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Conexão VivaBem

Dicas para ajudar a cuidar do corpo, da mente e da alimentação de forma descomplicada


Burnout tem tratamento? Como é feito? Pode mudar o cérebro? Tire dúvidas

Colaboração para VivaBem

13/05/2022 11h00

No quarto episódio da terceira temporada do Conexão VivaBem, a apresentadora Mariana Ferrão contou com as presenças da jornalista Izabella Camargo e do psiquiatra Luiz Zoldan para um bate-papo sobre burnout. A jornalista teve um apagão no ar alguns anos atrás e recebeu o diagnóstico do problema.

Durante a conversa, o psiquiatra tirou dúvidas sobre a síndrome:

O que é burnout?

Em janeiro de 2022, o burnout foi incluído na nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11) e reconhecido como uma síndrome ocupacional com questões relacionadas ao trabalho. Trata-se de conjunto de sinais e sintomas prioritariamente mentais, mas que também podem se expressar no corpo.

O que caracteriza o burnout?

O burnout tem três domínios essenciais: o primeiro deles é a exaustão, e não estamos falando de um cansaço simples, mas de uma falência quase completa das funções cognitivas e da capacidade mental e física da pessoa, de acordo com o psiquiatra. "O cansaço, impaciência e irritabilidade fazem parte dos sintomas relacionados à exaustão, dificuldade de tomada de decisão."

O segundo domínio é a despersonalização, que é a ausência de si mesmo, o indivíduo não se reconhece mais, e não reconhece mais a dor e nem a alegria do outro. Ele passa a não se conectar mais.

O terceiro domínio é a baixa realização profissional. "Por isso [a síndrome] está realmente ligada ao trabalho, porque precisa haver essa sensação de que: 'Poxa, mas eu gostava tanto, fazia tão bem e agora não faz mais sentido para mim'." O médico esclarece que não é que o trabalho deixou de fazer sentido, mas é porque a pessoa não consegue mais executar e não conseguiu estabelecer limites.

Caso a empresa não afaste o trabalhador, o que ele pode fazer para se sentir melhor?

Se a pessoa está vivenciando essa situação e entende que a organização não vai tomar nenhuma providência e nem mudar, o ideal é sair, mas muitas vezes isso não é possível. Caso ela tenha que permanecer, é preciso começar a se proteger, principalmente antes do burnout se instalar, porque depois de instalado é muito mais difícil.

Segundo o psiquiatra, a prevenção é essencial e pode ser feita a partir de um estilo de vida mais saudável, ou seja, com a alimentação e sono adequados, prática de atividade física e evitando o uso de substâncias nocivas.

"Muita gente usa o álcool como um recurso de relaxamento para o estresse do trabalho. Isso está completamente inadequado, porque por mais que dê um relaxamento momentâneo, o dia seguinte é pior. Você já está sofrendo tanta agressão no trabalho e você próprio agride o seu corpo fumando, bebendo ou usando outras substâncias", comenta.

Como é a reintegração?

Essa reintegração depende de vários fatores, o principal deles é saber se o trabalhador está preparado para retornar —muitas vezes o afastamento precisa ser maior do que os 15 dias iniciais.

Muitas organizações não dão esse tempo de recuperação. "Esse tempo de recuperação não necessariamente são folgas ou férias, mas é nas férias poder não trabalhar, nos finais de semanas poder não ser acionado e fazer micropausas ao longo do dia, por exemplo", comenta Zoldan.

Um outro ponto é o profissional ter resiliência e saber que existem formas de dizer não no trabalho para reduzir o estresse. "Ajustar a sua agenda se priorizando significa saúde."

Como é o tratamento?

É longo e vai levar um tempo até a recuperação completa. O tratamento começa com o autocuidado da pessoa que precisará do suporte da psicoterapia. "Ela é necessária para que você comece a reconhecer os seus limites e a buscar novas ferramentas para lidar e gerenciar o estresse de uma maneira melhor, mudando ou não de ambiente", afirma o psiquiatra.

O uso de medicamentos do tipo antidepressivos, ansiolíticos e indutores de sono podem ser prescritos em casos de sintomas como blecautes, apagões, irritabilidade, impaciência, agressividade, além de sintomas depressivos e crises de ansiedade, que podem acontecer relacionadas ao burnout.

Segundo Zoldan, é importante o paciente estabelecer um vínculo de confiança com o médico e negociar o tratamento com ele. "A gente tem uma cultura de obedecer o que o médico fala, hoje temos mais acesso à informação do que se tinha antes. O tratamento deve ser construído a partir das demandas do paciente."

Uma outra ferramenta que pode ajudar é a meditação no sentido de treinar o foco, a presença e a atenção. "O burnout também está relacionado a preocupação excessiva, a cobrança de coisas futuras que não aconteceram. O mindfulness pode ajudar bastante", opina.

Burnout pode mudar o cérebro?

Sim, a maioria das pesquisas tem evidenciado que, a partir do estresse crônico, existe um afinamento da região do córtex pré-frontal.

"A gente está diminuindo a nossa capacidade de planejamento, de tomada de decisão, que é responsabilidade dessa área. Ao mesmo tempo que com muito estresse, existe o crescimento de uma outra área, chamada amígdala, que é a área que controla as nossas emoções", explica Luiz.