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Como Consegui

Histórias de quem mudou hábitos em busca de mais saúde


Mãe de dois, ela acorda às 3h50 para driblar falta de tempo e correr na rua

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Bárbara Therrie

Colaboração para o VivaBem

17/03/2022 04h00Atualizada em 17/03/2022 08h37

Christiane Nicolau, 36, sempre gostou de fazer exercícios. Mas, com o nascimento dos dois filhos e as demandas em casa e no trabalho, ficou difícil achar um horário para praticar esportes. Por incentivo da irmã, a professora universitária de João Pessoa (PB) experimentou a corrida, modalidade que pode ser feita a qualquer hora e em qualquer lugar. A seguir, Christiane conta como consegue acordar de madrugada e ir treinar:

"Meu pai era jogador profissional de futebol e sempre usou o esporte para ensinar a mim e a minha irmã como ter disciplina, cumprir horários, manter a alimentação regrada etc.

Pratiquei vôlei dos 7 aos 17 anos e ganhei bolsa de estudos para jogar pelas escolas. Na adolescência, acordava 4h30 para ir para a academia com meus pais —faço musculação desde os 18. Sempre ouvia de meu pai e de meus técnicos que dormir tarde ou exagerar na comida, por exemplo, fariam meu desempenho cair. Aos 20, comecei a fazer ginástica olímpica para ganhar força, e balé clássico para ter mais equilíbrio.

Diminuí o exercício físico depois que meus dois filhos nasceram —a Ester, em 2015; e o Joaquim, em 2016. Com a demanda das crianças e do trabalho, minha maior dificuldade era conseguir conciliar os meus horários com os horários de funcionamento dos locais que ofereciam práticas esportivas.

Não parei com a musculação, pois sempre achei o treino de força importante, mas para mim ela é uma atividade complementar. Sentia falta de fazer um esporte de verdade, como jogar vôlei, mas esbarrava na questão do horário.

O começo na corrida

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Christiane com a irmã Ana Carolina, que apresentou a corrida à professora
Imagem: Arquivo pessoal

Minha irmã Ana Carolina corria e me chamou para treinarmos juntas. Ela foi peça-chave para me mostrar que a corrida era um esporte que dependia só de mim, que eu poderia fazer a qualquer hora e lugar.

Em 2019, comecei a procurar brechas na minha rotina para praticar corrida regularmente. O problema é que tinha compromissos e obrigações desde a hora que acordava até a hora que ia dormir.

Minha primeira tentativa foi correr no final da tarde, por volta das 17h, no horário do futebol e do balé dos meus filhos. Como sou eu que os levo, tentei me trocar na escola deles e correr ali por perto, mas não consegui. A segunda tentativa foi correr nesse mesmo horário, na esteira da academia, mas não me adaptei. Achei supermonótono, o ambiente não favorecia que a atividade fosse prazerosa. O jeito foi correr sempre que dava, mas sem regularidade.

Em 2021, contratei uma assessoria esportiva por indicação da minha irmã, e eles passaram a me enviar treinos semanalmente. Eu já acordava cedo, por volta de 5h. Então, comecei a me levantar antes, às 4h30, para treinar por meia quatro vezes por semana.

Saía de casa às 4h50 e ia de carro até a orla, onde corria das 5h10 às 5h40. Por volta das 6h eu já estava em casa, pois precisava acordar e trocar meus filhos, arrumar a lancheira deles e tomar banho e me trocar. Deixava as crianças na escola às 7h15 e chegava no trabalho às 7h50, para dar aula.

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Imagem: Arquivo pessoal

Correr em um lugar inspirador me motivava a acordar cedo. Amo ver o nascer do sol, sentir a brisa do mar, o vento no rosto, contemplar a água, respirar ar puro, sentir a chuva, dar bom dia para as pessoas mesmo sem saber o nome delas. Ter essa conectividade com o outro e com a natureza favorecia um ambiente agradável para eu praticar exercícios. A corrida me dava uma leveza e uma sensação de estar pronta para o dia.

Fiquei nessa rotina de acordar 4h30 por seis meses. Porém, conforme fui aumentando a distância e evoluindo no esporte, os 30 minutos de treino tornaram-se insuficientes. Passei a acordar às 4h, mas terminava o treino no limite —até que passei a acordar 3h50.

Às táticas para acordar cedo

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Imagem: Arquivo pessoal

Muitas pessoas perguntam como eu consigo me levantar tão cedo para treinar. Além de fazer um esporte que gosto e me dá prazer, tenho algumas estratégias para conseguir acordar, que começam no dia anterior.

