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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


Dependente químico e idoso: o que muda em relação a efeitos e tratamentos?

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Imagem: iStock

Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

01/04/2022 04h00

Isolamento, conflitos familiares, piora da saúde, esses são alguns dos problemas decorrentes de uma dependência química, que no idoso pode ser potencializada. Sob a condição de não ter seu sobrenome e imagem revelados, Regiane, 73, conta que enfrentou tudo isso, após sua relação preexistente com o álcool se intensificar em decorrência da morte de seu marido, há 10 anos. A partir daí, diz que, "no fundo do poço", passou a beber diariamente.

"Pacientes em depressão, ou com algum tipo de demência, distúrbios de comportamento, podem eventualmente aumentar o consumo de álcool, drogas, cigarro ou substâncias diversas. E as doenças psiquiátricas oferecem o risco de exacerbamento de alguns vícios", aponta Natan Chehter, geriatra pela SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), continuando que idosos sem suporte social, abandonados ou sozinhos encontram-se muito mais vulneráveis.

Segundo a idosa, se momentaneamente seu sofrimento psicológico era aliviado por garrafas e garrafas de cerveja, uísque e cachaça, por outro lado, intensificaram os prejuízos. Seu peso aumentou muito (dificultando mobilidade, equilíbrio e controle do diabetes), assim como as brigas com parentes, amigos e vizinhos (em detrimento de constante embriaguez), além de ter adquirido hipertensão e sofrido um mini AVC, que cursou com alterações de fala e memória.

Relação entre idade e efeitos

Bebida alcoólica; garrafas; bar - iStock - iStock
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Com o envelhecimento, o organismo passa por diversas transformações, que inclusive podem alterar e aumentar a duração e ação de substâncias químicas dependentes. O metabolismo fica mais lento, assim como o funcionamento gastrointestinal, de rins e fígado; perde-se massa magra e há aumentos de taxa de alcoolemia (concentração passageira de álcool no sangue) para uma mesma quantidade de álcool, sensibilidade a ressacas e frequência de distúrbios somáticos.

Isso também intensifica os danos do tabagismo, que agrava osteoporose e leva a DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica). "70% das pessoas que morrem anualmente de doenças relacionadas ao cigarro (câncer, cardiopatias, diabetes) têm mais de 60 anos, sendo a prevalência média mundial de 40% homens e 12% mulheres", informa Luís Henrique Braga Gomes, médico pela EBMSP (Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública) e professor na Ipemed-Afya.

Já drogas, como cocaína, crack, alcaloides (compostos extraídos de plantas e cujos efeitos farmacológicos são potentes), no idoso aumentam os riscos de complicações cardiovasculares e intoxicações graves e letais.

Prescritos para tratar ansiedade, transtornos, convulsões, os benzodiazepínicos (diazepam, alprazolam, midazolam), sofrem alterações no idoso, por isso se usados indiscriminadamente causam efeitos colaterais cognitivos e facilitam quedas e fraturas.

Entenda abordagem no idoso

cigarro, fumar, idoso fumando, fumante - Thinkstock - Thinkstock
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Regiane decidiu parar de beber depois que se viu numa cadeira de rodas e ouviu do médico que se não buscasse logo tratamento, poderia morrer ou até vegetar. Assim, com a ajuda de um primo, pois sua família direta acabou se distanciando, buscou um psiquiatra e um geriatra, começou a fazer psicoterapia e acompanhamento clínico contínuo para controlar suas doenças preexistentes e tratar sua dependência. Nesse processo, ainda ingressou num grupo de apoio.

Ouvir e compartilhar experiências, inclusive sobre recaídas, ajuda o dependente a se sentir acolhido, mais motivado, vigilante e consciente da importância de mudar de comportamento. Entre os grupos de apoio mais conhecidos estão AA (Alcoólicos Anônimos) e NA (Narcóticos Anônimos), mas existem outros, como JA (Jogadores Anônimos), para pessoas com problemas com jogos, e Al-Anon e Nar-Anon, que dão suporte para familiares de dependentes químicos.

"A dependência em jogos é tão perigosa e prejudicial como qualquer outra dependência, pois os mecanismos químico e, consequentemente, de comportamento e emoções que a pessoa sofre são os mesmos. Então, tanto o paciente quanto sua família precisam de ajuda psicológica e médica", informa Harif Bakri, psiquiatra do Hospital Igesp, em São Paulo, acrescentando que a família não deve agir sozinha, até porque há abstinências e que requerem monitoramento.

Quando exige internação

Velho triste, idoso triste - iStock - iStock
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Livre-arbítrio é um direito de todos, por isso o quer que seja feito por um idoso dependente, mas lúcido, deve ser conversado com ele. É o que sempre buscou fazer Alex, sobrinho de Nelson, 78. Sob as mesmas condições de Regiane, de não ter a identificação dos dois revelada, Alex conta que para o tio (sem filhos e com histórico de alcoolismo e dependência em drogas) seguir tratamentos, sempre foram necessários muitos incentivos e negociações.

Porém, nos últimos anos, as coisas saíram do controle. Nelson provocou um acidente de trânsito por não estar sóbrio, Alex tentou, dentro de suas possibilidades, manter o tio "limpo", mas o resultado foi que o idoso evoluiu para um quadro de alteração mental com tremores, arritmia e alucinações (delirium tremens), não aceitou receber mais nenhum cuidado, depois foi hospitalizado com cirrose e, por fim, a Justiça, determinou sua internação compulsória.

"Para justificar uma internação desse tipo são necessárias as mesmas regras que valem para os jovens, tem que ter aval, e com uma condição de saúde pior, um agravamento, exige-se uma instituição que dê conta de absorver os cuidados básicos que essa pessoa precisa", explica Henrique Bottura, psiquiatra e diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista, dizendo ainda que a internação pode ser feita em hospitais gerais ou clínicas de reabilitação especializadas, visando bons resultados na recuperação física e mental do paciente e sua reinserção social.