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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Como o amor de mãe movimenta o seu cérebro

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Imagem: iStock

Colaboração para VivaBem

08/05/2022 11h25

Poucas coisas na vida são tão fortes quanto o amor de mãe e não é pra menos: nossa ligação com quem nos deu a vida ou nos criou é diferente de qualquer outra. Embora as ligações entre uma mãe e seu filho sejam muitas vezes indescritíveis, é possível entender este sentimento com ajuda da neurociência. Quem nos ajuda é Livia Ciacci, neurocientista do Método Supera.

Boa parte das espécies vivas manifestam zelo por seus filhotes, mas apenas os humanos se permitem relações humanas que envolvem fragilidade, o que estabelece confiança.

O vínculo da confiança, e todos os opiáceos e endorfinas liberados no corpo humano causando prazer e relaxamento, fazem com que nossas relações sejam mais constantes e duradouras. O que chamamos de amor decorre do fortalecimento dos vínculos, junto com o desenvolvimento mais complexo do cérebro e sistema límbico (aquele das emoções) e a cultura de convivência social.

"O amor passa a ser a fonte mais forte de socialização do ser humano. Foi o amor e a emoção que estabeleceu o modo de viver da espécie humana. É a emoção central da nossa história. Sem o amor de mãe, nós não formaríamos vínculos, sem vínculos não formaríamos os sistemas sociais, sem estes não haveria colaboração genuína. O amor materno é o 'adesivo' biológico da nossa sociedade", detalha a neurocientista.

Emoções: o início de tudo

Quando pensamos em vínculo de mãe e filho, sobretudo no ventre materno, precisamos entender para além das características físicas.

Na fase de formação do embrião, o feto está muito mais vulnerável a questões emocionais que também já o afetam. Por exemplo, o estresse intenso vivido por uma gestante afeta o volume do hipocampo do bebê, que é a área relacionada às memórias. Uma grávida que se preocupa muito e trabalha por longas horas, altera a enzima que impede que o cortisol (hormônio do estresse) passe para o bebê através da placenta, e o bebê nasce estressado.

Já o suporte materno precoce promove a expressão de genes específicos, neurogênese e desenvolvimento cerebral aprimorado. O hipocampo cresce duas vezes mais rápido em crianças cujas mães demonstravam afeto e apoio emocional, em comparação com as que eram mais distantes e sem tanto vínculo afetivo.

Hipocampo é responsável por habilidades como a memória, o aprendizado e o controle das emoções, e seu crescimento está associado com um desenvolvimento emocional mais saudável quando as crianças passavam para a adolescência.

O papel da ocitocina x pandemia

Com a pandemia, muitas pessoas tiveram sua saúde mental prejudicada pela falta de contato afetivo, o que ocasionou doenças como depressão e ansiedade. Isso pode estar relacionado à falta de ocitocina, importante para produção do bem-estar físico e emocional.

Essa pequena proteína, com apenas nove aminoácidos de comprimento, é às vezes chamada de "hormônio do amor" porque está relacionada à formação de casais, cuidados maternais e outros comportamentos sociais positivos e amorosos.

Eliana Nogueira do Vale, mestre em psicologia clínica no IP (Instituto de Psicologia) da USP (Universidade de São Paulo), explica que a ocitocina é produzida em diversas situações diferentes, sendo uma delas pelos estímulos sensoriais agradáveis.

"Por exemplo, estímulos táteis agradáveis: massagem, abraço, carinho no cabelo. Todas essas coisas fáceis vão trazer bem-estar. Estímulos auditivos: música, barulhinho de cachoeira, de mar." Além disso, ela destaca também que as relações amorosas, de amizade, de trabalho e o contato com duas ou mais pessoas produzem também ocitocina.

Com o home office e muito tempo em frente do computador, esses estímulos acabam se tornando mais raros. "Tudo isso que falei sobre bem-estar exige que se tenha tempo para fazer isso, que possa se dedicar a essas coisas agradáveis", pondera a especialista. Ela explica também que as "pessoas esgotadas não têm tempo para a vida familiar, para vida amorosa, para descansar, para ter lazer." Ou seja, problemas que vão além da questão pandêmica.

O amor que nos move

Agora você já sabe que o que você sente pela sua mãe faz o seu corpo funcionar melhor é preciso entender o amor também como um combustível para a longevidade.

"Alguns pesquisadores estudaram as 'zonas azuis' —regiões do mundo onde as pessoas vivem muito, passando dos 100 anos. E eles mostram que essas pessoas possuem fortes vínculos emocionais com a família, além de serem ativas cognitivamente e fisicamente", detalha Ciacci.

A especialista finaliza que, independentemente da sua relação materna ou com familiares é importante não subestimar a importância das emoções no autocuidado.

"Pelo seu bem e de quem você ama, procure resolver rápido brigas e desentendimentos, mesmo que não seja fisicamente. Uma ligação de vídeo aguça a audição e a visão, que mesmo não sendo o abraço, vai provocar as emoções positivas e alimentar o vínculo. Mães, vocês têm uma enorme responsabilidade e são as nossas heroínas, pois não apenas nos dão a vida, mas são a sustentação para que essa vida seja longa e feliz", conclui a especialista.