Por que em algumas pessoas a cabeça não é redonda, mas achatada?
Quem usa o cabelo aparado ou é careca percebe mais facilmente o formato da própria cabeça. Mas se passar as mãos também é possível. Alguns vão notar que ela é bem redonda e outros nem tanto. E aí a interrogação. Só que o crânio humano não é exatamente idêntico em todas as pessoas. De maneira geral, é ovoide, ou seja, lembra um ovo, principalmente quando visto de lado ou de cima, e a parte de trás costuma ser mais larga e a da frente mais estreita.
Se percebeu que o seu não é exatamente assim, o motivo pode remontar ao passado, mais precisamente à época em que você era bebê e tinha uma cabeça "molinha". O crânio, embora resistente, é formado por placas ósseas separadas entre si por suturas e fontanelas. "Junções" que nessa fase são móveis, não totalmente fechadas, para a cabeça sair no parto natural e crescer, e sujeitas a estímulos de força e gravidade, que lenta e continuamente a moldam.
Quando a 'cachola' não é oval
Crânio chato após o nascimento pode ter relação com ficar acomodado em uma única posição, o que atualmente é a causa mais frequente, principalmente em relação às deformidades posteriores. Ocorre, por exemplo, quando os cuidadores colocam e deixam a criança deitada no berço, bebê conforto ou carrinho praticamente em tempo integral, mesmo acordada.
"A incidência de deformidade posicional aumentou depois de 1990, devido à recomendação da manutenção do bebê em posição supina, ou seja, de barriga para cima, durante o sono, para evitar a síndrome de morte súbita da infância", explica Ygor Peçanha Alexim, neurocirurgião do ICNE-SP (Instituto de Ciências Neurológicas de São Paulo).
Mas cabeça fora do formato padrão também pode ter relação com:
- traços genéticos familiares;
- prematuridade;
- síndromes que cursam com más-formações pelo corpo;
- pressão arterial durante o parto ou mesmo intrauterina;
- insuficiência de líquido amniótico para amortecer o feto ou de espaço, se a gestação for de gêmeos;
- torcicolo congênito (posição lateralizada da cabeça para esquerda/direita);
- hipotonia (fraqueza muscular);
- feto em posição pélvica (sentado ao nascer).
"Ou ainda craniossinostose ou cranioestenose, uma doença congênita rara, adquirida antes do nascimento, que causa o fechamento precoce das linhas de sutura, que unificam as placas ósseas do crânio", aponta Júlio Barbosa Pereira, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e neurocirurgião com especialização pela UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles). Ele acrescenta que as assimetrias craniofaciais ainda são classificadas por aparência.
Achatada do lado, na frente, atrás...
Na plagiocefalia, há um achatamento em uma das laterais traseiras do crânio, podendo levar o bebê a ter muita dificuldade em deitar-se para o lado oposto. As orelhas também desalinham em posição e rosto e nariz apresentam desvios.
Já braquicefalia é quando o achatamento é na parte total do fundo do crânio, que fica com a nuca plana e, em alguns casos, o topo pontudo. A impressão é de que vista de perfil a cabeça ficou menos longa e de frente mais alargada.
A braquicefalia é o contrário da escafocefalia, em que o achatamento atinge as laterais, assim a cabeça fica alongada para cima, para frente e para trás e estreita. Em se tratando da testa, se adquirir uma deformidade triangular e proeminente, configura-se trigonocefalia.
Mas vale ressaltar que quando o achatamento, independentemente do tipo, tem a ver com a postura em que o bebê é mantido após nascer e é leve, não configura doença progressiva grave.
Como é feito o diagnóstico?
Quando a assimetria é acentuada e observada desde o nascimento, o diagnóstico exige ser realizado logo para evitar complicações, como risco de hipertensão intracraniana, atraso cognitivo, alterações visuais, auditivas e de mordida e, pelo aspecto, de ordem psicoemocional no futuro. Desconfiados, os pais devem se manter em alerta, sobretudo nos primeiros 60 dias após o nascimento do bebê, e não deixar de lado o acompanhamento com pediatra.
Esse especialista, eventualmente, será responsável pelo encaminhamento do quadro ao neurocirurgião, que cuidará de tirar as medidas completas do crânio e pedir seu escaneamento tridimensional. Assim, ele obtém detalhadamente informações sobre as estruturas ósseas, para chegar a um diagnóstico seguro e iniciar o tratamento. Os exames mais pedidos no processo são: radiografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética.
"O mais importante não é obter uma cabeça milimetricamente simétrica, redondinha, mas tratar uma alteração grave no crânio. Do contrário, nada deve ser realizado. Todos somos diferentes e a questão aqui é ser saudável", afirma Nelson Douglas Ejzenbaum, pediatra e membro da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e AAP (Academia Americana de Pediatria).
Tratamentos e mudança de hábitos
Cirurgia de correção e remodelamento é recomendável para casos congênitos sérios, sem possibilidade de o crânio se corrigir naturalmente ou por meio de tratamentos conservadores. Por exemplo, se constatado fechamento precoce das divisões ósseas devido craniossinostose.
A duração do procedimento leva algumas horas e o pós-operatório costuma ser bem tranquilo. Se envolver torcicolo congênito, provavelmente a criança ainda necessitará de fisioterapia.
Outra forma de intervir nas deformidades, no caso as mais brandas e posicionais, é com a utilização de capacetes ortopédicos. A utilização dessas órteses cranianas deve ocorrer quando a deformidade não se corrige com reposicionamento da criança até o 5º ou 6º mês de vida.
Alexim considera esse método seguro e eficaz, quando bem indicado. Do contrário, Ejzenbaum afirma que se transforma em uma experiência muito incômoda e por isso pode não funcionar.
Por fim, para que os pequenos não tenham achatamentos cranianos depois de chegarem ao mundo, lembre-se dos apoios viciados. Em não deixar um só lado da cabeça constantemente pressionado, para que seu crescimento não estagne, enquanto o resto do crânio evolui, mas é importante dormir com a barriguinha para cima. Agora, acordada, a criança precisa mudar de posição, o que inclui ao ser amamentada no colo e ficar de bruços e sentada com supervisão.
*Com reportagem de março de 2022
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