É verdade que raspar o cabelo faz ele crescer mais forte e diferente?
Cabelos têm função importante na vida do ser humano, por proteger a cabeça da ação nociva dos raios solares no calor e atuar como um isolante térmico no frio, além de atuar como barreira física contra possíveis impactos e ferimentos.
Por outro lado, o cabelo possui forte apelo estético, que contribui —e muito— para a construção da nossa personalidade. Assim, é natural buscar formas de modificá-lo, passando, por exemplo, por uma radical raspagem para que os fios cresçam mais fortes e diferentes. No entanto, não é isso o que acontece, e essa impressão é pura ilusão de ótica.
De acordo com a dermatologista Mariana Andrade Lima, essa sensação não passa de mito. "Quando usamos lâminas como método depilatório, o fio não é removido pela raiz, ele é cortado rente à pele, onde o diâmetro das hastes capilares é maior. Esses fios vão crescer então dessa parte onde foi raspado, dando um aspecto temporário de que se trata de um fio mais espesso, o que não é verdade", explica.
O cabelo cresce em ciclos. Cada fio cresce por aproximadamente seis anos, depois entra numa fase de repouso que dura três meses e cai. "Assim, cortes na extensão do fio não interferem nessa fase do ciclo. Entretanto, quando cortamos o fio pela haste o diâmetro parece maior do que quando deixamos crescer espontaneamente. No crescimento normal, a extremidade distal, da ponta, começa um pouco mais fina até que chegue à espessura normal", explica Fabiane Mulinari Brenner, professora de dermatologia.
É por isso que há essa sensação de o cabelo estar diferente. Os fios mais longos têm a ponta mais afinada, pois já sofreram a ação de intempéries, como a exposição à radiação ultravioleta e tratamentos químicos.
Ao cortar, especialmente os cabelos e pelos mais curtos, pode-se perceber a diferença do diâmetro da haste. Brenner aponta como exemplo, cortes feitos com a lâmina de barbear.
Crescimento do cabelo
Outro mito muito comum entre as pessoas é que cortar o cabelo faz com que ele cresça mais rápido e melhor. Embora cortar os cabelos com uma certa frequência seja aconselhável para que as pontas mais ressecadas e danificadas sejam removidas, o procedimento não fará com que os fios cresçam mais rápido e melhor.
De acordo com Brenner, o crescimento do fio é orquestrado pelo folículo. Diversos fatores podem interferir nisto. Fatores hormonais, genéticos e alguns medicamentos podem fazer com que o fio cresça mais fino e reduza o volume geral dos cabelos.
"Medicamentos usados para quimioterapia podem interferir na forma como o cabelo cresce, transformando um cabelo liso em crespo ou vice-versa", adverte.
Na verdade, o processo de crescimento dos cabelos é determinado geneticamente, com as hastes crescendo entre 0,8 a 1,2 cm por mês. Em algumas pessoas, na adolescência e mais raramente na menopausa, nota-se uma mudança no aspecto das hastes capilares.
"Tratamentos químicos agressivos e sem os devidos cuidados podem deixar as hastes capilares mais fragilizadas e até mais porosas. Esses fios se quebram com mais facilidade e os pacientes têm a sensação de que os cabelos não estão crescendo como deveriam", pondera Lima.
De fato, os tratamentos químicos podem danificar a haste aumentando a quebra. Isto vale para alisamentos e tintura. "Ao realizar estes tratamentos é facilmente visível a taxa de crescimento dos fios, quando tingimos percebemos nitidamente o crescimento do fio não tingido, natural, pela raiz —este fato facilita a visualização do crescimento nestas pessoas", informa Brenner.
A exposição solar é outro fator determinante no crescimento, uma vez que resseca os fios e pode interferir na coloração, deixando mais amarelado ou mais claro, especialmente as pontas dos cabelos. "Isto faz com que as hastes dos cabelos fiquem mais quebradiças dando a sensação de que o cabelo não está crescendo, quando na verdade ele está quebrando nas pontas, apesar do crescimento pela raiz", esclarece Brenner.
Problemas na raspagem
Ao decidir raspar os cabelos, convém atentar-se para alguns cuidados, evitando contratempos, como pequenos traumas e ferimentos no couro cabeludo, especialmente quando são usadas lâminas inadequadas. "Muito raramente esses ferimentos podem infectar e necessitam de tratamento médico para evitar a formação de cicatrizes no local", orienta Lima.
Outros problemas que podem surgir quando da raspagem dos fios são as inflamações no ponto de saída —foliculites—, ou fios encravados quando o cabelo começa a crescer, fenômeno chamado de pseudofoliculite.
"Assim, para a raspagem dos cabelos, é bom evitar o uso das lâminas de barbear, que podem facilitar a foliculite. Máquinas de corte são ideais, uma vez que o corte fica a 1 mm do couro cabeludo, reduzindo o risco do problema. Mas no caso de uso da lâmina de barbear, convém aplicar a lâmina no sentido do crescimento do pelo", recomenda Brenner.
Cuidados com a cabeça
A principal função dos cabelos, como já mencionado, é a proteção da cabeça. Proteção em relação a traumas que são mais frequentes nos pacientes carecas, mas principalmente proteção solar.
"As pessoas que optam por raspar a cabeça, precisam incluir na rotina o uso de filtro solar ou chapéu, pois a incidência de câncer de pele nesta área é alta", recomenda Brenner. Além do protetor solar e uso de chapéus com proteção UV, Lima lembra ser fundamental manter a frequência de lavagens.
Fontes: Fabiane Mulinari Brenner, professora de dermatologia da UFPR (Universidade Federal do Paraná), coordenadora do Departamento de Cabelos da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia); e Mariana Andrade Lima, médica dermatologista titular da SBD, fellow em doenças dos cabelos e do couro cabeludo pela Universidade de Miami (EUA), professora do ambulatório de alopecias da Santa Casa de Misericórdia do Recife (CEDER).
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