Quase 20% dos jovens usam cigarro eletrônico no Brasil, aponta pesquisa
O relatório Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), divulgado nesta quarta-feira (27), mostrou alguns dados sobre o impacto da pandemia de covid-19 na saúde da população brasileira e fez um levantamento inédito sobre uso de cigarros eletrônicos no país.
Pelo menos 1 a cada 5 jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no Brasil, ou seja, 19,7%. A maior prevalência está entre os homens em todas as faixas etárias. O índice é de 10,1% entre eles contra 4,8% entre as mulheres. A região que mais usa cigarros eletrônicos é o Centro-Oeste (11,2% da população).
A pesquisa é resultado de entrevistas feitas com 9.000 pessoas por telefone em todas as regiões do Brasil. Além de dados sobre saúde mental e dispositivos eletrônicos de fumo, o estudo também abordou depressão, alcoolismo, tabagismo, hábitos alimentares e sedentarismo, além de mostrar como a pandemia afetou o enfrentamento de doenças crônicas não transmissíveis no país.
Tabagismo e narguilé
Na comparação entre o período pré-pandemia e o primeiro trimestre deste ano, o número de tabagistas na população brasileira se manteve estável: foi de 14,2% para 12,2%. A região Norte foi a única que apresentou queda: de 12,1% para 8%.
Já outro dado inédito da pesquisa foi de uso de narguilé entre a população brasileira. O estudo mostrou que a taxa de experimentação de narguilé entre os jovens de 18 a 24 anos é de 17%. Entre homens, 9,8% afirmam terem consumido, contra 5% das mulheres entre todas as faixas etárias da pesquisa.
Depressão
Antes da pandemia, 9,6% da população brasileira havia recebido diagnóstico de depressão. No primeiro trimestre de 2022, este número saltou para 13,5%. Entre as mulheres e pessoas de maior escolaridade, houve aumento mais expressivo.
Mesmo com dados quantificados, Luciana Vasconcelos, assessora técnica de saúde pública e epidemiologia da Vital Strategies Brasil, acredita que pode haver subnotificação de casos de depressão, já que existe uma parcela da população que não possui acesso a serviços de saúde mental.
Outro ponto que Vasconcelos levanta é que o diagnóstico de depressão pode ter impacto direto na saúde. "A saúde mental afeta inclusive o estilo de vida das pessoas e tem que ser considerada como um fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis", afirmou, em entrevista coletiva para apresentação dos dados.
Sedentarismo e alimentação
Outro dado relevante da pesquisa é sobre a redução da prática de atividade física na população brasileira e no consumo de legumes e verduras. Além de se exercitar menos, os brasileiros passaram a se alimentar pior durante a pandemia.
Para Pedro Hallal, professor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e um dos coordenadores da pesquisa, o aumento da inatividade física no país pode ter consequências "catastróficas" a longo prazo, como aumento do risco de hipertensão, diabetes, infarto, derrame e outras doenças. Antes da pandemia, 38,6% dos brasileiros eram fisicamente ativos. Agora, 30,3%.
Entre o consumo de legumes e verduras, no Brasil pré-pandemia, 45,1% da população comia esses alimentos cinco ou mais dias da semana. Hoje, este número é de 39,5%. As mudanças alimentares se mostram mais expressivas entre quem perdeu o emprego no período da crise sanitária, entre pessoas de menor escolaridade e pessoas pretas ou pardas.
Para os pesquisadores, os dados mostram o quanto houve um aumento da desigualdade no país durante a pandemia.
O relatório Covitel foi financiado pela Umane e pelo Instituto Ibirapiranga e realizado pela Vital Strategies e pela UFPel, com apoio da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva).
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