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Colchão errado pode gerar dor e até azia; veja dicas de como escolher

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Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

12/04/2022 04h00

Os questionamentos sobre qual é o melhor colchão, se muito duro ou macio, de espuma ou mola, e se uma escolha equivocada representa riscos à coluna são frequentes.

A verdade é que peso, altura, posição ao deitar e, ainda, o travesseiro são elementos a serem avaliados na hora de eleger o colchão. De acordo com Rodrigo Bezerra de Menezes Reiff, ortopedista e professor do curso de medicina da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), a combinação entre eles interfere em três situações: ocorrência de azia, devido ao refluxo do conteúdo do estômago em função de alguma variação anatômica, apneia por causa da obstrução da passagem do ar e incômodos nos pontos de acomodação lateral do corpo ao dormir —ombros e quadris.

"No primeiro caso, a recomendação é que a altura da cabeça fique mais elevada do que o habitual e para melhorar a qualidade do sono, deitar de lado é o ideal", orienta.

Para não sobrecarregar os pontos de apoio, a coluna deve permanecer sempre reta, independente do modelo. "É muito improvável que um colchão errado ocasione lesões graves. Essa situação é consequência de esforços mecânicos significativos, o que não ocorre durante o sono. Por sua vez, a dor costuma ser resultado do uso de um exemplar inapropriado ao biotipo e ao jeito de dormir do usuário", esclarece Reiff.

O desconforto é uma resposta natural do organismo relacionado a situações de desequilíbrios funcionais. "Um colchão ou travesseiro impróprio causa dores musculares e seu uso crônico associado a outros fatores predispõe a problemas como hérnia de disco devido à má postura e desgastes nas articulações: artrose e estenose", alerta Alexandre Fogaça Cristante, ortopedista e cirurgião de coluna.

Para exemplificar, o ortopedista e professor do curso de medicina da UFSCar compara a coluna ao saldo na conta do banco: "Atingir o limite de crédito seria o mesmo que ultrapassar a capacidade de trabalho da coluna. Se o indivíduo realizou uma exigência mecânica significativa durante o dia, bastam poucas horas de uso de um colchão inadequado para que o alarme seja disparado. A culpa recai sobre o item e, não, às ações inadequadas realizadas durante o dia. Afinal, foram consumidos os créditos finais. Por outro lado, o uso constante de um tipo ruim também leva ao incômodo. Por mais que o indivíduo poupe as costas durante o dia, o gasto funcional durante a noite sempre atingirá o limite funcional."

De bruços, de barriga para cima ou de lado?

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Para Reiff, o colchão e o travesseiro relacionam-se ao posicionamento preferencial ao deitar e ao biotipo. "Dormir de bruços não é recomendado, uma vez que gera um aumento da curvatura fisiológica da lombar conhecida como lordose. Nessa posição, a coluna não assume uma postura neutra, ficando vulnerável a um esforço mecânico desnecessário", explica.

Dormir com a barriga para cima é mais adequado, mas apenas 2% da população consegue permanecer por toda a noite dessa forma. A dica é manter o apoio de um pequeno travesseiro sob os joelhos para retificar a lombar e, para evitar uma flexão acentuada do pescoço, o travesseiro precisa ser mais baixo que o habitual.

Repousar de lado é outra situação adequada. A dica é que a altura do travesseiro seja compatível com a distância entre a face e o ombro. Assim, a cervical e a lombar permanecem alinhadas. Uma almofada baixa entre os joelhos dá sustentação do membro que está em cima e evita uma inclinação da bacia.

"Dessa forma, o colchão deve ceder, nas devidas proporções, às curvaturas do corpo sem que afunde como um todo ou desproporcionalmente. Portanto, a maciez necessita ser proporcional ao peso do usuário, de forma que, ao acomodar as curvaturas, a coluna vertebral permaneça alinhada", informa Reiff.

Como escolher um colchão para chamar de seu?

Muito mais do que um colchão confortável, outros itens deixam sua cama aconchegante - Getty Images - Getty Images
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A decisão é individual, segundo os especialistas. "Quando é muito firme, ele não se adapta às reentrâncias do corpo. Se é muito fofo, ele afunda na região da bacia que é mais pesada. Os semiortopédicos são boas escolhas", ensina Cristante.

Consideram-se o peso e a altura do usuário, mas se o indivíduo apresentar algum problema ortopédico prévio, a escolha é fundamentada em aspectos técnicos e individualizados.

Além desses específicos, o mercado oferece os de espuma e de mola. Os de espuma possuem tabela de medidas de densidade padronizada e as diferentes composições impactam a sustentação de peso, a propriedade térmica, a resistência ao acúmulo de ácaros e a capacidade de moldar as áreas de carga do corpo.

A densidade representa a quantidade de matéria-prima utilizada na fabricação da espuma, em quilogramas por metro cúbico. O índice é representado pela letra D. Ainda assim, há discrepâncias entre os fabricantes em relação ao peso e altura suportados por cada valor.

Já a variedade de modelos de mola dificulta a criação de uma linguagem universal. "No mercado podem ser encontrados os tipos bonnel, verticoil, molas ensacadas, superlastic e molas LFK. Esse último tipo é indicado para pessoas muito altas ou pesadas, uma vez que é mais resistente e firme que os outros modelos", descreve Reiff.

Para dois

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Os casais que compartilham a mesma cama precisam levar em conta a altura média simples dos dois e adicionar o peso de quem tiver a maior massa corporal. Depois, é só procurar na tabela de biotipo qual é a densidade recomendada, se a escolha for de espuma. "Esse raciocínio é válido para casais que não tenham uma discrepância significativa entre seus biotipos", observa Reiff.

Se a opção for investir em um modelo com molas, o ideal é que elas tenham comportamento independente para que o parceiro não receba a influência da movimentação de quem está compartilhando o colchão. "O teste deve ser realizado na posição deitada, sem calçados, pelo casal, em mais de uma oportunidade", aconselhao professor do curso de medicina da UFSCar

"Independentemente do material, a espessura deve ser de, no mínimo, 15 centímetros para que haja um bom suporte da estrutura corporal", observa Adriano Passaglia Esperidião, ortopedista e traumatologista, diretor de marketing e comunicação da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia).

Durabilidade

Os colchões têm prazo de validade, mas a vida útil pode ser estendida com a adoção de medidas simples, como o rodízio de posição e lado, exposição ao sol e limpeza adequada.

Os de espuma tendem a manter a qualidade por até oito anos, enquanto que os de mola chegam a durar até 15 anos.

"Quando começar a apresentar deformidades como o corpo marcado na superfície, ou seja, está afundando com o peso, chegou a hora de considerar a troca", revela Esperidião.

Fontes: Adriano Passaglia Esperidião, ortopedista e traumatologista, diretor de marketing e comunicação da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) e membro da SBC (Sociedade Brasileira de Coluna); Alexandre Fogaça Cristante, ortopedista e cirurgião de coluna, docente da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), médico assistente do grupo de deformidades da coluna da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) e chefe do grupo de coluna e trauma raquimedular do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC (Hospital das Clínicas) da FMUSP, membro da SBOT, da SBLM (Sociedade Brasileira de Lesão Medular), da NASS (North American Spine Society) e da diretoria da SBC e Rodrigo Bezerra de Menezes Reiff, ortopedista e professor do curso de medicina da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).