Lanche de picanha sem picanha? Veja 'pegadinhas' que prejudicam alimentação
A notícia de que os novos sanduíches McPicanha da rede McDonald's não têm picanha surpreendeu muita gente. A empresa de fast-food confirmou que a picanha está apenas no nome do lanche e o hambúrguer é produzido com outros cortes de carne bovina, mas os sanduíches possuem "um molho sabor picanha (com aroma natural de picanha)".
Jesualdo de Almeida Júnior, presidente da Comissão de Direito do Consumidor da subseção São Paulo da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) explicou em reportagem do UOL Economia que a comunicação fere o Código de Defesa do Consumidor (CDC).
No entanto, saiba que esse tipo de "pegadinha" é muito comum na indústria alimentícia. Alguns produtos, mesmo quando respeitam o que determina o CDC e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), têm imagens na embalagem que podem fazer as pessoas acreditarem que são saudáveis (obviamente, esse não é o caso do McPicanha), quando na verdade possuem poucos ingredientes naturais e são repletos de açúcar, gorduras e aditivos químicos.
Suco de fruta sem fruta
Você já checou o que tem na bebida de caixinha que você compra no mercado? Pois vale a pena ficar de olho no rótulo e na lista de ingredientes. Você pode facilmente comprar um produto que mostra muitas frutas na embalagem, mas na verdade não tem praticamente nada de fruta ali.
A legislação brasileira classifica como suco apenas as bebidas feitas com no mínimo 50% de polpa da fruta. Em embalagens muito semelhantes, você encontra também o néctar, que possui entre 10% e 50% de concentração de fruta, e o refresco, que deve ter entre 5% e 30% de fruta ou polpa.
Com exceção dos sucos 100% frutas (integrais), todos os outros podem ter em sua composição açúcar ou adoçantes artificiais, corantes, conservantes e aditivos para realçar sabor e cor. O consumo excessivo desses produtos aumenta o risco de problemas de saúde como obesidade e diabetes.
Parece azeite, mas não é
Óleos compostos podem facilmente ser confundidos com azeites. Esses alimentos são uma mistura de gorduras vegetais e a proporção de outros óleos (quase sempre de soja) geralmente é muito maior do que a de azeite.
Em muitos produtos, há somente 10% a 15% de azeite, mas as embalagens trazem uma camponesa colhendo azeitonas ou a imagem do fruto da oliveira, o que pode fazer o consumidor acreditar que está consumindo um óleo puro de oliva, quando na verdade não está.
O grande problema aqui é que o óleo de soja não é tão nutritivo quanto o azeite, um alimento rico em antioxidantes e gorduras monoinsaturadas, que traz vários benefícios para a saúde cardiovascular.
Sopa de vegetais, só que não
É muito fácil associar a sopa a uma alimento saudável —e ela realmente é, quando feita em casa, com ingredientes naturais. Mas as sopas em pó sabor legume, apesar de terem lindas cenouras e batatas na embalagem, geralmente não contêm quase nada (ou realmente nada) e são repletas de sódio, aromatizantes e conservantes químicos.
Na prateleira dos alimentos que são "pegadinhas" entram ainda geleias "de fruta" feitas com uma quantidade irrisória do alimento e com muito açúcar e aditivos; molhos para salada prontos, como o de iogurte, sem iogurte; biscoitos sabor cacau que não têm nenhum grama do alimento em sua composição. Até o kani, famoso ingrediente da culinária japonesa e vendido como bastão de carne de caranguejo, muitas vezes não tem caranguejo. O alimento é feito a partir de uma base de peixe branco: a carne é triturada e a pasta final recebe corantes e aromatizantes para ficar com sabor e aspecto de carne de caranguejo.
E o hambúrguer sem picanha?
Se pensarmos que a picanha é um dos cortes bovinos mais gordos, o fato de o lanche não ter a carne pode ser positivo, pois o hambúrguer vai oferecer menor quantidade de gordura saturada, que em excesso aumentam o risco de doenças cardiovasculares.
Segundo o McDonald's, o hambúrguer dos novos lanches McPicanha são 100% carne bovina. Nutricionalmente falando, isso é bom, pois significa que o alimento não tem adição de gorduras, maltodextrina (um carboidrato), proteína de soja e outros ingredientes usados em hambúrgueres industrializados.
No entanto, não sabemos quais temperos e saborizantes são usados no disco de carne do McDonald's. Logo, ainda não dá para cravar que ele é mais saudável —a empresa deverá apresentar ao Procon até 2 de maio a tabela nutricional dos sanduíches, atestando a composição de cada um dos ingredientes.
Como identificar?
De acordo com a nutricionista Angélica Grecco, nutricionista do Instituto Endovitta, em São Paulo, e coordenadora de Nutrição Clínica do Hospital Santa Helena, de Santo André, a melhor forma de saber se está comprando gato por lebre é ler os rótulos de todos os produtos antes de colocar no carrinho do supermercado.
Confira os avisos na frente dos produtos e, principalmente, a lista de ingredientes. Os itens aparecem ali em ordem decrescente. Isto é, os ingredientes em maior quantidade no alimento vêm primeiro. Então, o ideal é que na lista de um suco de laranja, por exemplo, a laranja seja o primeiro ou segundo ingrediente da lista e venha antes do açúcar.
Fique esperto com nomes pouco conhecidos e de difícil compreensão. Muitas vezes, eles são os famosos aditivos, corantes, aromatizantes e saborizantes artificiais, que em excesso podem fazer mal à saúde.
"Além de não ter nenhuma função nutricional, eles aumentam o risco de desenvolver hipersensibilidade e alergias alimentares no indivíduo", afirma Grecco. Há estudos ainda que fazem uma relação entre o consumo de aditivos alimentares com diversas doenças, como inflamação no intestino e até câncer.
Quando consumidos de forma cotidiana, esses aditivos ainda podem modificar o nosso paladar e nos "viciar" na sensação de comer alimentos com sabores mais intensos do que na verdade eles são. "Um iogurte de morango, por exemplo, é muito mais doce do que a fruta, que tem um sabor mais cítrico e azedo", explica a nutricionista.
Isso é especialmente prejudicial para as crianças, que ainda estão formando o paladar. Como resultado, aumenta-se o risco de desenvolver hábitos ruins de alimentação, privilegiando o consumo de alimentos industrializados no lugar dos frescos e naturais.
Ok, mas então significa que nunca se pode comer nada artificial? Não é bem assim. "Comer um sanduíche aromatizado artificialmente uma vez na semana, por exemplo, não tem problema nenhum para pessoas sem problemas de saúde", diz Grecco. O problema, continua ela, é quando o consumo se torna constante.
Ou seja, como qualquer hábito saudável de vida, o importante é ter moderação e bom senso na hora de escolher o que colocar no prato.
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