Livros, filmes e mais: como o cérebro responde a estímulos eróticos
Resumo da notícia
- Os estímulos eróticos agem como um gatilho que estimulam as modificações involuntárias que ocorrem no corpo e geram prazer;
- Nesse sentido, livros, filmes ou música, auxiliam o indivíduo a entrar em um estado de interesse e excitação imediato;
- Quando investimos em um estímulo sexual, uma série de substâncias são liberadas, entre elas, a dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer;
- Entre os principais benefícios do uso de estímulos sexuais estão a possibilidade de se conhecer melhor e apimentar a relação;
Assistir a um filme, ler um livro erótico ou até mesmo ouvir uma música pode ser muito mais do que um mero passatempo. Especialistas garantem que essas são boas opções para extravasar, estimular a imaginação, despertar desejos, se divertir, relaxar e fazer coisas que não faríamos sem um bom impulso.
Tudo isso é possível graças à comunicação entre o cérebro e o corpo. "Quando a pessoa assiste a uma cena erótica, o cérebro libera um impulso elétrico, geralmente vindo da área visual, para uma área específica da nossa coluna espinhal (áreas conhecidas como S2, S3 e S4). Esta, por sua vez, envia outro sinal para a região pubiana, onde nós temos muitas terminações nervosas, no caso do homem, no pênis, e no da mulher, no interior da vagina", explica o doutor em psicologia cognitiva e neurociência pela Universidade do Texas (EUA) André Souza.
O especialista diz que, fisiologicamente, nós temos basicamente dois tipos de sistema nervoso: o simpático, que controla nossas respostas automáticas em situações de perigo ou estresse, e o parassimpático, responsável por regular as funções corporais das quais não temos consciência. "Por exemplo, agora o seu coração está batendo, e o que faz ele bater é esse sistema parassimpático, independente de você querer ou não", comenta Souza. "Esse mesmo sistema controla o suor, calafrios, tudo aquilo que não podemos controlar conscientemente", acrescenta.
O sistema parassimpático também é responsável por controlar a excitação sexual. Então, sim, há motivos fisiológicos que explicam por que ficamos excitados quando somos estimulados de forma cognitiva.
Quando nos deparamos com algo erótico (e que gostamos), o SNC (sistema nervoso central) estimula o desejo, a nossa memória (um registro anterior que foi positivo) e, consequentemente, a parte muscular e motora do nosso corpo.
"É por isso, inclusive, que algumas pessoas se sentem excitadas com o toque, outras com um cheiro, lembranças, ou uma voz. Porque qualquer aspecto da memória que ligue a um fator sexual vai fazer com que esse sistema parassimpático seja ativado", diz Souza.
Carmita Abdo, professora da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade da USP) e membro da comissão nacional especializada em sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) destaca também que neurotransmissores relacionados ao prazer, como a dopamina, entram na circulação sanguínea durante uma excitação de forma mais concentrada e intensa, o que desencadeia mais um gatilho para o ato.
Um dos neurotransmissores, a ACH (acetilcolina), também vai promover mudanças fisiológicas na região. Ela viaja até os vasos sanguíneos da região íntima e lá promove sua dilatação. "Esse neurotransmissor entra nas células dos vasos e diz: 'Solta aqui uma substância para relaxar a região em volta desse vaso sanguíneo'. Isso faz com que mais sangue entre no vaso sanguíneo, aumentando o volume da região", descreve Souza, explicando que depois o sistema parassimpático é desligado e surge a vez do simpático, responsável pelo orgasmo.
Quais os benefícios?
Estímulos sexuais, além do prazer momentâneo que podem proporcionar, melhoram o estresse, a qualidade do sono e estimulam a inteligência e a compreensão do próprio corpo, conforme explica Josefa Ferreira, psicóloga e psicanalista da clínica Holiste Psiquiatria (BA).
"Eles se tornam uma importante ferramenta para um momento de extravasar, ou seja, passar por uma experiência que no dia a dia, talvez, você não viveria, porque tira a ideia do constrangimento, como se fosse algo que não pudesse ser vivido, e as pessoas acabam vivendo de forma mais intensa", diz.
Para a especialista, essa é uma forma de ter acesso aos desejos sexuais que, até então, estavam adormecidos ou mesmo desconhecidos. Nesse sentido, a prática ajuda o indivíduo a se desprender dos próprios estereótipos relacionados ao ato sexual. Trata-se, portanto, de uma forma simples de autoconhecimento corporal.
Ao contrário do que se pensa, os estímulos eróticos não funcionam apenas para quem está sozinho e quer se descobrir e ter mais prazer. Filmes e livros, muitas vezes, podem ser uma luz no fim do túnel para casais que desejam, mas não sabem como, apimentar a relação.
Eles fazem as pessoas apostarem no inusitado para dar uma incrementada à vida sexual. "É importante falar mais sobre isso, porque ainda se fala muito pouco e se faz menos ainda. E além de a prática ajudar no conhecimento do próprio corpo, investir em conteúdos eróticos tira o foco do estresse diário. Isso não faz com que a raiva e o estresse passem, mas é como se houvesse um deslocamento de emoções para viver aquele momento bom", diz Josefa Ferreira, psicóloga da clínica Holiste.
'Por que não funciona comigo?'
Além do constrangimento, a falta de concentração adequada de hormônios sexuais também pode fazer com que os estímulos eróticos não funcionem normalmente. No caso das mulheres, é a falta de estrógenos (hormônio sexual feminino), e dos homens, déficit de testosterona (hormônio sexual masculino).
Isso ocorre porque essas deficiências hormonais interferem de forma negativa no desejo sexual, independentemente de estímulos. Elas podem comprometer todo o processo que leva ao desejo e prazer ou, dependendo do grau do déficit de hormônios, até inibi-los completamente.
"Para que aconteça o desejo e o ato em si há necessidade de que neurotransmissores e hormônios estejam na circulação em quantidade suficiente. Havendo deficiências dessas substâncias não vai haver desejo e a sequência de eventos de um ato sexual, seja sozinho ou com alguém", diz Carmita Abdo.
A professora lembra também que deficiência de estrógenos favorece o aparecimento de quadros depressivos, que têm relação direta com a falta de desejo sexual. "Fisiologicamente, a mulher tem menos estrógenos circulantes em alguns períodos da vida, como na fase pré-menstrual. E se essa mulher tiver uma tendência a desenvolver depressão, é nesse momento que a doença pode se instalar, isso para mulheres pré-dispostas", comenta a especialista, lembrando que a depressão afeta muitos aspectos da vida, não apenas o sexo.
Fontes: André L. Souza, doutor em psicologia cognitiva e neurociência pela Universidade do Texas (EUA); Carmita Abdo, professora da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), coordenadora do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade da USP) e membro da comissão nacional especializada em sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia); Josefa Ferreira, psicóloga e psicanalista da clínica Holiste Psiquiatria (BA); Renata Toscano, psicóloga e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
USP realiza pesquisa sobre comportamento sexual
Para entender o comportamento sexual em diversas regiões do mundo, o IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), ao lado de outros 45 países, está realizando um grande estudo sobre o tema. A ideia é examinar diferentes comportamentos sexuais, incluindo aspectos positivos, como a satisfação e o desejo sexual, e os negativos, como os riscos e problemas do funcionamento sexual.
Um dos questionários já está disponível e pode ser respondido até o final de março de 2022 —qualquer pessoa a partir de 18 anos pode participar: clique aqui para responder ao questionário.
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