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Enxaqueca não é só dor de cabeça: processo inflamatório atinge mais regiões

Estudo confirma a presença de pontos de gatilho no músculo trapézio de pacientes, comprovando a existência de processos inflamatórios que fazem a dor ir além da cabeça - iStock
Estudo confirma a presença de pontos de gatilho no músculo trapézio de pacientes, comprovando a existência de processos inflamatórios que fazem a dor ir além da cabeça Imagem: iStock

Caroline Furquim

Da Agência Einstein

11/05/2022 11h03

Os sintomas de enxaqueca estão fortemente associados à dor de cabeça - que pode, muitas vezes, ser incapacitante -, mas não se restringem a apenas isso. Entre outras repercussões, pacientes enxaquecosos podem apresentar também dores no pescoço e até mesmo na musculatura dos ombros. Isso é o que aponta um estudo publicado na Cephalalgia, a revista oficial da International Headache Society (IHS), que avaliou os músculos trapézios (que fica na região dos ombros) de pessoas com enxaqueca, a partir de exames de ressonância magnética.

No estudo, foram avaliados 21 indivíduos com enxaqueca e 22 pessoas saudáveis (sem histórico da doença) para se estabelecer o comparativo. Nos resultados, os pesquisadores verificaram que todos aqueles com enxaqueca tinham pontos de gatilho miofasciais no músculo trapézio, além de sinais que indicavam processos inflamatórios na musculatura.

"A enxaqueca é uma queixa extremamente comum e que frequentemente está associada a outras dores. A anamnese desses pacientes inclui a investigação de dores nos ombros, na face e na coluna cervical, quase sempre confirmadas por eles. Alguns pacientes com dores crônicas 'selecionam' a dor mais intensa [no caso, a dor de cabeça] e às vezes não se dão conta de outras dores associadas", diz o médico neurologista Paulo Faro, especialista em cefaleia e membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia.

Faro ressalta que a cervicalgia (dor no pescoço), por exemplo, é frequente em pacientes com enxaqueca. "Há evidências de processos inflamatórios no músculo trapézio e isso é bem visto na prática clínica. O estudo em questão veio reforçar esse achado."

No estudo, entre aqueles que apresentaram alterações musculares, não houve diferenças significativas em relação à idade, sexo, índice de massa corporal ou número de pontos de gatilho miofasciais. "Porém, o que se constatou foi que todos os pacientes com enxaqueca apresentaram esses pontos nos músculos trapézios, de forma significativamente maior quando comparado ao grupo controle, ou seja, aqueles sem a condição", continua o especialista. "Essa pesquisa está alinhada com as evidências que revelam um processo inflamatório periférico provocado pela enxaqueca, provando, mais uma vez, que a doença não é apenas uma simples dor de cabeça."

Afinal, qual é a relação?

Faro explica que o complexo trigêmino-cervical é a estrutura chave para compreender o fenômeno que explicita a relação enxaqueca e dor muscular. "Há uma conexão de nervos que levam a informação de dor na cabeça e nos ombros. Em uma enxaqueca pesada, por exemplo, ramos do nervo trigêmeo, responsável pela sensibilidade da região da cabeça, ativam os nervos cervicais, estimulando-os e também estimulando os músculos da região, que se tornam sensibilizados", explica.

O médico comenta que, em casos de enxaquecas frequentes (diárias ou semanais), a provocação de estímulos repetitivos torna a musculatura da face, pescoço e ombros cada vez mais sensível, levando a pessoa a sentir dores espontâneas.

Na pesquisa, os resultados da ressonância magnética foram divididos em sequências e cada uma mostrava uma alteração em dada estrutura estudada. Na sequência utilizada, foi demonstrado o processo inflamatório hiperintenso (ou seja, mais claro na imagem), sugerindo que aquela região está inflamada. "A enxaqueca ativada provoca um processo inflamatório na musculatura do trapézio, que foi o músculo alvo do estudo. Porém, outros músculos também demonstram essa inflamação", esclarece Faro. Trabalhos futuros podem validar esse achado em amostras maiores, mas os pesquisadores acreditam que esse fator inflamatório pode ter potencial para se tornar um biomarcador viável.