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Comportamentos de crianças podem indicar sofrimento na escola; veja quais

Agressividade, choro excessivo e febre são alguns dos sinais - iStock
Agressividade, choro excessivo e febre são alguns dos sinais Imagem: iStock

Sarah Alves

Do VivaBem, em São Paulo

20/05/2022 04h00

O início da fase escolar é um momento importante para o desenvolvimento das crianças, porque elas partem para um espaço coletivo e começam a construir relações. Para os pais, no entanto, é comum se preocupar em como os pequenos serão tratados e como reconhecer caso enfrentem alguma situação ruim, sobretudo quando o filho ainda não sabe se comunicar.

O pensamento lembra o caso relatado em março, quando pais denunciaram maus-tratos e tortura na Escola Infantil Colmeia Mágica, na zona leste de São Paulo. A história foi revelada após vídeo mostrar bebês imobilizados por lençóis em cadeirinhas colocadas em um banheiro.

Na época, a mãe de uma das crianças ouvida pelo UOL relatou mudanças no comportamento do filho. "Ele tem um atraso em relação às crianças, mas ficava agitado na cadeirinha ou até mesmo para dormir durante a semana. Hoje, eu já desconfio que essas atitudes sejam reflexo do que ele vivia na escola", contou à reportagem.

Antes de tudo, é importante saber que mudanças no comportamento e nos hábitos (sono e alimentação, principalmente) são comuns durante o processo de desenvolvimento das crianças e podem ocorrer quando elas passam por alterações ou desconforto na rotina. Então, o pequeno ficar mais dengoso ou voltar a fazer xixi na roupa depois de ter desfraldado não necessariamente significa que ele passou por uma situação grave, como uma agressão ou um maltrato.

"Entrar na escola ou creche é um processo emocional intenso para os pais e a criança. Os professores precisam estar preparados para suportar o sofrimento dos pequenos e não desmerecer", diz a psicóloga Larissa Câmara, do Hospital Infantil Varela Santiago, em Natal (RN).

O período escolar é de desafios para os pequenos, uma jornada de amadurecimento emocional —demanda difícil para alguns— e é preciso que os pais entendam isso para dar o melhor suporte e não privar os filhos de uma etapa necessária.

"A dica é perceber sinais de angústia que a criança possa dar, porque ela precisa se sentir segura. Mas, pais, acreditem na capacidade do seu filho em se adaptar. Muitos desistem do processo, acabam voltando à estaca zero, e a criança não adquire maturidade por não enfrentar o momento", diz Câmara.

Veja sinais que podem indicam algum tipo de sofrimento na escola

criança na escola, ensino infantil - iStock - iStock
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Desconforto além do período de adaptação

A fase de adaptação na escola é essencial para a criança se sentir segura no novo espaço. Durante o período, é recomendado que os pais analisem o tratamento e atenção dos profissionais e percebam o ambiente: se há muitas crianças chorando, como é o acolhimento nestas situações, por exemplo.

No início, é natural que os pequenos estejam desconfortáveis, inseguros e chorem ao se separar dos pais. No entanto, se o sofrimento persistir após a fase de adaptação, é importante avaliar o que está acontecendo.

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Choro excessivo

Segundo a pediatra Daniela Piotto, sobretudo em bebês, o choro é uma demonstração de sofrimento. Quando a criança chora muito ao ser deixada na escola ou perto do momento de ir para o colégio, algum aspecto do ambiente pode torná-lo um espaço aversivo ou intimidador.

"Bebês e as crianças até os 2 anos não verbalizam e sentem muito o ambiente. Se não é favorável, não são acolhidas, há negligência, a criança chora mesmo", indica Piotto, do Fleury Medicina e Saúde.

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Mudanças de comportamento

É comum que os pequenos mudem de comportamento, adotando condutas totalmente diferentes das habituais. Crianças naturalmente extrovertidas podem se retrair, enquanto aquelas mais quietas passam a chorar com frequência.

A psicóloga infantil Rosa Mariotto explica ser natural os pequenos não compartilharem tudo o acontece na escola, até porque o ambiente representa um espaço "exclusivo", sem a interferência dos pais. Também é corriqueiro que cheguem em casa cansados após um dia de atividades. No entanto, quando estão visivelmente sem energia, evitando qualquer tipo de conversa e interação, é indicado investigar o que está por trás.

"Cansaço sofrido é diferente. A própria expressão da criança sofre uma melancolização. É importante notar isso: ao chegar da escola, ela brilha os olhos ou não?", atenta Mariotto, doutora em psicologia escolar e desenvolvimento humano pela USP (Universidade de São Paulo).

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Agressividade

Junto às demais alterações comportamentais, a criança fica agressiva com os colegas, familiares e, principalmente, os pais, pois pode acreditar que eles contribuem para que ela esteja em um ambiente nocivo.

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Alterações no sono e alimentação

Mudanças no sono e alimentação são indícios muito comuns quando algo não vai bem. "Normalmente, em especial bebês, as crianças sinalizam que algo não vai bem quando alteram seus ritmos e fluxos", indica Mariotto.

É possível que a criança acorde com frequência ou pegue no sono tarde, pois é o momento em que está totalmente entregue aos cuidados de alguém. "Ela precisa ter segurança de que vai ser bem olhada", diz a psicóloga.

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Sintomas sem causa biológica

Há ainda quadros de sintomatização sem causa biológica, ou seja, quando não há qualquer alteração de saúde. Nestes casos, o sofrimento psicológico causa sinais que o corpo demonstra por meio de sintomas.

É o caso, por exemplo, de dores de cabeça, barriga e nos membros (pernas e braços). Também são bastante comuns crises de vômitos e febre conforme se aproxima o momento de ir à escola.

"As crianças ficam muitas vezes doentes sem causa biológica. Ela não consegue verbalizar ainda, dizer que brigou com um amiguinho, mas o corpo fala. Vêm comportamentais e a questão física. A febre, dor de cabeça, de barriga", descreve a pediatra Daniela Piotto.

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Atrasos nos marcos de desenvolvimento

De acordo com Piotto, outro sinal possível é o atraso nos marcos de desenvolvimento. A escola funciona como um espaço de estimulação para diversos aprendizados. Quando a criança sofre negligência e o espaço não é de acolhimento, a tendência é que ela não tenha incentivo e interesse para se relacionar.

"Uma criança que não gosta da escola, não vai interagir. Ela aprende com outras crianças e precisa da interação, mas se tem medo do ambiente e não se sente estimulada, apresenta impacto no desenvolvimento emocional, psicomotor, na linguagem e aprendizagem", destaca a pediatra.

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Atenção também aos sinais físicos

Sem coragem para falar, é natural que as crianças não delatem que estão passando por algum sofrimento na escola. Por último, é importante que os pais não negligenciem sinais físicos, como assaduras, arranhões e machucados frequentes.