O que é um bom pedido de desculpas e quais os seus efeitos?
Seja por ter acordado de mau humor, estar com problemas pessoais ou ter tomado alguma decisão impulsiva, não importa o motivo, pessoas erram umas com as outras e, na maioria das vezes, isso é normal, faz parte da natureza humana. Porém, muitos, por não saberem como pedir desculpas, ou com receio da reação alheia, não se mobilizam e isso pode gerar problemas emocionais para ambas as partes.
A falta de um pedido de desculpas pode levar a sentimentos de culpa, raiva, tristeza, além de demissões, fofocas e desentendimentos familiares. A questão é que o problemas, às vezes, nem é a falta das desculpas, e sim um pedido feito da boca para fora. Claro, não existe uma receita pronta, é preciso considerar contextos, personalidades e até eventuais patologias envolvidas, mas não há nada como uma boa retratação para resolver conflitos.
Um pedido genuíno de desculpas, inclusive, é um bom sinal para quem o consegue fazer. "Pode-se dizer que o ato de se desculpar sinaliza o desenvolvimento de uma habilidade muito importante: a autorresponsabilidade, ou seja, entender como as próprias atitudes interferem diretamente no próximo", diz Elisa Teixeira, psicóloga líder do Hospital Português, de Salvador (BA). Segundo ela, quem se desculpa também demonstra inteligência emocional, um sinal de boa saúde mental e emocional. Por outro lado, desculpar-se demais denota algum tipo de problema.
Como se desculpar com alguém
Luiz Scocca, psiquiatra pelo HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), aponta algumas recomendações que funcionam bem em uma iniciativa de se redimir:
- Ser breve e ir direto ao assunto (para não parecer que está se inventando desculpas);
- Não apontar os defeitos dos outros ou tentar os responsabilizar pelo ocorrido;
- Não forçar contato físico e contra vontade, como beijos e abraços, pois podem soar como falsos.
"Às vezes, não falar do que ocorreu é uma boa. Mas se o desconforto gerado foi grande, será preciso de uma conversa sincera, o que inclui reconhecer e explicar o erro grave cometido, para haver um pedido de desculpas completo. Quando acontece uma briga, é melhor ser o primeiro a admitir. Um bom pedido de desculpas tem muito mais a ver com o eu, do que com o outro. Você precisa repensar as ações pelas quais está se justificando", continua o psiquiatra.
Uma vez concluída a retratação, fique na sua, quieto. Se a outra parte precisar de um tempo, afastar-se para refletir e perdoar você, esse distanciamento e silêncio precisam ser respeitados. Mas durante esse processo é importante não demonstrar —sobretudo explicitamente— frieza, impaciência, isenção de remorso e até despreocupação com a atitude que for tomada a seguir, pois empatia tem a ver também com ser humilde e querer amenizar a dor de alguém.
Problema do perdão em excesso
Erros sucessivos seguidos pelas mesmas desculpas passam uma impressão que não costuma ser das melhores. Pode sugerir —e de fato ser— que se sabe o que esperar e por isso banaliza o perdão, ou se é imaturo por desconhecer as consequências, e até mesmo um transtorno de personalidade. Já se desculpar por tudo, o tempo inteiro e sem necessidade, pode mostrar que por trás desse comportamento há uma baixa autoestima, que a pessoa interpreta tudo o que faz como errado.
Eduardo Perin, psiquiatra e especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo HC-FMUSP, aponta outra hipótese para as desculpas excessivas: o sujeito pode estar tentando se modificar de alguma forma. "Ele pode estar em um processo de mudança interna e sabemos que isso não acontece de uma hora para outra, gera alguns deslizes. Há risco de isso se estender até a pessoa evoluir e finalmente conseguir sair dessa situação viciosa", diz.
Independentemente disso, não é para se esperar ou criar expectativas de que, do outro lado, esses argumentos sejam tolerados e aceitos. Qualquer um que se sinta ofendido, prejudicado e receba pedidos constantes de desculpas —mas que na prática não surtem nenhum resultado positivo— tem o direito de cortar relações. Sabendo disso, siga as recomendações apontadas, observe-se melhor, ouça mais os outros e, com prejuízos, recorra a profissionais de saúde mental.
Efeitos são muito variáveis
O principal bem que se recebe ao se desculpar por livre iniciativa é um mix de alívio, prazer e bem-estar, ainda mais quando o pedido é aceito. Entretanto, por obrigação, pode causar vergonha, sentimento de humilhação, raiva ou pura indiferença. Por isso, cobrar por uma retratação também não faz sentido, pois não é espontânea, genuína e não promove arrependimento nem demonstra mudança, compreensão e preocupação reais.
Há quem ainda se desculpe com o coração, mas continue com o peso da culpa, por falta de praticar o perdão a si mesmo —que, de novo, requer suporte para ser desenvolvido— e se reconhecer como falível. Tem a ver ainda com mecanismos internos de defesa e que podem ser bastante rígidos, parecendo que a desculpa não foi suficiente, e essa impressão pode ser compartilhada, o outro pode se demonstrar irredutível a perdoar por um bloqueio e não enxergar sinceridade.
"Parece que, de certa forma, a desculpa é irônica ou falsa. Então, deve-se não insistir, porque não só não resolve, como pode piorar as coisas. Se perceber que não existe possibilidade de resolutividade e receptividade com um pedido de desculpas ou tentativa de sanar o desentendimento, encerre o assunto e só tente novamente quando tiver abertura", finaliza Anderson Weiber, professor de pós-graduação em psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas Ipemed-Afya, na Bahia.
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