Dedos, mão, pé, braço, perna: é possível reimplantar membros amputados?
Quando por acidente, a maioria das amputações de membros superiores está relacionada a trabalho, atingindo mais frequentemente dedos, às vezes mãos e, por último, antebraços e braços. De membros inferiores (pés, pernas, coxas), por acidente, igualmente por trabalho, mas principalmente por traumas automobilísticos.
Posto isso, agora para responder se é possível que as partes mutiladas sejam reimplantadas, vai depender das seguintes questões:
- Se o paciente está em condições clínicas satisfatórias para um procedimento tão complexo;
- Se há uma equipe médica multidisciplinar, pois amputações abrangem várias estruturas;
- Se o membro foi acondicionado do jeito correto, para que seja possível reaproveitá-lo;
- Se o tipo de acidente sofrido gerou lesão regular em base e membro e preservou estruturas.
"Há uma série de fatores a se avaliar, mas saiba que um reimplante de membro é possível, seja a partir de coxa, joelho, perna, pé, dedo, mão, braço, antebraço, desde que haja condições para isso (pois pode de a quantidade de energia gerada no acidente destruir os tecidos) e o paciente esteja bem, afinal, a prioridade, antes do membro, é salvar a sua vida", informa Fábio Haddad, cirurgião vascular e endovascular da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Como agir após amputação
Quando membros são cortados, serrados, arrancados, o primeiro passo a se tomar é controlar o sangramento na base, para evitar risco de morte, ainda mais em se tratando de perdas de pernas e braços inteiros.
Marcelo Liberato, coordenador da equipe de angiologia e cirurgia vascular do Hospital São Rafael, em Salvador, recomenda pegar algum tecido limpo que estiver disponível e fazer um estancamento bem forte na lesão, até a chegada da equipe de socorro.
Em se tratando de resgatar o membro, vale se estiver em boas condições, pois destruído ou com perdas de partes moles, múltiplas fraturas, queimaduras, a chance de reimplante é muito difícil.
Ele deve ser coletado, enrolado em um pano e acondicionado em um saco limpo, que depois deve ser vedado e colocado dentro de um recipiente com água e gelo. O objetivo não é o congelamento, mas obter uma temperatura fria para garantir sua preservação até o hospital.
Como o membro está com seu suprimento de sangue e oxigênio interrompido, agir depressa é fundamental para evitar necrose.
"Até 6 horas é possível mantê-lo, estourando 8 horas, para ter alguma viabilidade dos tecidos que foram separados do corpo. Quanto mais cedo ocorrer o reimplante, maiores as chances de sucesso da cirurgia, de se ter uma boa recuperação e de se restaurar movimentos e sensibilidade e isso independente de qual membro seja", diz Liberato.
Entenda a cirurgia de reimplante
Se o paciente estiver em condição clínica estável para passar por uma cirurgia longa e delicada e o membro amputado bem preservado, entram em cena médicos especialistas de diferentes áreas, entre os quais: ortopedista, cirurgião vascular, cirurgião plástico e neurocirurgião.
Cada um se responsabilizará em reimplantar e fazer reparos de alguma estrutura acometida no acidente, como pele, gordura, ossos, tendões, músculos, nervos, artérias, veias e parte nervosa.
É um procedimento de alto risco, como observa Marcelo Côrtes, ortopedista do Hospital Aliança, em Salvador: "O maior risco numa cirurgia de reimplante é o distúrbio de coagulação após a reperfusão do membro, visto especialmente em macrorreimplantes, de pernas e braços inteiros, bem complexos e pouco frequentes. Outras complicações incluem: trombose arterial, congestão venosa, infecção, rigidez articular e perdas da sensibilidade protetora e função".
Por isso, não se trata de cirurgia estética ou só para se ter de volta o membro no lugar, pois ele pode até não ficar igual como era e as chances de isso ocorrer são maiores quando os critérios apontados para reimplante não são possíveis.
"Reimplantar um membro para ele não ter função, mobilidade, sensibilidade para o indivíduo poder ter uma vida o mais normal possível não é o objetivo do tratamento", afirma Aedo Khouri, também ortopedista do Hospital Aliança.
Recuperação merece suporte
Seja qual for o desfecho após perder um membro, que pode ou não ser reimplantado e se comportar ou não como antes, o paciente precisa conseguir retomar sua vida. Como determinadas amputações cursam com sequelas, deficiências e invalidez, as próteses exigem adaptação, podendo às vezes não funcionar, e o emocional fica abalado (ansiedade, depressão e desesperança são as reações mais comuns) profissionais devem continuar na retaguarda.
"Para a reabilitação, incluo à equipe multidisciplinar fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e psicólogo. O paciente vai precisar de apoio, porque, num primeiro momento, por exemplo, não conseguirá reconhecer o membro reimplantado como dele e não terá sensibilidade", explica Haddad.
Ele acrescenta que mesmo a perda de um único polegar muda drasticamente a rotina, pois, sem esse dedo, o mais importante da mão, perde-se o movimento de pinçar.
A tomada de consciência sobre a amputação torna-se mais real após o ingresso do paciente em um centro de reabilitação e à medida em que ele, fortalecido também por uma rede social, se mostra mais ativo.
Com a realização de diversas tarefas, irá se reencontrar, buscar e utilizar recursos internos para se adaptar à sua realidade e desenvolver novas habilidades. Somente assim consegue obter independência, confiança e fortalecer sua autoestima e autossuficiência.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.