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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Como ASMR e musicoterapia podem gerar bem-estar e ajudar quem tem ansiedade

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Isabella Abreu

Colaboração para o VivaBem

11/05/2022 04h00

A prática conhecida como ASMR, que quer dizer "resposta sensorial autônoma do meridiano", tem conquistado cada vez mais adeptos. Sucesso na internet, o método consiste em estímulos sensoriais por meio de sussurros, sons com a boca, toques em superfícies e recursos visuais.

Ainda há pouquíssimas pesquisas científicas, com dados empíricos, que mostram por que esses sons trazem tanto bem-estar a algumas pessoas, o que limita a compreensão sobre essa experiência. Entretanto, um estudo, feito por pesquisadores da Universidade Northumbria, no Reino Unido, e publicado em fevereiro no periódico Plos One, mostrou que pessoas que sofrem de transtorno de ansiedade são as mais beneficiadas pela técnica. Entre os participantes que disseram ser usuários recorrentes dos vídeos de ASMR foi observada uma queda no nível de ansiedade após assistirem aos vídeos da prática.

Tauily Taunay, psicólogo e professor dos cursos de psicologia da Unifor (Universidade de Fortaleza) e da UFC (Universidade Federal do Ceará), explica que se trata de um fenômeno sensorial, isto é, uma resposta psicofisiológica a estímulos sonoros e visuais específicos, na qual os indivíduos experimentam calafrios e arrepios que se iniciam na nuca e se espalham pelo couro cabeludo, descem pelas costas, podendo se manifestar nos membros e em outras áreas do corpo.

De um modo geral, Tauany acredita que a ASMR pode atuar como um estímulo indutor de bem-estar e de emoções positivas. "Seus praticantes costumam relatar sensações de relaxamento, ajudando no alívio de sintomas de ansiedade e estresse. Obviamente, não pode ser uma ferramenta terapêutica exclusiva para tratar tais condições, mas parece ajudar a reduzir temporariamente esses sintomas, como um complemento no tratamento", diz.

Música é aliada da saúde física e mental

Já a música, motivo de amplo estudo acadêmico ao longo das últimas décadas, é comprovadamente um estímulo positivo para o cérebro. São vários os impactos nas nossas emoções e no nosso comportamento. De acordo com Patrícia Vanzella, coordenadora do projeto Neurociência e Música da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC), ouvir música pode nos motivar, alterar nosso humor, modular a nossa percepção de dor e até mesmo estimular comportamentos pró-sociais.

"Estudos indicam que isso ocorre porque a música parece mexer com sistemas neuroquímicos que regulam a disponibilidade de substâncias diretamente relacionadas às experiências de recompensa, à regulação de níveis de excitabilidade e estresse, às respostas imunológicas e à percepção de afiliação social", diz Vanzella.

A especialista afirma que os momentos de prazer intenso gerados pela escuta musical são acompanhados de um aumento na liberação de dopamina no sistema de recompensa. Essa atividade encefálica é geralmente acompanhada por alterações em nosso sistema nervoso autônomo, que regula algumas funções do organismo, como mudanças na frequência cardíaca, na taxa de respiração, temperatura corporal, condutividade da pele e diâmetro das pupilas, por exemplo. "Se você já chegou a experimentar um gostoso arrepio ao ouvir um trecho musical que fez você se emocionar é porque a música mexeu com todos esses parâmetros", diz.

Outra resposta que ocorre de forma automática ao ouvirmos música é o impulso ao movimento. Isso torna-se bastante óbvio quando, por exemplo, entramos em um ambiente no qual tem uma música animada tocando ao fundo. Muitas vezes, começamos a "marcar o tempo" com os pés ou a balançar a cabeça no ritmo da música. "Nosso sistema nervoso, sem que tenhamos consciência disso, extrai a regularidade dos pulsos da música que estamos ouvindo e, quando menos percebemos, estamos nos movimentando. Isso ocorre porque em nosso cérebro há circuitos neurais que conectam áreas cerebrais auditivas a áreas motoras e, ao ouvir música, ocorre uma ativação automática em regiões que nos preparam para o movimento. Daí aquela vontade de dançar", explica.

