Projetos em escolas ensinam importância da alimentação saudável às crianças
Você sabia que a má alimentação na infância pode causar problemas que prejudicam o desenvolvimento físico e mental das crianças? Além disso, a falta de hábitos alimentares saudáveis pode trazer o aparecimento de doenças mais graves na vida adulta.
Entre os principais males causados pela má alimentação, estão: diabetes, anemia, obesidade, colesterol alto, hipertensão e transtornos alimentares. Infelizmente, isso já vem acontecendo entre os pequenos. O Brasil está em terceiro lugar no ranking mundial de casos de crianças e adolescentes diabéticos. Já a obesidade atinge mais de 13% das crianças entre cinco e nove anos, de acordo com o SUS (Sistema Único de Saúde).
Com o objetivo de mudar a situação da alimentação infantil no país, projetos tentam agregar crianças na montagem do prato e ensinam a importância de experimentar novos sabores. Entre eles, estão o "Cozinhas e Infâncias", uma iniciativa que integra o Instituto Comida e Cultura, que foi inserido em duas escolas da cidade de São Paulo neste ano, e o "Alimentação Saudável, Criança Feliz', criado em 2018 pela Casa da Criança Maria Luiza Hartzer, em Campinas (SP), parceira da Fundação FEAC (Fundação Esporte Arte Cultura).
Como funcionam os projetos?
No "Cozinhas e Infâncias", que terá duração de dois anos, inicialmente professores de uma instituição pública e outra particular —a EMEI Dona Leopoldina, na Lapa, e a Camino School, na Barra Funda— estão aprendendo práticas culinárias para reconectar as crianças com a história, cultura e biodiversidade do país. Depois da formação dos educadores, os pequenos vão começar a cozinhar e ter mais contato com a alimentação saudável.
"Cozinhar com as crianças gera autonomia, liberdade, motricidade. Pedagogicamente falando, a gente entende que o alimento traz uma multiplicidade muito grande e deveria entrar nos currículos das escolas interdisciplinarmente", diz Ariela Doctors, responsável pela gestão do Instituto Comida e Cultura e idealizadora do projeto.
A ideia foi criada depois que Ariela e sua equipe atenderam uma escola particular em São Paulo em 2018. Durante a experiência, elas cozinharam e comeram com as crianças, e ensinaram diferentes aspectos ligados ao alimento: de onde ele vinha, como tinha sido plantado, o que fazer com o restante da comida etc.
Já o "Alimentação Saudável, Criança Feliz" foi pensado a partir da observação dos pequenos na hora do almoço. Muitas crianças comiam apenas arroz e feijão, outras não queriam experimentar novos alimentos e o momento da alimentação não era prazeroso.
Depois que a escola apresentou às crianças as etapas de preparação dos alimentos, que iam desde a plantação até a higienização e o preparo, a hora da refeição ficou mais harmônica.
Importância da alimentação saudável na infância
Especialistas consultados concordam sobre a importância de iniciar o hábito da alimentação saudável antes e durante a infância. Nos primeiros mil dias, que englobam desde a gestação até os dois primeiros anos de vida, comidas saudáveis ajudam no desenvolvimento físico e cognitivo no bebê. "Nesse tempo ocorre uma das principais fases de estirão do crescimento, além da maior parte do desenvolvimento cerebral e imunológico", diz Camila Fraga, pediatra do Hospital Jutta Batista, da Rede São Luiz.
Quando começamos a ter bons hábitos alimentares ainda na infância, ao chegar na fase adulta, seremos beneficiados. Uma alimentação rica em legumes, verduras, frutas, proteínas e gorduras boas, e pobre em açúcares e alimentos industrializados, ajuda a manter uma qualidade de vida e a longevidade, e ainda diminui o risco de doenças metabólicas.
A partir do momento em que a criança cria hábitos saudáveis e é apresentada as muitas opções da biodiversidade no prato, seus gostos ficarão mais amplos e os paladares não serão tão superficiais, aumentando assim a possibilidade de manter os hábitos quando crescer, mesmo que experimente coisas não tão saudáveis ao longo do caminho.
Quando começar?
A boa alimentação começa com o aleitamento materno. O leite deve ser exclusivo até os seis meses de idade. Depois desse período, a introdução alimentar com comidas saudáveis pode começar, desde que a criança demonstre sinais de prontidão para isso.
O processo de reconhecimento de novos sabores e criação de hábitos acontece através da educação alimentar adequada. A introdução de novos alimentos deve ser gradual, respeitando o tempo de cada bebê. A família e o pediatra que a acompanha devem decidir se no início as refeições serão oferecidas como papas ou usando o método BLW —desmame guiado pelo bebê.
A oferta de frutas e hortaliças pode ser a primeira indicação, pela exploração sensorial e o conteúdo nutricional. É importante evitar expor a criança a alimentos processados e dar preferência para frutas, legumes e verduras, além de proteínas de origem animal, e usar esse mesmo hábito alimentar para toda a família.
Além disso, todos comendo a mesma coisa pode ajudar tanto no período da introdução alimentar de bebês quanto com crianças maiores que ainda não adquiriram o hábito alimentar saudável. Quando as crianças observam os adultos da casa consumindo o mesmo que elas, os alimentos começam a ser familiares. Ademais, os pequenos começam a se sentir seguros e com vontade de provar.
Formas de introduzir alimentos saudáveis
Se a criança não foi apresentada a alimentos saudáveis quando bebê, existem maneiras de começar a introduzi-los. Você pode substituir os lanchinhos industrializados por frutas, legumes em palitos ou biscoito caseiro. "O nosso papel é oferecer novos sabores e dar oportunidades para aumentar a curiosidade da criança a respeito desses alimentos. Se ela não gostar da aparência, do cheiro ou do sabor do alimento, a sua opção de não consumi-lo será respeitada", diz Anne Botelho, professora de nutrição da UFS (Universidade Federal de Sergipe) e doutora em ciências da saúde.
Não ter em casa alimentos ultraprocessados pode ser outra forma. Mas não é possível melhorar apenas a alimentação da criança, toda a família deve ser envolvida. Usar a criatividade na hora de oferecer o alimento e não ter a presença de telas durante a refeição também vão ajudar. Podemos usar os artifícios da própria alimentação para chamar a atenção, montando pratos coloridos que estejam dispostos de uma forma que agrade os olhos da criança.
"É divertido fazer um desenho com o alimento, mas acredito que quando a criança tem um contato maior com o alimento, como uma plantação pequena em casa, tem uma conscientização maior. Quando coloca a mão na massa, ela absorve muito melhor a importância do alimento, tanto para o corpo dela quanto para o próximo", diz Ariela Doctors.
Fontes: Ariela Doctors, responsável pela gestão do Instituto Comida e Cultura e idealizadora do projeto "Cozinhas e Infâncias"; Renan Barreto, pediatra do Hospital São Camilo; Camila Fraga, pediatra do Hospital Jutta Batista, da Rede São Luiz; Anne Botelho, professora de nutrição da UFS (Universidade Federal de Sergipe) e doutora em ciências da saúde; Cinthia Karla Rodrigues, nutricionista e professora de nutrição da UFPB (Universidade Federal da Paraíba); Rodrigo Pinheiro, epidemiologista e professor de nutrição da UFPB.
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