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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Não há fórmula mágica, mas estratégias podem fazer relacionamento durar

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Imagem: iStock

Janaína Silva

Colaboração para o VivaBem

31/03/2022 04h00

Entre os excessivos clichês que envolvem os relacionamentos afetivos, é inevitável citar o que diz que não há fórmula mágica ou receita para mantê-los. Afinal, cada relação é única, são duas —ou mais— pessoas com suas histórias, vivências e singularidades.

"Sempre falo que a relação é a terceira pessoa nessa construção afetiva e amorosa e é preciso esforço e entrega", diz Apoenna Noronha, psicóloga clínica hospitalar sanitarista do Hupes (Hospital Universitário Professor Edgard Santos) da UFBA/ EBserh (Universidade Federal da Bahia/ Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).

E não está sendo fácil manter as relações. Os anos de pandemia foram intensos para muitos casais, fazendo aumentar o número de divórcios e da busca por terapia em conjunto. Além disso, há uma discussão em torno da efemeridade das relações. Talvez por causa dos aplicativos de relacionamento ou por discussões sobre a monogamia, o prazer momentâneo virou foco e a falta de vínculos ganhou espaço.

No caso de quem quer manter o romance, buscar auxílio terapêutico é crucial, mas é possível estabelecer estratégias a fim de resolver conflitos, intensificar o elo e a aposta na parceria. Confira:

1. Equilíbrio: sexualidade, afeto e um projeto em conjunto

"O tripé sexualidade, afeto e um projeto comum costuma funcionar bem. Quando fortalecido, dá sustentação e longevidade", afirma Janete Teixeira Dias, psicóloga e professora supervisora de psicoterapia de grupos, casais e famílias na Unipaulistana (Centro Universitário Paulistano).

A sexualidade, segundo ela, merece ser um ponto de atenção, suprindo o casal com intimidade, harmonia, cumplicidade, apego e boas energias.

Já o aspecto afetivo traz o bem-estar, o sentimento amoroso, a sensação de admiração, respeito, confiança, entrega, vínculo e fortalecimento. "É tudo o que o amor é capaz de proporcionar em um relacionamento."

O plano em comum é um objetivo a ser alcançado com significado relevante. "É um motivo para somarem esforços e se desenvolverem como pessoas, enquanto buscam seus sonhos, podendo ser casar, ter filhos, morar em algum lugar específico, conquistar bens materiais, desenvolver-se profissionalmente, um benefício de saúde, atuar em algo no âmbito social, filantrópico, religioso, entre outros", lista.

casal em crise sexo cama - nd3000/Getty Images/iStockphoto - nd3000/Getty Images/iStockphoto
A reflexão sobre a aposta que é feita quando se assume um relacionamento necessita sempre ser feita
Imagem: nd3000/Getty Images/iStockphoto

2. Invista no projeto amoroso

"Dedique tempo e atenção [ao parceiro]; eles são investimentos preciosos que resultam em longevidade para a relação", aconselha Dias. Reservar com regularidade um tempo para ouvir sobre as atividades e interesses e procurar contribuir de alguma forma para que a outra pessoa sinta o real interesse e envolvimento. "Estar presente na verdadeira expressão da palavra, mesmo quando estiver distante."

A ausência de intimidade, a inexistência de propósitos comuns, a falta de tempo, de assunto para conversar e os problemas financeiros provocam um natural distanciamento, sem contar a infidelidade.

3. Reflita sempre se vale a pena e alinhe suas expectativas

Para a psicóloga clínica, psicanalista, membro da ANPSINEP [Articulação Nacional de Psicólogas(os) e Pesquisadoras(es) Negras(os)] em Recife (PE) e professora universitária, Alyne Silva Macedo, a reflexão sobre a aposta que é feita quando se assume um relacionamento necessita sempre ser feita. "É uma construção constante que nunca se satisfaz, pois está à mercê da fantasia e das projeções de cada um. Alinhar as expectativas e revisar os planos em conjunto devem fazer parte da rotina."

Afinal, durante muito tempo, as relações se estabeleceram para satisfação do homem, colocando a mulher em perspectiva de submissão. A sociedade atual está revendo muito os padrões e estabelecendo novas dinâmicas. Assim, vale ter ciência que nem sempre o desejo individual vai prevalecer na relação, mas haverá momentos que entrará em cena.