Patrícia conta que as respostas à música vão além de ativações em áreas encefálicas relacionadas ao sistema de recompensa e emoções. Quando olhamos para o cérebro que aprecia ou faz música vemos uma atividade abrangente por todo o encéfalo, o que envolve praticamente todas as funções mentais (como atenção, memória, planejamento motor, percepção). "Por essa razão, a música pode ser uma ferramenta altamente eficaz tanto no tratamento de determinadas condições clínicas quanto na promoção de saúde mental e bem-estar", diz.

Casal de idosos dançando feliz, velho, velha, idoso, idosa - iStock - iStock
A música também pode melhorar nosso humor. Aliás, essa é uma das principais razões pelas quais as pessoas ouvem música ou se engajam em algum tipo de atividade musical
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Como é uma sessão de musicoterapia

Aceitos pelo SUS (Sistema Único de Saúde) desde 2017, tratamentos que utilizam a música já são usados para auxiliar pacientes com TEA (Transtorno do Espectro do Autismo), T21 (Síndrome de Down), Alzheimer e outras demências, doença de Parkinson, dor crônica, pessoas que sofreram um AVE (Acidente vascular encefálico) e pessoas em coma.

"Paralelamente, têm crescido os trabalhos com foco em prevenção e promoção de saúde, como é o caso de musicoterapia com gestantes, com bebês e primeira infância; musicoterapia no envelhecimento ativo e saudável; musicoterapia organizacional; musicoterapia na saúde mental", afirma Luisiana Passarini, musicoterapeuta e mestranda no programa de pós-Graduação em neurociência e cognição na UFBABC (Universidade Federal do ABC).

Ela explica que o que predomina na prática brasileira é a musicoterapia ativa (ou interativa), na qual o paciente é convidado a interagir musicalmente com o musicoterapeuta. "O 'convite' é feito através de técnicas musicoterapêuticas de composição, improvisação, recriação e/ou audição", diz.

Em uma sessão é possível cantar, tocar, dançar ou expressar o silêncio, a pausa. As propostas são personalizadas e realizadas de acordo com o plano terapêutico de cada paciente, estabelecido em avaliações ao longo do tratamento. "São utilizados instrumentos musicais simples, de fácil manuseio, com a intenção de facilitar a expressão e a comunicação entre as pessoas que vivenciam a música juntas. Ou seja, o paciente não precisa ter conhecimento musical, saber tocar um instrumento ou cantar afinado para ser atendido em musicoterapia", enfatiza.

Quando o barulho faz mal

Diferentemente dos nossos olhos, nossos ouvidos não têm pálpebras para fecharmos quando não queremos receber uma informação e, portanto, estão constantemente recebendo estímulos, como buzinas, barulhos de carros passando na rua ou de obras.

Segundo Patrícia Vanzella, há evidências de que a exposição repetida a ambientes excessivamente ruidosos pode ser nociva e conduzir a problemas auditivos, distúrbios do sono, sobrecarga cognitiva e até mesmo ao estresse. "Os níveis de ruído urbano e em ambientes organizacionais e hospitalares (UTIs, principalmente) deveriam ser pauta nos programas de saúde pública. Como não são e o assunto é pouco discutido, precisamos tomar medidas individuais sempre que possível", afirma.

A musicoterapeuta Luisiana Passarini recomenda, por exemplo, que estejamos atentos aos diferentes ambientes sonoros nos quais passamos grande parte do dia e dá algumas dicas: "Sempre que possível, mantenha sua casa ou seu trabalho o menos ruidoso possível: desligue um dispositivo, abaixe um volume etc. Quando não estiver ao seu alcance melhorar o nível de ruído ambiente, um bom protetor auricular ou um fone de ouvido podem ajudar, com músicas agradáveis para você (mas em volume adequado para não danificar sua audição)", sugere.