma a chefe do serviço de oftalmologia e professora do HC-UFPE.
O objetivo da cirurgia é a correção do alinhamento dos olhos ou do torcicolo —posição viciosa de cabeça— decorrente do problema ocular.
"A data depende de a criança conseguir boa alternância de fixação, o que indica visão igualada nos dois olhos. A partir de 7 meses de idade, nos casos de desvio convergente bilateral, pode ser realizada. Mas outros tipos, como o divergente, não devem ser operados antes de 4 anos de idade pois, dependem de maturação do sistema sensorial", elucida a professora de oftalmologia da Unicamp.
O procedimento é realizado nos músculos oculares responsáveis pelos movimentos do olhar, visando causar enfraquecimento ou encurtamento desses músculos de acordo com as características do desvio. "Quando a cirurgia é indicada para os dois olhos, ela é realizada simultaneamente. Porém, essa indicação depende das características do desvio ocular e algumas vezes é realizada em apenas uma das vistas", fala Agra.
As crianças que apresentam estrabismo devem ser monitoradas até os 6 anos, pois é importante manter a visão igualada nos dois olhos. Se um deles enxerga menos que o outro, o tampão é usado para corrigir a distorção antes do procedimento cirúrgico, que é realizado sob anestesia geral.
"A cirurgia não devolve a visão, apenas corrige o alinhamento dos olhos e o torcicolo de causa ocular" afirma Carvalho.
No adulto
No adulto, é mais frequente a diplopia, isto é, visão dupla que o faz enxergar objetos em dobro. "A indicação é cirúrgica independente da idade", ressalta Lynch.
O estrabismo pode ser adquirido ao longo da vida, causado por outras doenças, como diabetes e ocorrências neurológicas, por problemas oculares, por exemplo, hipermetropia em um grau elevado, e traumatismos na cabeça ocorridos em acidentes.
"A alegria e satisfação dos que recuperam o alinhamento dos olhos é indescritível", comenta a professora do HC-UFPE.
Referências: CBE (Centro Brasileiro de Estrabismo) e SBOP (Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica).
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