Diabetes descompensado afeta a pele e pode levar à perda da sensibilidade
Medir a glicemia e não consumir muito açúcar: em algum momento você já ouviu falar do diabetes e dos cuidados que precisam ser tomados. Só para lembrar, o diabetes é uma doença em que temos a ausência ou insuficiência de insulina, que é o hormônio responsável pelo aproveitamento da glicose como fonte de energia.
A glicose em excesso pode levar a várias alterações e complicações no corpo já conhecidas pela maioria das pessoas, como problemas nos rins, na visão e no coração. "O que muita gente desconhece é que o maior órgão do corpo humano, a pele, também pode sofrer as consequências do diabetes mal controlado", afirma Denise Reis Franco, endocrinologista da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia - Regional São Paulo) e pesquisadora do Centro de Pesquisa Clínica da Dasa.
Níveis cronicamente aumentados de açúcar no sangue podem alterar a inervação e irrigação da pele, ou seja, podem alterar a função de nervos e dos vasos sanguíneos. "A pele pode ficar ressecada, com rachaduras, sem pelos, a pessoa pode perder a sensibilidade e ficar mais vulnerável a infecções", explica Fernando Valente, professor da disciplina de endocrinologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e membro da SBEM-SP.
No entanto, ressalta a pesquisadora Denise, o tratamento adequado do diabetes, que significa controlar e manter os valores de glicemia dentro da faixa de 70-180 mg/dl na maior parte do dia, usar os medicamentos de maneira adequada, monitorar a pressão arterial e gordura no sangue, pode evitar as complicações crônicas relacionadas à doença, o que inclui os problemas com a pele.
Pessoa pode perder sensibilidade à dor e ao calor
A perda de sensibilidade da pele é uma das manifestações da neuropatia diabética e está associada à perda progressiva das fibras nervosas, sendo uma das complicações crônicas da doença.
Segundo o professor Valente, devido ao comprometimento dos nervos e dos vasos sanguíneos, a pessoa pode perder a sensibilidade à dor, ao calor e à vibração. "O indivíduo pode pisar em algo quente ou pontiagudo e não perceber, perdendo assim um mecanismo de defesa importante."
Além disso, como os nervos controlam a produção de suor, a descompensação do diabetes pode afetar a hidratação e causar rachaduras na pele, que podem servir como portas de entrada para micróbios causarem uma infecção. "A defesa contra a infecção pode ficar comprometida e a cicatrização ser mais lenta", comenta o médico.
O comprometimento dos nervos de pele também pode ocasionar a sensação de dor, choque ou formigamento constante na pele, que são frequentemente percebidos de modo mais intenso quando a pessoa vai dormir, o que atrapalha o sono e reduz a qualidade de vida.
Qual a área mais afetada e como prevenir?
De acordo com Fernanda Victor, endocrinologista de João Pessoa, colunista de VivaBem e mestre em ciências da saúde pela UPE (Universidade de Pernambuco), as alterações de sensibilidade são mais frequentes nas extremidades dos membros, conhecida como neuropatia em "botas e luvas", isto é, nas mãos e nos pés, mas principalmente nos pés. "É importante estar alerta a alguns sinais de risco, como feridas, calos e deformidades."
Segundo Denise Franco, da SBEM-SP, o tratamento preventivo é essencial, por isso, o paciente deve fazer o exame dos pés em cada consulta médica, ser orientado sobre como examinar os pés diariamente e ter uma rotina que inclui cuidar das unhas regularmente, manter a pele hidratada e usar calçados adequados, indicados pela equipe multidisciplinar.
Geralmente, deve-se evitar andar com os pés descalços, usar chinelos de sola fina ou sapatos sem meias. Uma outra estratégia para prevenir as complicações da perda de sensibilidade na pele reside no bom controle da glicemia, associado ao adequado controle da pressão arterial e dos lipídios, de acordo com Victor.
"As modificações do estilo de vida, alimentação saudável, prática regular de atividades físicas, controle do peso e cessação do tabagismo e álcool também são fundamentais. A abordagem terapêutica busca retardar o início da neuropatia ou reduzir sua progressão."
Ainda segundo a colunista de VivaBem, existem algumas medicações aprovadas que podem ser utilizadas para aliviar as dormências e controlar os sintomas da neuropatia diabética. "O tratamento medicamentoso pode ser oral e/ou tópico, com o uso de cremes, adesivos e sprays."
Amputação é a complicação mais grave
Entre as complicações, a perda de sensibilidade associada ao comprometimento vascular dos membros inferiores pode aumentar o risco de lesões nos pés e evoluir para uma infecção e amputação, explica Denise Franco.
"A pessoa que perdeu a sensibilidade dos pés pode não perceber quando pisa em algo que fere a pele. Esse pequeno machucado aumenta o risco de uma infecção, que pode se espalhar mais facilmente. A defesa do indivíduo contra a infecção pode estar prejudicada pelo açúcar alto no sangue. Uma feridinha simples pode terminar em uma amputação. Para se ter ideia, uma ferida no pé antecede 85% das amputações. O diabetes é a principal causa de amputação não traumática (de um membro que não por acidente)", afirma Valente, professor da FMABC.
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