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Gordura trans é tão ruim quanto dizem? Entenda perigos do consumo elevado

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Imagem: iStock

Luiza Ferraz

Colaboração para o VivaBem

18/05/2022 04h00

A gordura trans é uma das maiores inimigas de um estilo de vida saudável. Ao mesmo tempo que traz malefícios à saúde, ela também está presente em boa parte das guloseimas que tanto agradam o paladar da população em geral.

Esse tipo de gordura pode existir naturalmente —é possível encontrá-la, por exemplo, em pequenas quantidades em leites e carnes de origem animal. Mas sua principal produção é artificial, com a hidrogenação parcial de óleos vegetais submetidos a altas temperaturas, mudando suas características físicas e os tornando sólidos, ou seja, mais fáceis de serem usados.

Na forma artificial, ela é usada para aumentar o prazo de validade e melhorar a textura dos alimentos, como salgadinhos, biscoitos recheados, sorvetes, produtos congelados prontos para consumo, pipoca pronta de micro-ondas, entre outros, segundo Cláudia Chang, pós-doutora em endocrinologia e metabologia pela USP (Universidade de São Paulo).

De acordo com um levantamento de 2018 da OMS (Organização Mundial da Saúde), o consumo da gordura trans está relacionado a mais de 500 mil mortes por ano por doenças cardiovasculares.

"O quadro chamado de angina (causada pela obstrução das artérias coronárias), infarto e acidentes vasculares cerebrais estão entre as doenças mais significativas e que têm relação com um perfil alimentar de alta ingestão dessa gordura", explica Ricardo Casalino, doutor em cardiologia pela USP.

Por que a gordura trans é ruim?

Diferente da gordura insaturada, que é considerada boa e está presente em alimentos de origem vegetal, ou até da gordura saturada, que, em certa quantidade, é uma importante fonte de energia, a trans não tem benefícios e em longo prazo causa grandes impactos à saúde.

Todo esse temor não é à toa: ela tem o poder de afetar o perfil lipídico de cada indivíduo, aumentando os níveis do LDL, que é o colesterol "ruim", e abaixando o HDL, que é conhecido como colesterol "bom".

O aumento do LDL leva ao entupimento das artérias, podendo causar maiores complicações, como o infarto agudo no miocárdio e o derrame. Segundo Chang, isso também está relacionado a outras doenças metabólicas, como a esteatose hepática, que é o acúmulo de gordura no fígado.

Uma pessoa que já tem os vasos sanguíneos comprometidos precisa usar uma série de medicações. "Além dos remédios para controlar o colesterol, existem outras medidas que vão de acordo com o histórico de cada um, como o controle da pressão e do diabetes", diz Casalino.

O especialista ainda recomenda que, no tratamento e na evitação dessas doenças, seja evitado o tabagismo, o sedentarismo e ainda haja uma revisão profunda do cardápio ao lado de um nutricionista ou nutrólogo.

Há indicação de consumo?

Não há segredo quanto a isso: a gordura trans não é recomendada de nenhuma forma. Mas, como é difícil fugir completamente do seu consumo, existem algumas diretrizes para que ela não comprometa a saúde.

Segundo Laryssa Carvalho, nutricionista do Hospital São Domingos, no Maranhão, a recomendação é para que, em uma dieta de 2.000 calorias diárias, somente 1% seja proveniente dessa substância —segundo a OMS, são, no máximo, 2 gramas a cada 100 g de óleos e gorduras.

A especialista ainda recomenda algumas substituições: um sorvete industrializado pode ser trocado por frutas congeladas batidas no liquidificador, dando densidade e cremosidade. É importante ter uma dieta rica em alimentos naturais, pensando sempre em "descascar mais e desembalar menos".

Combate à gordura trans nos alimentos

A OMS tem a missão de eliminar a gordura trans de todos os alimentos industrializados ao redor do mundo até o fim de 2023. Isso está sendo feito com medidas de regulamentação e conscientização em diversos países.

Algumas providências já estão sendo tomadas no Brasil. Em 2003, foi estabelecido que os rótulos devem, obrigatoriamente, declarar a quantidade de gorduras trans presentes nos produtos. Mas existe uma "pegadinha": a resolução permite que alimentos que tenham quantidade menor ou igual a 0,2 g por porção possam se declarar como isentos dessa gordura.

Essa iniciativa causou preocupação, já que pode acarretar no aumento do consumo desse tipo e gordura pela alta ingestão desses produtos. Uma dica é checar os ingredientes: se estiver escrito que há "gordura parcialmente hidrogenada", significa que ele não é completamente livre de trans.

Em 2019, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou regras para que essa substância seja completamente banida dos produtos até o próximo ano (2023). Todos os óleos vegetais e alimentos industrializados do supermercado deverão adotar um limite de até 2% de trans, eliminando, aos poucos, a sua venda e consumo.