Muito açúcar e conservante: cuidado com as balas e gomas de vitaminas
Elas são coloridas, vêm em formatos fofinhos e têm um sabor agradável e doce. Além desses atributos, as balas e gomas de vitamina ainda prometem o que todo mundo deseja: entregar nutrientes ao corpo de forma rápida e gostosa. Mas será que elas realmente funcionam?
Segundo o farmacêutico Luitgard de Lima, que também é nutricionista pediátrico e pesquisador da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), elas são uteis apenas para o caso de algumas condições clínicas dificultarem a aceitação dos formatos comuns, em cápsulas. Já do ponto de vista nutricional, não existem benefícios em consumir esse tipo de produto.
Vitaminas são compostos que precisam de estabilidade para serem entregues em forma de suplementação para o ser humano. O problema é que, no formato de bala ou goma, essa estabilidade é mais difícil de ser alcançada.
De acordo com a nutricionista Regina Coeli da Silva Vieira, professora adjunta do curso de nutrição da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), algumas análises feitas com esses produtos mostraram que certas vitaminas nesse tipo de veículo podem degradar mais rápido que a vida útil em prateleira apresentada no rótulo.
"Por isso, é possível que fabricantes coloquem doses maiores a fim de que o produto final tenha, até a data de validade estipulada, a quantidade de nutrientes indicada", explica.
Outro ponto importante é que essa instabilidade também gera a necessidade do uso de uma grande quantidade adicionada de estabilizantes e conservantes, para garantir que esses nutrientes sejam entregues. Só que, quando consumidas em excesso, essas substâncias aumentam o risco de problemas de saúde como obesidade e diabetes.
Ainda há o risco de desenvolver hipersensibilidade e alergias alimentares. Alguns estudos ainda fazem uma relação entre o consumo de aditivos alimentares com diversas doenças, como inflamação no intestino e até câncer.
Como surgiram essas balas vitamínicas?
Um dos maiores consumidores de suplementos do mundo, os Estados Unidos foram os primeiros a utilizar o formato de balas e gomas para esse tipo de medicação.
As chamadas "gummies" são usadas não apenas em polivitamínicos como também em suplementação pré-natal, para adolescentes e crianças e até para melatonina, conhecida como o hormônio do sono.
De acordo com a nutricionista Angélica Grecco, coordenadora da nutrição do Hospital Santa Helena e nutricionista do Instituto EndoVitta, a ideia era justamente facilitar a ingestão de vitaminas em pacientes que de fato necessitavam dessa suplementação, mas tinham dificuldades em engolir as tradicionais cápsulas —como idosos com dificuldade de deglutição e crianças pequenas, ou até pacientes com seletividade alimentar severa.
"São casos em que nem as pastilhas mastigáveis, que também podem ser usadas, eram toleradas", explica a especialista.
A maior tolerância das balas ou gomas de vitamina acontece graças à maior palatabilidade do produto, que é feito com ingredientes que tornam o sabor não apenas aceitável como gostoso. Geralmente, elas são feitas com gelatina, amido de milho, água, açúcar e corantes, além de flavorizantes para dar sabores de frutas populares (como morango, frutas vermelhas e laranja).
Atenção ao açúcar
Existe uma razão para as balas e gomas de vitaminas serem tão gostosas: elas têm açúcar em grande quantidade em sua composição.
Na lista de ingredientes, é comum encontrar nomes como sacarose e xarope de glicose em primeiro lugar —uma indicação de que são os ingredientes que se apresentam com maior quantidade naquele alimento.
Em um pacote pequeno de 18 gramas de uma marca facilmente encontrada em gôndolas de farmácia, por exemplo, é possível encontrar 15 gramas de carboidratos (ou seja, açúcares). Isso é 60% da quantidade de consumo diária recomendada pela AAA (American Heart Association) de açúcar para crianças e 60% da quantidade diária preconizada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como ideal para manter a saúde em dia.
Esse tipo de produto é uma escolha ruim porque essa palatabilidade faz com que você coma muitas de uma vez, aumentando a ingestão de açúcar e ainda tendo o risco de uma superdosagem de vitaminas." Angélica Grecco, nutricionista.
Aqui, vale uma explicação: a superdosagem por vitaminas não é algo comum de se acontecer. No entanto, diferente do que muitos pensam, o corpo não vai guardar esse adicional para usar quando precisar e vai dispensar pela urina ou pelas fezes. Ou seja: é literalmente dinheiro jogado na privada.
Doce não é remédio
Quem já foi à farmácia com crianças sabe que os olhinhos brilham ao chegar na prateleira de vitaminas. Potes coloridos, com desenhos de frutas e personagens divertidos são feitos justamente para chamar a atenção de qualquer pessoa, em especial desses indivíduos em desenvolvimento.
Mas, a menos que seja realmente necessário, incentivar o consumo dessas vitaminas não traz benefícios para a saúde infantil. Ao contrário: pode até prejudicar o desenvolvimento da criança ao viciar o paladar em alimentos adocicados, artificiais e industrializados e criando, desde cedo, hábitos ruins que podem contribuir para o ganho de peso.
"Crianças e adolescentes cada vez mais sofrem com o excesso de peso", diz Lima. "Por que, então, incentivar o consumo de algo com grande quantidade de sacarose e xarope de glicose como se fosse bom para a saúde?", questiona.
"É como dizer à criança que comer doce é bom, já que até um remédio, faz bem", alerta Grecco.
Dados do Ministério da Saúde estimam que 6,4 milhões de crianças tenham excesso de peso no Brasil; dessas, 3,1 milhões já evoluíram para obesidade. Já os dados da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) de 2019, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), indicam que 19,4% dos adolescentes estão com excesso de peso; desses, 6,7% já têm obesidade.
O ideal seria estimular a criação de bons hábitos alimentares, com o consumo de alimentos frescos e naturais, e não a obtenção de nutrientes por meio de balas e gomas.
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