Como o conteúdo sobre transtornos mentais no TikTok afeta os adolescentes
Ao buscar a hashtag #saudemental no TikTok, o resultado é de 896 milhões de vídeos. A hashtag #ansiedade tem 2,4 bilhões de resultados; #depressão, 1,3 bilhão. Segundo a pesquisa TIC Domicílios, 46% dos adolescentes brasileiros de 10 a 17 anos já têm uma conta no TikTok. Parece que falar de saúde mental é cada vez mais comum entre os jovens. Mas quais os riscos para os adolescentes quando o tema se torna tão popular nas redes sociais?
Adriana Mandia, neuropediatra do Hospital Nove de Julho, diz que o maior problema é o autodiagnóstico. "Alguns conteúdos podem trazer a falsa impressão de que esses diagnósticos são simples de serem estabelecidos, além de generalizarem os tratamentos. Os jovens devem ter consciência que os diagnósticos dos transtornos de saúde mental são complexos", diz.
Segundo Marina Assis, professora do departamento de psicologia e de pós-graduação em psicologia cognitiva da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), a adolescência é um período no qual existe uma busca pela identidade e formação de personalidade. Essa explosão de sentimentos e experiências e de confusão sobre quem se é podem ser um gatilho para alguns transtornos mentais.
Os principais conteúdos relacionados ao assunto no TikTok são sobre sintomas categorizados em alguns comportamentos com vídeos de três minutos. Quando um adolescente consome esse tipo de informação, ele se identifica com muita facilidade e gera mais engajamento, o que explica a enorme produção de vídeos sobre o assunto.
Nesse cenário, a falta de atenção dos pais e a ausência de um acompanhamento profissional são os principais riscos para os adolescentes. Quando alguns jovens chegam aos consultórios com uma ideia já formada sobre seu quadro, isso pode prejudicar o tratamento.
É importante que os pais fiquem atentos não só com o que os filhos consomem no TikTok, mas principalmente sobre o que seus dependentes trazem de sofrimento, observando e buscando um profissional, sem nenhum estigma, sugere João Salla, psiquiatra na Santa Casa de São Paulo e psicanalista em formação pelo Instituto Sedes.
Há lado positivo
O acesso à informação também pode trazer vantagens, como é o caso de Mariana Santarosa, estudante de 21 anos que foi diagnosticada com TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) em 2017 e afirma que os vídeos sobre transtornos no TikTok contribuíram com a sua melhora e a fizeram buscar um profissional.
"Esse tipo de conteúdo me dá uma sensação de conforto em ver que não sou a única a passar por isso e ver que tem pessoas que me entendem. Antigamente, a gente não conseguia conversar sobre esses assuntos com tanta facilidade, então os vídeos no TikTok me ajudam a não me sentir tão diferente", conta.
Outro caso é o de Clara Beatriz. A estudante de 17 anos foi diagnosticada em 2021 com transtorno de ansiedade, e alguns vídeos sobre o assunto no TikTok a fizeram repensar sobre sua saúde. "Alguns vídeos me serviram de alerta com coisas que eu achava que eram só manias minhas, me ajudando a encontrar um profissional", diz.
Uma pesquisa da Unicef (Fundo das Nações Unidas pela Infância), em parceria com o IPEC (Instituto de Pesquisas Cananéia), revelou que 60% dos jovens entre 12 e 18 anos têm queixas relacionadas à saúde mental.
E no caso dessa faixa etária, antes de tudo, o acompanhamento dos pais é essencial, principalmente porque os adolescentes passam muito tempo na frente das telas. Estar atento às alterações de humor, isolamento em excesso e desempenho escolar é um caminho para identificar os sintomas.
"Nenhum conteúdo informativo é um risco em si. Tudo depende do campo de diálogo que o jovem encontra para refletir sobre o que vive. É muito importante ter uma rede de suporte para que se possa elaborar, comunicar e buscar sentido sobre o que nos inquieta", diz Assis.
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