Pernilongo, abelha, mosca: por que algumas pessoas atraem tanto os insetos?

Não, não se trata de um mero achismo, algumas pessoas são realmente mais atraentes para insetos do que outras, e não só para os incômodos pernilongos, mas ainda abelhas, moscas e até mariposas.

Quando se vira presa ou atrativo de um único inseto não é tão problemático assim, mas em se tratando de um enxame deles, sem dúvidas. É que alguns podem ferroar, provocar alergias potencialmente fatais, além de causar danos inimagináveis, como cegueira.

Entenda melhor o que pode influenciar tais problemas e como se proteger de insetos, segundo especialistas consultados por VivaBem.

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'Sangue doce' é crendice

Em se tratando dos hematófagos (insetos que se alimentam de sangue), como pernilongos, eles nos rastreiam por suas anteninhas, importantes órgãos sensoriais. Elas podem detectar, por exemplo, o CO2 (dióxido de carbono) que é liberado durante a respiração e se for uma quantidade grande, maior a probabilidade de se virar uma presa fácil. Mas esse não é o único fator, também os norteiam temperatura alta, suor e o "trabalho" feito por microrganismos.

"É crendice a história de 'sangue doce'. Somos colonizados por bactérias e, a depender da quantidade delas, metabolizam cheiros, substâncias químicas em nossa pele que atraem os mosquitos, como os ácidos lático e úrico e amoníaco", explica Áurea Paste, infectologista do Hospital Aliança, da Rede D'Or, em Salvador.

Essa produção a que a médica se refere ocorre em razão do aumento do calor corporal (por exercícios, clima) e da consequente transpiração.

Estudos também já apontaram que mosquitos picam mais pessoas com maior abundância e menor diversidade de bactérias na pele, assim como gestantes (porque apresentam aumento da temperatura corporal e exalam mais CO2) e apreciadores de cerveja, devido aos odores do organismo provenientes da bebida.

Há quem ainda relacione um aumento da atração quando o sangue é do tipo O e uma diminuição dela quando o tipo é A, mas o tema ainda é inconclusivo.

Cuidado com cores e doces

Já o aumento do número de ataques de abelhas ocorre entre primavera e verão, estações em que há uma quantidade maior desses insetos circulando por aí para polinizar. Quando um humano ganha a atenção delas não é por querer, mas porque os confundem com flores e isso devido ao uso de roupas coloridas e ao aroma adocicado de certos alimentos (como sucos, geleias, refrigerantes) e hidratantes, sabonetes e perfumes de longa duração sobre a pele.

"Roupas estampadas e escuras atraem mais insetos do que roupas claras —e isso serve para os mosquitos também. Todos eles ficam mais detectáveis e vulneráveis a predadores, incluindo pessoas, se estiverem, por exemplo, em uma parede branca do que em uma parede escura", explica Maria Clara Dultra, dermatologista do Hospital São Rafael, da Rede D'Or, em Salvador. Não à toa, essa também é a cor que os apicultores vestem para repelir abelhas em colmeias.

Outras coisas que atraem

Dultra continua que abelhas também podem gostar de suor e lágrimas, que são boas fontes de proteínas, aminoácidos e nutrientes para elas. Por isso, ocasionalmente, podem voar em direção ao seu rosto ou querer pousar em sua pele.

Fazem o mesmo mariposas e borboletas, que apreciam sangue, urina, secreções e até fezes. Há relatos desses animais retirados de dentro de canais auditivos e de abelhas Halictidaes, de tamanho inferior, de olhos humanos.

Outra ameaça são as moscas e suas larvas, que podem nos seguir, como fazem com o Cascão da Turma da Mônica, e até devorar. Ocorreu com uma mulher dos Estados Unidos, que em 2020 teve seu caso reportado pelo período científico Clinical Infectious Diseases. Ela contraiu uma "infestação conjuntival" após ser perseguida por um enxame de pequenas moscas, que precisou espantar do rosto e até cuspir da boca, enquanto corria por uma trilha ecológica.

As moscas, atraídas pelo suor da mulher, alojaram em seus olhos ovos e larvas minúsculas que se alimentam de lágrimas e provocam uma doença parasitária conhecida por thelaziose ou "verme do olho de gado". Para não perder a visão e evitar outras infecções por conta de bactérias, a americana precisou passar por procedimentos com pinça e usar colírios com antibiótico. Se tivesse machucada, poderia ser pior, pois moscas também gostam de feridas.

Como se proteger de insetos

Embora uns sejam mais atraentes para insetos do que outros, de modo geral, ao identificar a presença desses animais ou estando em locais cuja proximidade com a natureza é maior (perto de parques, em praia, campo), cuidados devem ser tomados, ainda mais já tendo sido vítima ou sabendo como o organismo reage a um ataque.

Uma picada de abelha pode não fazer tão mal, caso não se seja alérgico. Mas, para quem é, a reação pode exigir um pronto-socorro.

Como "blindagem", Carolina Milanez, dermatologista especialista pela SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), recomenda o uso de repelentes, mosquiteiros, telas e roupas compridas, principalmente sobre áreas em que uma única picada de inseto é capaz de gerar várias lesões semelhantes e espalhadas. "Quanto ao uso de vitamina B1 (tiamina) via oral para exalar na pele um odor repelente, estudos mostraram que essa medida não é efetiva", afirma.

A dermatologista do Hospital São Rafael complementa, citando como eficazes contra uma variedade de insetos as velas "fumacê", de citronela e nim (planta de origem asiática), e chama atenção para a maneira correta de se usar repelentes de corpo.

"Se for usar hidratante ou filtro solar, o repelente é por último. Aplique na pele e por cima da roupa, de preferência os em spray e de longa duração (icaridina). É importante se atentar ainda às orientações do fabricante sobre reaplicação, idade e o máximo de uso ao dia, para evitar efeitos tóxicos."

Outras precauções incluem se antever aos horários em que os insetos estão mais ativos (início da manhã e final da tarde), fazer asseio corporal, o que inclui tomar banho pelo menos uma vez ao dia, evitar o que já foi mencionado e que funciona como isca, principalmente quando for acampar, e saber a forma certa de reagir.

Por exemplo, não se deve bater em abelhas, no máximo, assoprar para saírem de perto. Do contrário, acuadas ou feridas, elas podem atacar.