Deltacron: variante é mais perigosa? Pode reinfectar? O que já sabemos
Embora a imunização no país siga acontecendo —cerca de 73% da população foi vacinada com a dose única ou com duas doses da vacina—, as variantes continuam a surgir. A da vez recebeu o nome de deltacron, pois combina características genéticas das conhecidas delta e ômicron da covid-19.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse na noite desta terça-feira (15) que os dois casos da deltacron ainda estão em investigação no Pará e no Amapá. Na manhã desta terça, entretanto, o ministro disse que havia dois casos da variante no país.
"Pessoal, esclarecendo: os dois casos de Deltacron que citei mais cedo ainda estão em investigação e foram notificados ao @minsaude pelos Estados. O sequenciamento total do vírus deve ser finalizado nos próximos dias pelo laboratório de referência nacional da Fiocruz", disse em postagem nas redes sociais.
Mas será que há motivos para preocupação? Essa cepa é mais perigosa? Isso muda alguma coisa no cenário atual de flexibilização? Veja o que já se sabe:
Onde surgiu a nova variante?
A deltacron, ao que tudo indica, surgiu na França, ainda em meados de janeiro. Agora, porém, já há relatos em vários países da Europa e nos Estados Unidos.
Os dados sobre a recombinação (junção de dois vírus) foram publicados na GISAID, base de dados internacional onde são depositados genomas de vírus, como os de variantes do Sars-CoV-2.
Por que ela recebeu esse nome?
Segundo os pesquisadores, ela é uma mistura da delta e ômicron, ou, em outras palavras, um vírus recombinante. Por isso a escolha do nome.
Essa variante é mais perigosa? Devo me preocupar?
Embora o recombinante seja considerado raro por grande parte dos especialistas, muitos acreditam que não há motivos para pânico, sobretudo, pelo avanço da vacinação. Portanto, caso você ainda não tenha tomado a segunda ou terceira dose da vacina, a hora é agora.
Mas vale dizer que essa cepa está circulando, pelo menos, desde janeiro e, aqui no Brasil, por exemplo, só foram detectados apenas dois casos. Isso significa que, talvez, ela não tenha capacidade de crescer exponencialmente.
Os cientistas, por sua vez, já têm se debruçado para estudar e entender melhor as manifestações da deltacron. Etienne Simon-Loriere, virologista do Institut Pasteur, em Paris, lembrou, em entrevista ao jornal "The New York Times", que a proteína spike é a parte mais importante do vírus quando se trata de invadir células, além do principal alvo dos anticorpos produzidos por meio de infecções e vacinas.
Portanto, as defesas que as pessoas adquiriram contra ômicron (por meio de infecções, vacinas ou ambos), por exemplo, devem funcionar bem contra o novo recombinante.
Entretanto, ainda não sabemos se ela pode causar um quadro mais grave após a infecção, ou se ela poderia escapar da imunidade conferida pela vacinação. Por isso, de novo: ainda é muito cedo para qualquer afirmação.
"A superfície dos vírus é supersemelhante a ômicron, então o corpo a reconhecerá tão bem quanto ela", disse Simon-Loriere. Contudo, Simon-Loriere e outros pesquisadores estão realizando experimentos para ver como o novo recombinante se comporta em placas de células. Esses experimentos, porém, não produzirão insights por várias semanas. "É tão recente que não temos nenhum resultado", disse Simon-Loriere.
A possível "chegada" da deltacron ao país muda alguma orientação de segurança?
O ministro Marcelo Queiroga avaliou a deltacron como uma variante de importância e que, como tal, requer monitoramento. "As variantes são classificadas como variantes de importância, variantes de preocupação, e as autoridades sanitárias estão aqui para, diante dessas situações, tranquilizar a população brasileira".
Para ele, a população deve tomar a dose de reforço e ficar em dia com a vacinação. Esta, por ora, é a principal medida de segurança. "As medidas são as mesmas, e, se eu tivesse, meu amigo e minha amiga que me ouve, que indicar uma medida, é a aplicação da dose de reforço. Aplicar a dose de reforço é importante", orientou o ministro.
Como os vírus se misturam?
Em entrevista à BBC News Brasil, o virologista Felipe Naveca, que integra a Rede de Genômica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explica que a recombinação de variantes não é algo raro ou inesperado.
"É possível que isso já tenha acontecido várias vezes, com outras linhagens. Mas, como no início as variantes do coronavírus não eram tão diferentes umas das outras, ficava mais difícil detectar esses eventos", avalia o especialista.
"Os vírus estão em constante evolução e o surgimento de novas versões não é necessariamente uma coisa ruim. Precisamos agora avaliar e entender o impacto que isso pode ter na pandemia", acrescenta.
Na prática, o contato com várias pessoas em diferentes locais, por exemplo, pode fazer com que a pessoa se infecte, simultaneamente, com duas versões do patógeno. Da mesma forma que as variantes podem infectar uma célula ao mesmo tempo.
O que diz a OMS?
Desde sua descoberta, na França, a OMS (Organização Mundial da Saúde) segue monitorando a nova cepa de perto. "Sabemos que eventos recombinantes podem ocorrer, em humanos ou animais, com múltiplas variantes circulantes de Sars-CoV-2. Precisamos esperar pelos experimentos para determinar as propriedades desse vírus. Importância do sequenciamento, análise e compartilhamento rápido de dados ao lidarmos com essa pandemia", disse no Twitter, Soumya Swaminathan, cientista-chefe da OMS.
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