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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Infecção urinária recorrente pode ser causada por estresse; entenda relação

LuckyBusiness/iStock
Imagem: LuckyBusiness/iStock

Luiza Ferraz

Colaboração para o VivaBem

28/04/2022 04h00

Doenças ginecológicas, como infecção urinária, candidíase e vaginose bacteriana, podem ser um verdadeiro pesadelo na vida de pessoas com vagina. Muitas vezes, elas demoram a serem curadas e acompanham o indivíduo ao longo da vida, podendo causar ansiedade, estresse e até levar a traumas maiores.

Foi o que aconteceu com a jornalista Victoria Ferreira, 25, que durante dois anos dividiu sua vida entre antibióticos e noites no pronto-socorro, por conta de infecções urinárias recorrentes. Até hoje, após conseguir controlar o problema, ela ainda tem medo de reviver aqueles anos de agonia e estresse.

Victoria não está sozinha. A recidiva de distúrbios do tipo é alta. Para se ter uma ideia, uma publicação da Universidade de Harvard (EUA) diz que 25% a 30% das pessoas que tiveram infecção urinária uma vez voltam a tê-la dentro de seis meses do primeiro diagnóstico. Agora, imagine sofrer com os sintomas dela frequentemente. "O principal é a dor ao urinar, mas ela pode vir acompanhada de vários outros, como febre e moleza no corpo", diz Fúlvia Estefânia Padre e Fechine, ginecologista e obstetra pela Universidade Federal do Maranhão.

"Meu xixi era quase sangue puro"

As primeiras crises vieram em meados de 2016. Victoria ainda era estudante e pensava em desistir do curso de jornalismo. Ela vivia um período de estresse entre trabalho e provas na faculdade. "Eu me lembro de um dia em especial, horrível, mas que me marcou. A minha mãe precisou me socorrer, porque eu desmaiei de dor no chuveiro. Era como se fosse uma facada, a região abdominal estava bem inchada e eu sentia umas pontadas, uma ardência muito forte, não conseguia andar."

A dificuldade em encontrar um tratamento que surtisse efeito e as diversas idas ao médico, que chegaram a ser uma vez a cada 15 dias, começaram a causar uma angústia ainda maior. Quanto mais piorava o estado de saúde, mais abalada ela ficava emocionalmente. "Quando me mudei para Londres, tive um episódio assustador. Eu estava muito nervosa com a questão do meu visto e todo o dinheiro que estava sendo gasto na viagem, aí fui fazer xixi, mas não era só xixi, era quase sangue puro. Eu achei que ia morrer, mas o resultado, novamente, foi na urina."

Ela conta que o procedimento era sempre o mesmo no hospital: raio-x, para ver se não tinha pedra no rim, soro, exame de sangue. "Sempre dava infecção de urina, mas nunca mostrava qual era a causa", lembra.

Foi quando o especialista que já a acompanhava no Brasil recomendou um tratamento de seis meses com antibiótico. Durante esse período, ainda houveram alguns episódios, mas hoje, quase quatro anos depois, Victoria não se lembra da última vez que teve uma infecção, apesar de nunca ter descoberto ao certo porque tinha com tanta frequência.

Sua vida também teve uma melhora significativa, com mudanças de hábitos alimentares, de vida e de tratamentos psicológicos. Mas ela ainda tem medo de acontecer tudo de novo. "Se sinto uma ardênciazinha, fico tomando água, já acho que preciso tomar de dois a três banhos por dia para melhorar. Eu passei quase dois anos indo para o hospital pelo menos uma vez a cada dois meses ou mais, então tenho medo."

Saúde mental pode ser sintoma e causa

Sofrer dias (ou anos, como foi o caso de Victoria) com doenças assim, ainda mais sem saber a causa, provoca efeitos significativos no psicológico de cada indivíduo, virando quase um sintoma desses distúrbios. Entretanto, o estresse pode se tornar justamente o motivo da recidiva, uma vez que mexe com o corpo, inclusive diminuindo a imunidade.

"O corpo não é desconectado da mente. O nosso estado emocional regula diversas questões, como o sono e os hormônios. Quando você está ansioso e cansado, acaba comendo pior para ter momentos de prazer e tudo isso influencia", diz Carolina Ambrogini, ginecologista e obstetra pela EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo) e do Projeto Afrodite, centro de sexualidade feminina do departamento de ginecologia da Universidade.

Segundo a especialista, é preciso um equilíbrio, pois quanto mais estresse você estiver passando, mas vai se recompensar com coisas ruins, piorando o problema e gerando um ciclo vicioso. "Para quebrá-lo, muitas vezes, é preciso mudar o estilo de vida da pessoa, rever a alimentação, atividade física, hábitos e rotinas. Isso tudo além do tratamento com remédios para cuidar dos sintomas", completa.

Em alguns casos, é recomendado o acompanhamento de um psicólogo especializado como parte do tratamento, seja ele para infecção urinária, candidíase ou qualquer outra patologia.

Ambrogini também reforça a importância do exame de urocultura. Essa análise permite que sejam identificadas as bactérias que causam determinadas infecções no trato urinário, podendo combatê-las com mais eficácia, já que o uso contínuo de certos antibióticos pode gerar resistência.

Como evitar a infecção urinária?

Apesar de existirem diversos motivos para que elas aconteçam, alguns cuidados podem ser tomados para evitá-las. Ingerir água é um dos métodos mais eficazes, sendo de dois a três litros por dia.

"O paciente precisa urinar várias vezes para que consiga expulsar as colônias de bactérias da bexiga. É bom optar por alimentos diuréticos: frutas como abacaxi, uva, além de lactobacilos e compostos de cranberry, que auxiliam na redução da concentração de patógenos", explica Fúlvia Estefânia.

Também é imprescindível fazer xixi pré e pós-coito. Durante as relações sexuais, bactérias da região anal podem entrar no trato urinário e aderirem às paredes da bexiga, mas se você urinar, acaba mandando elas embora.

Por último, evitar lavar com excesso a região genital com sabonete e usar sempre produtos com pH neutro. "Apenas uma vez ao dia, pequenas quantidades de sabonete entre os lábios, não lavar dentro de vagina. Se você tomar mais de um banho, aí na segunda vez use somente água", diz Ambrogini.

Fontes: Ana Luiza Faganiello, mestra em ciências da saúde e psicóloga do núcleo de saúde trans da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo); Carolina Ambrogini, ginecologista e obstetra pela EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo) e do Projeto Afrodite, centro de sexualidade feminina do departamento de ginecologia da Universidade; Fúlvia Estefânia Padre e Fechine, ginecologista e obstetra pela Universidade Federal do Maranhão.