Maldade pode ser fruto de traumas e ambiente, mas também transtorno mental
Uma pessoa nasce maldosa ou se torna cruel ao longo da vida? Segundo a psicologia e a psiquiatria, a maldade pode ser fruto de vários fatores que vão de transtorno de personalidade às vivências sofridas na infância.
Quando é um transtorno mental, o mais relacionado à maldade é o TPA (transtorno de personalidade antissocial), espectro que engloba a sociopatia e a psicopatia, embora existam outros relacionados à "personalidade má" ou a algumas atitudes violentas ocasionais.
O sociopata se caracteriza por um padrão recorrente de comportamentos desviantes e falta de empatia. Já o psicopata, além dessas características, necessita adotar um comportamento criminal recidivo ou ter potencial para isso. Mas antes de ir chamando qualquer pessoa que o tratou mal de psicopata, o diagnóstico só pode ser dado conforme critérios estabelecidos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM-5.
Quem possui o diagnóstico de psicopata ou sociopata dificilmente demonstra remorso em suas ações e o poder de manipulação, típico do quadro de TPA, se sobressai.
Mas há tratamento. Os sintomas, como agressividade exacerbada, podem ser controlados através do uso de estabilizadores de humor e antidepressivos prescritos por médicos, principalmente psiquiatras. No âmbito da psicologia, uma das abordagens que vem se destacando no tratamento é a terapia cognitivo-comportamental, ou TCC, que pode auxiliar no controle de agressividade e de impulsividade, por exemplo. No entanto, o efeito do tratamento é pontual e de curto prazo, não um "transformador" da personalidade.
Influência genética e ambiente também explicam
Por trás do transtorno de personalidade antissocial há uma influência genética relevante. No entanto, não é o único fator causal. Sabe-se que características biológicas inatas do indivíduo, condições socioeconômicas desfavoráveis e fatores ambientais adversos (traumas, violência e negligência, principalmente nos primeiros anos de vida) são de grande relevância para causa do transtorno. É importante mencionar que não é impossível mapear um criminoso, por exemplo, tendo como base apenas a sua genética, assim como não existe um "gene da maldade" —tampouco um "gene da bondade".
Vale também saber que tudo o que somos tem um componente biológico por trás. Nossa estrutura corporal e a constituição do nosso sistema nervoso central —que será o grande regente de nossas expressões comportamentais— dependem de uma orientação que ocorre através de nossos genes. No entanto, o gene sempre é confundido com uma profecia, algo irremediável. Mas não é.
Há genes que podem predispor a uma maior reatividade em situações de estresse, podendo aumentar a chance de expressão de comportamentos agressivos, por exemplo. No entanto, especialistas defendem que essa visão mágica e reducionista do gene precisa ser revista. Os genes traçam caminhos e predispõem nosso organismo a determinados tipos de reações, mas o ambiente tem um papel fundamental também na ativação ou no silenciamento de algumas dessas tendências genéticas.
No que se refere à maldade no sentido patológico —o transtorno de personalidade—, há sinalização de um componente hereditário na composição do quadro, mas não um único gene sendo responsável pelo transtorno como um todo.
Contexto, subjetividade e dualidade humana
O que faz de fato uma pessoa boa ou má pode ter um componente bastante subjetivo, porque essas são classificações relacionadas com expectativas sociais —e as normas sociais não são universais ou estáticas. No entanto, é importante ressaltar que a pessoa ser má pode ser fruto de um ato isolado: em um contexto específico ela foi considerada maldosa pelas pessoas que tiveram suas expectativas de colaboração quebradas, por exemplo.
Em última instância, todos nós já fomos considerados pessoas más em algum contexto. O diferencial, que tem a ver com esse rótulo de maldade, estaria relacionado à recorrência desse tipo de ação.
Nenhuma pessoa é completamente má ou 100% boa. Psicológica e biologicamente falando, todos nós temos a condição de fazer o bem a alguém e também causar o mal conforme o contexto, a necessidade ou as circunstâncias. Trata-se da dualidade que todo ser humano traz em si.
Fontes: Andrezza Paula Brito Silva, psiquiatra forense da APBr (Associação Psiquiátrica de Brasília); Maria Bernadete Cordeiro de Sousa, professora titular do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte); Pablo Vinícius, psiquiatra e neurocientista; Ronaldo Coelho, psicanalista e psicólogo; Yuri Busin, psicólogo e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e diretor do Casme (Centro de Atenção à Saúde Mental), em São Paulo (SP).
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