Pesquisa aponta que diabetes e obesidade crescem entre indígenas no Pará
Resumo da notícia
- Pesquisadores identificam o surgimento de doenças crônicas como hipertensão, obesidade e diabetes tipo II em grupos indígenas da região do Xingu
- Crescimento dos casos pode ter relação com predisposições genéticas e com mudanças na dieta, como o maior consumo de alimentos ultraprocessados
- Pesquisadores buscam contribuir na identificação de perfil genético das populações indígenas brasileiras para possibilitar medicina personalizada
As doenças crônicas, como a obesidade, diabetes tipo II e hipertensão, são multifatoriais e atingem boa parte da população brasileira. Estudo publicado na revista "Genetics and Molecular Biology" na quarta (11) identifica o surgimento dessas doenças crônicas também em grupos indígenas da região do Xingu e do polo de Marabá, sudoeste do Pará.
Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) apontam para um processo inicial de mudanças metabólicas e nutricionais e dos padrões de doenças característicos dessas populações.
O estudo de campo foi conduzido por uma equipe multiprofissional junto a aldeias de povos indígenas da região do rio Xingu, em Altamira, e na Terra Indígena Mãe Maria, em Bom Jesus do Tocantins, no Estado do Pará, entre 2007 e 2014.
Participaram do estudo 628 indígenas dos grupos Arara, Araweté, Asurini do Xingu, Parakanã, Xikrin do Bacajá e Gavião Kyikatêjê.
"A maioria dos exames para coleta dos dados foi feita na própria aldeia. Coletávamos amostras de sangue, após a autorização dos povos para realização da pesquisa, e a análise era feita ali mesmo, com equipamentos que eram levados pelas equipes. Os resultados eram dados aos indígenas no mesmo dia, junto das orientações e medicamentos para tratamento das doenças", explica o médico e cientista João Guerreiro, um dos autores do estudo.
Fora do campo, os pesquisadores realizaram apenas as análises genéticas. "As doenças infecciosas ainda são predominantes, mas pudemos perceber o aparecimento das doenças metabólicas crônicas nas etnias analisadas", explica Guerreiro.
A transição pode ser atribuída a predisposições genéticas dos indivíduos e a mudanças na alimentação. "Cada vez mais, observamos a inclusão de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar e gordura, na dieta indígena, se assemelhando à dieta ocidental", aponta o autor.
Os pesquisadores também constataram que diversos genes descritos como fatores de risco para as doenças metabólicas na população europeia, africana e asiática não podem ser utilizados como referências para populações indígenas.
"Observamos que nem sempre é possível utilizar os dados europeus como referenciais para populações indígenas, pois estas possuem suas diferenças biológicas e suscetibilidade para doenças", explica João Guerreiro.
"Os processos de transição epidemiológica diferem entre populações. É provável que existam variações genéticas características da população indígena", acrescenta o cientista.
A pesquisa, que faz parte de um projeto piloto, auxilia na identificação do perfil genético dos indígenas. O objetivo é possibilitar, no futuro, uma medicina personalizada para essa população.
"A partir do nosso trabalho, ao identificarmos os genes da população indígena, podemos estender esses resultados para a população brasileira em geral, visto que é uma população miscigenada, possibilitando, cada vez mais, uma medicina personalizada", conclui o pesquisador.
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