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Estrôncio e osteoporose: qual o papel desse elemento químico para os ossos?

USP - Rebeca Fonseca
Imagem: USP - Rebeca Fonseca

Gabriel Gama Teixeira

Do Jornal da USP

19/05/2022 09h25

Pesquisa do Departamento de Química da FFCLRP (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto) da USP analisou a influência do elemento químico estrôncio, em sua forma iônica (Sr2+), na formação óssea utilizando modelos biomiméticos, ou seja, que imitam a estrutura e composição do tecido in vivo.

O estudo, realizado pela pesquisadora Camila Tovani, mostrou que altas concentrações de estrôncio podem promover a desestabilização dos principais componentes ligados à formação dos ossos, o que explica o desenvolvimento de patologias associadas ao acúmulo deste elemento no tecido.

Os resultados parciais do estudo podem ser encontrados no texto Formation of stable strontium-rich amorphous calcium phosphate: Possible effects on bone mineral e em sua pesquisa de doutorado, que foi uma das ganhadoras do Prêmio Capes de Teses 2021.

De acordo com a pesquisadora, o ranelato de estrôncio era um fármaco amplamente prescrito para pacientes com osteoporose, doença caracterizada pela perda progressiva da massa óssea, e que inspirou o uso do elemento químico em diversos tratamentos da doença.

O fármaco foi descontinuado devido a efeitos colaterais, como doenças cardiovasculares, relacionados à necessidade de administração em alta dosagem. Porém, o efeito dessa prescrição na estrutura da hidroxiapatita, mineral presente nos ossos, não havia sido investigado.

Ensaios in vitro levantavam suspeitas sobre uma possível influência negativa de altas concentrações de Sr2+ sobre a saúde dos ossos, o que levou a cientista a desenvolver um estudo, durante seu doutorado, sob orientação da professora Ana Paula Ramos, do Departamento de Química da FFCLRP, que investigasse qual o impacto real deste íon no tecido ósseo.

Questionada sobre os impactos da descoberta, Tovani espera que novos fármacos contendo estrôncio, que resultem em efeitos positivos sobre o tecido ósseo em baixa dosagem, possam ser desenvolvidos. Este íon pode auxiliar na regulagem de células importantes para manutenção da estrutura óssea e não deve ser descartado como possibilidade de terapia.

"Nosso principal objetivo era investigar os diferentes impactos do estrôncio utilizando modelos sintetizados em laboratório que imitassem a fase orgânica (colágeno) e inorgânica (apatita) do tecido ósseo, em termos de estrutura e composição. A fase orgânica, formada principalmente por fibras de colágeno, e a fase mineral, composta de nanopartículas de fosfato de cálcio, que têm propriedades específicas e difíceis de serem reproduzidas artificialmente", diz a pesquisadora.

O uso desses modelos é útil na previsão de possíveis efeitos in vivo, minimizando o uso de animais nas pesquisas.

"O modelo biomimético desenvolvido por nós, em Ribeirão Preto, e em parceria com a pesquisadora Nadine Nassif, da Universidade Sorbonne, na França, pode ser usado para investigar o efeito de outros elementos químicos, auxiliando no estudo de diversas doenças que atingem o tecido ósseo", comenta a especialista.

Atualmente, ela realiza pós-doutorado na Universidade Sorbonne, onde desenvolve pesquisas avançadas sobre a mineralização óssea. "A osteoporose é uma das doenças que mais afetam a população idosa, e trazer a discussão sobre a dose dos remédios administrados e as condições de cada paciente é importante para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas", conclui.