Comportamentos 'engraçados' do idoso podem ser naturais ou não; entenda
Comportamentos não mudam com o processo de envelhecimento, ou seja, sendo idoso continua sendo o mesmo, com os hábitos que sempre teve, embora alguns traços, características que tinha no passado, possam se exacerbar (por exemplo, se era rabugento, pode ficar ainda mais), mas ninguém tem a própria personalidade mudada completamente.
Colocado isso, se o sujeito sempre foi bem-humorado, piadista, brincalhão, não há com o que se preocupar. Pelo contrário, levar um dia a dia leve, com muitas risadas, momentos descontraídos, faz muito bem à saúde, em especial do coração, além de ser de graça.
No entanto, se de uma hora para outra o idoso mudou, parece ter perdido o "filtro", o trato, a compostura em ambientes sociais e fala coisas inesperadas e age com desinibição, são sinais para se prestar muita atenção. Igualmente, se ele parecer mais infantilizado, isto é, age com imaturidade, faz birra ao ser contrariado, questionamentos constantes e usa linguagem defasada.
Entenda algumas causas
Natan Chehter, geriatra membro da SBGG (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia) e da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo aponta que alterações no idoso, como as mencionadas, podem ter relação com demências em início (corpúsculos de Lewy, Alzheimer, frontotemporal) doenças neurológicas e psiquiátricas (transtornos), problemas de tireoide, deficiência de vitaminas e até neurossífilis, infecção do sistema nervoso central pela sífilis.
"Qualquer alteração, até se provar o contrário, é considerada patológica. É muito comum pessoas próximas deixarem passar comportamentos estranhos e até os considerar 'fofos', 'engraçados', mas é necessário que sejam levados a sério e ao médico", informa o geriatra.
São indícios preocupantes mudanças bruscas e oscilatórias de comportamento, que pode ficar na defensiva, somadas a alterações de memória, atenção, função executiva, negligência com cuidados pessoais, desatenção, todas do domínio cognitivo, e exacerbação da libido, o que pode deixar o idoso "ousado". Essa questão, em particular, não deve ser compreendida como natural, aceitável, podendo acarretar consequências danosas para o sujeito e para terceiros.
Quando envolve preconceito
Idosos podem mudar involuntariamente de comportamento por descuidos e atitudes erradas de quem os rodeia. Familiares e profissionais de saúde quando os tratam como incapazes, frágeis, dependentes, sem que percebam, retiram, anulam deles a própria essência, assim como vontades, opiniões, autonomia, remodelando sua autopercepção e seu modo de agir.
Isso repercute em baixa autoestima e insegurança para se expressar, perguntar, desempenhar atividades, reforçando a impressão equivocada e preconceituosa de que idoso é atrapalhado, cômico, quando na verdade pode estar manifestando a internalização de sofrimentos.
"É comum que filhos passem a ver os pais assim e invertam os papéis", ressalta Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, com passagem pelo Hospital da Cidade, em Salvador.
Também vale esclarecer que, apesar de uma idade muito avançada eventualmente cursar com uma maior lentificação de raciocínio, isso não é obrigatoriamente sinal de incapacidade ou motivo para o idoso ser tratado de maneira infantilizada, o que pode repercutir em tristeza e depressão.
Por isso, em caso de dúvida, é importante um diagnóstico concreto para fazer diferenciações e não perpetuar estigmas, atribuindo anormalidades ao envelhecimento.
Cada quadro, um desfecho
Às vezes, se o idoso já apresenta alguma alteração, o médico faz apenas pequenas correções medicamentosas. Mas, em situações novas, sem até então histórico, cabe investigação clínica e até exames mais detalhados, de imagem (ressonância, tomografia) e sorologia (com suspeita de infecção), para identificar as possíveis causas e assim tratá-las da forma mais adequada.
Quadros psiquiátricos podem exigir envolvimento de especialistas em saúde mental e terapia, para o idoso expor o que sente, dificuldades e a sua rotina. Psicólogos ou psiquiatras junto com geriatra e neurologista também contribuem para que ele se autoconheça e aprenda a lidar emocionalmente com as mudanças do envelhecimento e a se posicionar diante de abusos.
Agora, descartado qualquer problema de saúde, é preciso compreender que o idoso pode, sim, estar em processo de mudança voluntária. Há quem anteriormente era muito rígido, mantinha comportamentos prejudiciais, e que com o passar de experiências, convivências e reflexões muda, podendo ficar mais despreocupado, empático, compreensivo, leve e alegre.
"Aprender novos conceitos, atitudes, conhecimentos é para a vida toda, não existe uma data limite. Se isso é feito de forma intencional, acompanhado por um profissional e sem prejuízo para o idoso em sua ordem social, é perfeitamente normal", conclui Wenceslau Alonso, geriatra do Hospital São Rafael, em Salvador.
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