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Estudo associa obesidade com maior risco de fratura óssea em mulheres

Maioria das fraturas é resultado de uma queda, segundo a autora do estudo - iStock
Maioria das fraturas é resultado de uma queda, segundo a autora do estudo Imagem: iStock

Luiza Vidal

De VivaBem, em Maastricht (Holanda)*

09/05/2022 04h00

A associação entre pessoas com obesidade e o maior risco de fraturas ósseas é estudada há bastante tempo. Inclusive, diziam que a doença, na verdade, seria um fator de proteção contra o problema. Mas na sexta-feira (6), um estudo sobre o tema, com novos resultados, foi divulgado no Congresso Europeu de Obesidade, em Maastricht, na Holanda, que VivaBem acompanhou desde terça-feira (3).

Segundo os pesquisadores, mulheres com obesidade ou sobrepeso —principalmente as que têm a circunferência da cintura elevada— são mais suscetíveis a fraturas do que aquelas com peso considerado ideal. Nos homens, no entanto, o baixo peso, e não o excesso de peso, está associado a um maior risco de fraturas ósseas.

Anne-Frederique Turcotte, a autora principal do estudo, da unidade de Endocrinologia e Nefrologia do Centro de Pesquisa de Quebec, no Canadá, explicou, em entrevista à imprensa, que ainda não está claro o motivo da associação entre o risco de fratura em mulheres com obesidade. No entanto, há algumas hipóteses.

A maioria das fraturas é resultado de uma queda, que é mais comum entre as pessoas com excesso de peso. O tornozelo, ao contrário do quadril e do fêmur, não é protegido por tecidos moles, o que pode torná-lo mais propenso a quebrar durante uma queda.

"A circunferência da cintura foi mais fortemente associada a fraturas em mulheres do que o IMC (índice de massa corporal). Isso pode ser devido à gordura visceral —que é metabolicamente muito ativa e armazenada nas profundezas do abdome, envolvendo os órgãos— que pode soltar compostos que afetam negativamente a resistência óssea", disse a autora.

Um outro ponto, segundo Turcotte, é que as pessoas com obesidade podem demorar mais para estabilizar o corpo quando tropeçam, por exemplo. "Isso é particularmente pronunciado quando o peso está concentrado na parte frontal do corpo, sugerindo que indivíduos com distribuição de gordura corporal na região abdominal podem ter maior risco de queda", afirma.

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Imagem: iStock

Em entrevista a VivaBem, a pesquisadora do Canadá explica que o estudo possui algumas limitações, como utilizar como um dos métodos o IMC.

"Como a medida do IMC, a gente não sabe ao certo onde a gordura está localizada, já que ele mostra apenas um valor final . E nós sabemos que, dependendo de onde a gordura está localizada, isso pode afetar o metabolismo. Se ela estiver na região abdominal, isso pode aumentar os riscos problemas metabólicos e cardiovasculares, além de diabetes", fala.

Como o estudo foi feito

Turcotte e seus colegas da universidade analisaram dados do CARTaGENE, um banco de dados de 20 mil indivíduos com idades entre 40 e 70 anos de Quebec.

Os participantes foram selecionados aleatoriamente entre 2009 e 2010. Eles foram avaliados uma vez no recrutamento e acompanhados até março de 2016. O IMC e circunferência da cintura (CC, uma medida de obesidade abdominal) foram medidos na consulta inicial. As fraturas foram identificadas por meio de um algoritmo previamente validado.

As análises foram ajustadas para vários fatores que poderiam causar confusões, como idade, estado da menopausa, etnia, estado civil, escolaridade, renda, área de residência, tabagismo, consumo de álcool, nível de atividade física, ingestão suplementar de cálcio e vitamina D, histórico de fratura e comorbidades e medicamentos conhecidos por influenciar o risco de fratura.

Os principais achados

  • Durante um acompanhamento médio de 5,8 anos, 497 mulheres e 323 homens sofreram fratura (820 de 19.357 participantes).
  • Foram identificadas 415 fraturas osteoporóticas maiores (fraturas do quadril, fêmur, coluna, punho ou úmero): 260 em mulheres e 155 em homens.
  • Houve 353 fraturas do membro inferior distal (a parte da perna abaixo do joelho), como lesões no tornozelo, pé e tíbia inferior ou tíbia: 219 em mulheres e 134 em homens.
  • Os pesquisadores encontraram 203 fraturas do membro superior distal (o antebraço do cotovelo para baixo), na região do punho, antebraço ou cotovelo: 141 em mulheres e 62 em homens.
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Imagem: iStock

Diferenças entre mulheres e homens

Nas mulheres, a maior circunferência da cintura (CC) foi associada a um risco aumentado de fratura. Para cada aumento de 5 cm (duas polegadas) na CC, o risco de fratura em qualquer local foi 3% maior e o risco de fratura distal do membro inferior foi 7% maior. A associação entre CC e fraturas de tornozelo foi particularmente forte.

Nas mulheres, o maior IMC foi associado a um risco elevado de fraturas no tornozelo, pé e tíbia.

Comparadas com mulheres com IMC de 25 kg/m², aquelas com IMC de 27,5-40 kg/m² apresentaram maior risco de fraturas distais de membros inferiores. O aumento do risco aumentou linearmente de 5% naqueles com IMC de 27,5 kg/m², para 40% naqueles com IMC de 40 kg/m².

Mulheres com IMC mais baixo (22,5 kg/m²) apresentaram risco 5% menor de fraturas distais de membros inferiores do que aquelas com IMC de 25 kg/m².

Nos homens, aumentos no IMC e CC não foram significativamente associados a fraturas. No entanto, os participantes com baixo peso apresentaram maior risco de fraturas do punho, antebraço ou cotovelo do que aqueles com peso considerado dentro do ideal.

Homens com IMC maior ou igual a 17,5 kg/m² tiveram duas vezes mais chances de fratura de membro superior distal do que homens com IMC de 25 kg/m².

Os pesquisadores dizem que um número maior de fraturas em homens é necessário para determinar se este é um resultado verdadeiro ou se o padrão para os homens segue o das mulheres.

Resultados ajudam a pensar em formas de prevenção

Para a autora do estudo, a descoberta da relação entre obesidade (principalmente a que está relacionada com o aumento de gordura na região abdominal) e aumento de risco de fraturas tem grande impacto na saúde pública.

"Sabemos que os indivíduos com obesidade que sofrem uma fratura são mais propensos a ter outros problemas de saúde que podem causar uma reabilitação mais lenta, aumentar o risco de complicações pós-operatórias e má união (fraturas que podem não cicatrizar adequadamente), gerando custos substanciais de saúde", explica Turcotte.

Um outro ponto de preocupação citado pela autora é que o envelhecimento da população e o aumento da incidência de obesidade podem levar ao aumento das taxas de fraturas nos próximos anos.

E é exatamente por isso que os órgãos de saúde devem criar campanhas de prevenção para evitar o aumento da obesidade e, consequentemente, maiores números de fraturas ósseas, além de outras complicações que a doença pode causar.

*A repórter viajou a convite da Novo Nordisk.