Adaptar-se aos altos e baixos do dia ajuda a entender emoções negativas
Saber se adaptar às situações que a vida traz é uma das chaves para a felicidade, mas muitas pessoas ainda têm dificuldade de aceitar quando algo não sai exatamente da forma como imaginavam. Muitas vezes, falta flexibilidade psicológica para aceitar os altos e baixos e o caminho mais óbvio é a frustração. Só que quanto mais flexível for a pessoa, menos dolorosos serão os períodos de grandes mudanças e crises que ela enfrentará.
"Muitas pessoas possuem a 'síndrome da Gabriela', recusando-se a se adaptar e a mudar seus padrões mentais e comportamentais, levando a letra da música 'eu nasci assim, eu cresci assim, vou morrer assim' literalmente. Mas a grande questão é que a vida exige de nós certa adaptabilidade, a vida não é completamente estável e previsível", aponta a terapeuta Mariana Maciel, especialista em psicologia positiva.
A flexibilidade psicológica, segundo a especialista, é uma postura contrária à rigidez mental, emocional e comportamental. "É a disposição e abertura interna para se adaptar, mudar e amadurecer diante das diferentes fases e situações adversas ou não da vida".
Neste sentido, ser flexível inclui, principalmente, saber ponderar, questionar-se, ter pensamento crítico e se observar diante das situações difíceis. "Quem desenvolve essa flexibilidade, consegue navegar bem, mesmo quando o mar está revolto, sem deixar o navio afundar", explica Maciel.
Para Ezequiel Gordon, psiquiatra do Hospital Nove de Julho, uma das maiores falhas do ser humano é acreditar na felicidade plena e não aceitar sentimentos que não sejam de pura alegria. "Se uma pessoa fosse feliz 24 horas por dia, ela não seria feliz, pois não teria o contraponto da não felicidade. Só sabemos o que é ser feliz pela noção que possuímos de saber o que é ser infeliz ou triste", diz.
Segundo ele, na vida, passamos por situações nas quais o meio onde estamos inseridos se mostra desfavorável e hostil, nos traumatizando. Às vezes, isso faz com que não demos a resposta imediata e adequada a essa agressão, algo que nos devolveria ao equilíbrio emocional. "Então anulamos alguns sentimentos como tristeza, sofrimento, raiva, culpa, tal como um alimento mal digerido. Isso nos transforma em reféns dos nossos males, incapazes de desbloquear essa energia", diz.
Uma vez que a flexibilidade psicológica é adquirida, fica mais fácil lidar com as emoções do dia a dia. "Flexibilidade emocional e resiliência andam de mãos dadas, ambas atuam como fator de proteção e enfrentamento diante das crises. Ou seja, ajudam a proteger emocionalmente as pessoas e fazem com que elas se tornem mais fortes e resistentes. Quando uma situação crítica surge interna ou externamente, as pessoas conseguem enfrentá-la de forma mais branda e com menos sequelas emocionais", explica Maciel.
Por que emoções precisam ser reconhecidas
O caminho para a flexibilidade psicológica passa pela necessidade de se reconhecer e validar as próprias emoções, mesmo as mais desagradáveis e difíceis, como ressalta a terapeuta. "Elas são inerentes à vida. Quanto mais gastamos energia psíquica em reprimir esses sentimentos considerados negativos, maiores eles se tornam dentro de nós. Validar, compreender, fazer algo sobre e deixar ir. Essa é a maior recomendação em relação às emoções desafiadoras".
Para Lyvia Maranhão, psicóloga do Hospital Moriah, a falta de capacidade de expressar os próprios sentimentos pode levar à supressão de emoções, colaborando com o surgimento de problemas que podem impactar a saúde mental da pessoa. "Alguns dos sinais mais habituais de supressão emocional são disfarçar ou evitar as emoções, evitar situações, lugares ou pessoas que criam uma emoção difícil de ser gerida, fingir que está tudo bem", diz. Contudo, ao suprimir as emoções, pode-se estar propiciando o aparecimento de outros problemas que levam a uma deterioração não só da saúde mental, mas também física, como estresse, ansiedade, depressão, pressão alta, risco de diabetes e as relações interpessoais facilmente podem ser comprometidas.
Ser feliz x estar feliz
Raiva, medo e ansiedade são necessários aos seres humanos. Por isso mesmo, a ideia de ser feliz 24 horas, muitas vezes comprada pelas redes sociais, dificulta o processo de flexibilidade psicológica. "A validação emocional é extremamente importante, porque ao aceitar e compreender nossos sentimentos é que podemos aprender a regulá-los. Sem validação, não há regulação emocional. E sem regulação emocional, a saúde mental corre diversos riscos, deixando-nos mais propensos ao desenvolvimento de transtornos mentais como depressão e ansiedade. É impossível estar feliz o tempo todo e essa não é uma meta saudável para se buscar", revela Maranhão.
No entanto, ela explica, cultivar cada vez mais momentos de felicidade e bem-estar ao longo da vida impacta positivamente a saúde mental das pessoas. "Quanto mais frequentes forem estes momentos, juntamente com lidar de forma saudável com os momentos difíceis, maior a sensação de 'ser feliz' uma pessoa pode ter".
Outro ponto que dificulta o processo de aceitar as emoções como são é o medo de parecer fraco, como explica Mariana Maciel. E aqui, as redes sociais, muitas vezes, são as maiores culpadas. "As redes sociais aumentaram muito a necessidade e a ânsia das pessoas de parecerem felizes e bem-sucedidas a todo momento e a todo custo. Muitas pessoas têm medo de falar sobre as situações difíceis que passam com medo do julgamento e de parecerem fracas, incompetentes e malsucedidas diante do público que as segue. A vulnerabilidade precisa ser vista como sinônimo de força, pois a vida é um pacote completo. Não é possível excluir as partes negativas. Todos nós vivenciamos dificuldades, crises, dores e quando mostramos isso sem medo e vergonha, demonstramos maturidade emocional".
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