Antes de dormir, já deixo a roupa, o tênis e a meia separados em cima e do lado do sofá; a garrafa de água já cheia na geladeira; a bolsa arrumada com viseira, óculos, máscara e carteira. Também 'faço' meu lanche pré-treino: deixo uma banana e uma cápsula de cafeína no balcão da cozinha. Separar tudo antes é importante para não perder tempo nem fazer barulho procurando coisas no armário às 3h50 da madrugada, quando toda a família está dormindo.

Além disso, tenho dois despertadores. Um relógio que vibra no pulso e o relógio do celular, que eu deixo propositalmente no banheiro, para me obrigar a levantar, desligar e já ficar por lá para me arrumar. Também durmo com a janela e a cortina abertas, para que a ventilação natural e a claridade estimulem naturalmente o despertar (sim, aqui em João Pessoa o dia começa a clarear bem cedo).

Outra coisa importante é manter a rotina de sono para conseguir dormir bem, algo essencial para ter mais disposição para acordar cedo.

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Imagem: Arquivo pessoal

Por volta de 19h, dou banho, janta e leio para os meus filhos. Às 20h eles já estão na cama, dormindo. Nesse horário, ajeito as coisas em casa e começo a me preparar para dormir também. Dou uma última olhada no celular para ver as mensagens e a minha agenda do dia seguinte. Tento parar de mexer no celular por volta de meia hora antes de dormir e não assisto à TV.

Tomo um banho e vou para a cama ler. A leitura ajuda a desacelerar a mente. Em vez de ficar pensando nas várias coisas que tenho para fazer no dia seguinte, eu me concentro na leitura, sinto que meu corpo e minha mente vão relaxando, o sono vai chegando. Fecho o livro e vou dormir por volta de 21h30.

Nos dias que fico muito cansada e já imagino que vai ser difícil acordar cedo na madrugada seguinte, tomo um chá de camomila morno e programo várias despertadores: um às 3h50, outro às 3h55 e por aí vai, meu limite é até 4h30, porque sei que, acordando nesse horário, mesmo que eu não consiga cumprir o treino da planilha, ao menos vou garantir 30 minutos de corrida na orla —ou corro nas ruas do bairro, assim economizo o tempo que perderia indo de carro até a praia.

Outra coisa que me ajuda a ter disciplina é visualizar os horários. Funciono muito bem com agenda de papel, onde anoto toda a programação da minha vida. No fim de semana, já visualizo a semana inteira e começo agendando os compromissos de rotina: aulas, esporte das crianças, meus treinos, orientações de TCC etc. Depois, agendo os esporádicos, como reuniões, consultas e, por último, faço listinhas do que devo realizar nessas tarefas.

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Imagem: Arquivo pessoal

Manter a disciplina é o compromisso que tenho de registrar no aplicativo como foi o meu treino do dia, para o professor poder acompanhar meu desempenho, também me impulsiona. Tem ainda a parte espiritual. Cresci na igreja e aprendi que nossa palavra deve ter valor e que devemos honrar nossos compromissos. Nem sempre tudo sai como o planejado, mas a oração me ajuda a manter a cabeça no lugar e a vencer uma tarefa por vez.

Pensar nos benefícios que o esporte traz para a saúde física e mental também me motiva a acordar cedo. Correr me ajuda no raciocínio, no rendimento no trabalho, aumenta minha capacidade de concentração e contribui para a vida social, porque converso com bastante gente, faço amizades.

Tem ainda o lado de me olhar no espelho e pensar sobre quem eu quero ser, porque só vou ser diferente amanhã se eu mudar hoje.

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Imagem: Arquivo pessoal

Por mais matutina que eu seja, não é fácil acordar cedo --e acho que nunca será. Mas a gente tem que batalhar pelos nossos objetivos. Nem todos os dias acordamos temos vontade de ir trabalhar, mas encaramos isso como compromisso e fazemos, pois precisa ser feito. Com o treino é a mesma lógica

Para quem, assim como eu, sofre com falta de tempo para fazer exercícios e treinar bem cedinho pode ser a única solução, minhas dicas são: defina o horário e cumpra, faça chuva ou faça sol, estando disposto ou não.

Às vezes, acordo e está chovendo. O mais fácil para mim seria olhar a chuva e pensar: ' Hoje não vai dar para ir, vou voltar a dormir'. Mas não, não é pelo que eu sinto, mas pela obediência e disciplina, pelo compromisso que criei comigo mesma.

Sendo assim, repito o incentivo a você: na hora que o despertador tocar, não aperte a soneca, levante-se e apenas vá!"