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Veja por que é importante manter o hábito de escrever com letra cursiva

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Bruna Alves

Do ViavBem, em São Paulo

21/05/2022 16h48

"Você tem uma letra tão bonita". Há alguns anos era comum receber esse tipo de elogio, sobretudo na escola. Hoje, não mais. No entanto, a prática de escrever de forma compreensível usando a letra cursiva, ou letra "de mão", exige do cérebro uma série de comandos que contam principalmente com a coordenação motora.

Mas afinal: por que está cada vez mais difícil escrever bem e bonito em um papel? A resposta é simples e se resume a uma única palavra: tecnologia. De acordo com os especialistas, a troca da escrita à mão pela digitação priva o cérebro desse tipo de exercício.

Por que escrever no papel é tão importante para o cérebro?

Primeiro precisamos entender que os lápis e canetas contribuem para o desenvolvimento da coordenação motora fina, que é a capacidade de utilizar os dedos e as mãos de forma precisa. E, para acertar os movimentos, é necessária uma boa dose de atenção, o que favorece a concentração naquilo que está sendo escrito.

O conjunto do traçado específico e rebuscado das letras atrelado a atenção cria a memória muscular de cada movimento, que vai alimentar o circuito cerebral da motricidade, automatizando o aprendizado e tornando a escrita cada vez mais fluída.

"E esse processo de coordenação motora fina na escrita não é rápido e não tem como pular. Precisamos construir esse circuito com muita prática. E a digitação não substitui esse processo no cérebro. Digitar no computador ou no celular não exige coordenação motora fina e consequentemente não vai ajudar a desenvolvê-la", detalhou a neurocientista do Supera - Ginástica para o cérebro, Livia Ciacci.

E os benefícios não param por aí..

O cérebro sempre deve ser estimulado de todas as formas possíveis - iStock - iStock
O cérebro sempre deve ser estimulado de todas as formas possíveis
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Escrever à mão e ler textos manuscritos ativam a ação conjunta de áreas motoras e visuais do cérebro. O córtex pré-motor dorsal esquerdo é a principal área ativada durante a escrita, que tem a função de associar as redes de leitura com a escrita, ao mesmo tempo em que as áreas visuais reconhecem os significados dos símbolos (letras).

Após iniciar o movimento, o cerebelo tem um papel importante na correção e aperfeiçoamento. Ele é capaz de monitorar as contrações musculares que estão acontecendo, e depois as compara com as características do movimento em execução com aquele plano prévio, o que é feito nas áreas motoras do córtex.

Em seguida, o cerebelo envia para o córtex motor quais são as correções necessárias, por isso a repetição e a prática da escrita são importantes para desenvolver a habilidade caligráfica.

"Outro aspecto interessante do cérebro foi mostrado no estudo de Alyssa e colaboradores (2013), que concluiu que a escrita de letras à mão afeta o processamento neural da percepção de letras e pode ter um efeito significativo no desenvolvimento de habilidades de leitura, ou seja, escrever e ler de forma manuscrita melhora as habilidades de leitura", destaca Ciacci.

E quando eu treino para ter a letra mais bonita?

Em 2021, um estudo publicado na revista Nature mostrou o impacto da caligrafia no cérebro. O trabalho teve como objetivo criar alguma ferramenta que auxiliasse a restaurar a comunicação de pessoas que não conseguiam falar ou se mover.

Então, os cientistas desenvolveram um aparelho que, a partir de uma interface cérebro-computador, conseguia decodificar a atividade mental correspondente a tentativa de escrever.

"E na hora de construir essa decodificação, de fazer o computador entender a atividade mental, ficou evidente a importância da caligrafia cursiva. A complexidade envolvida no mentalizar a escrita cursiva é muito maior do que nas letras de forma, e é essa complexidade de "comandos" que é captada do cérebro para a máquina", detalhou a cientista.

O que isso significa na prática?

Imagine duas pessoas, uma que domina a escrita cursiva e outra que só escreve por letra de forma. Se essas duas pessoas perderem a capacidade de falar e se mover, só a pessoa que domina a caligrafia cursiva poderia se beneficiar do apoio de uma interface cérebro-máquina para se comunicar.

"Tudo isso exemplifica algo que já sabemos: o cérebro desenvolve circuitos robustos quando aprende a escrever com letra cursiva", concluiu a neurocientista do Supera - Ginástica para o cérebro.