Da mesma forma, as questões relativas a filhos são aspectos que necessitam de análises, conversas e ajustes, sem esquecer dos motivos que levaram à união e, que junto à construção da identidade do casal, trazem felicidade e satisfação.

4. Apenas a paixão não se sustenta

É natural os casais sentirem menos as famosas borbulhas e intensidade do desejo sexual com o passar do tempo. Muitos precisam compreender que faz parte do processo.

De acordo com Noronha, o afeto se torna mais profundo e há uma sensação de calmaria e paz que muitos confundem com marasmo ou esfriamento. Clareza dos sentimentos e das emoções compartilhadas é fundamental para sustentar a vida amorosa.

5. Não se compare com outros casais, principalmente com o que é exibido nas redes sociais

Fabiana Scremin, terapeuta cognitivo-comportamental, comenta que existe muito imediatismo e o desejo de ter um relacionamento impecável como o que é visto nas redes socias, com viagens, festas e uma vida perfeita. "Só que isso tudo é irreal, o dia a dia é diferente e demanda envolvimento, empatia e muita compreensão", diz.

casal fone de ouvido - martin-dm/Getty Images - martin-dm/Getty Images
Quando o entrosamento é bom, é normal um certo distanciamento do grupo de amigos, porém é importante reservar um tempo para si
Imagem: martin-dm/Getty Images

6. Desenvolva a habilidade de lidar com os problemas

Escolha a melhor hora para dialogar. Não é apropriado e nem proveitoso tratar assuntos difíceis quando se está sob fortes emoções: raiva, ciúmes, tristeza e euforia, observa Dias.

O aconselhado é esperar um momento mais tranquilo para convidar a refletir sobre a situação vivida e os aprendizados, propondo novas atitudes e incentivando o compromisso de mudança. "Prestar atenção no tom de voz e nas imposições das vontades são cuidados a serem tomados nesses momentos. Conversar sobre um determinado aspecto ajuda a evitar futuros atritos, desgastes e uma explosão devido ao acúmulo de situações", sugere Scremin.

7. Procure ajuda antes das crises

A terapia de casal é solução para avançar aspectos da relação: enfrentar um luto relativo a perdas diversas, uma decisão conflitante, situações de traição, dificuldades com a sexualidade, necessidade de melhorar a comunicação entre os pares, problemas com os familiares, por exemplo.

Muitas faculdades disponibilizam o serviço gratuitamente, realizado pelos concluintes do curso de psicologia, sob supervisão. É uma forma de tornar acessível o serviço à população.

8. Espaço para as individualidades

Quando o entrosamento é bom, é normal que aconteça um certo distanciamento do grupo de amigos, porém é importante reservar momentos para suas próprias atividades e para não viver a vida do outro ou apenas a relação. Noronha explica que ter os próprios momentos de lazer e de prazer garante mais satisfação.

"As diferenças são saudáveis quando há respeito, cumplicidade e cooperação. Não há necessidade de ser semelhante em tudo e faz parte aprender com as singularidades e diferenças", enfatiza Dias.

9. Exercite o autoconhecimento

Enquanto na terapia de casal são discutidos assuntos em comum, entender os sentimentos e emoções individuais colabora em todos os outros setores da vida, inclusive na afetiva. Compreendem-se os próprios limites, tolerâncias e passa-se a encarar os acontecimentos de uma forma melhor.

Fontes: Alyne Silva Macedo, psicóloga comportamental, psicanalista, membro da ANPSINEP [Articulação Nacional de Psicólogas(os) Negras(os) e Pesquisadoras(es)], em Recife (PE), e professora na Unibra (Centro Universitário Brasileiro); Apoenna Noronha, psicóloga clínica hospitalar sanitarista do Hupes (Hospital Universitário Professor Edgard Santos) da UFBA/ EBserh (Universidade Federal da Bahia/ Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); Fabiana Scremin, historiadora e terapeuta cognitivo-comportamental; Janete Teixeira Dias, psicóloga, psicodramatista, psicoterapeuta e professora supervisora de psicoterapia de grupos, casais e famílias na Unipaulistana (Centro Universitário Paulistano).