Por que aumentou o número de crianças internadas com síndrome respiratória
De acordo com o Boletim Infogripe divulgado nesta quinta-feira (26) pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), chega a 20 o número de capitais brasileiras com tendência de aumento nos casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Algumas regiões, inclusive, têm visto uma explosão de crianças internadas por causa dos vírus respiratórios.
De acordo com os especialistas consultados por VivaBem, esse aumento de casos é comum nesta época do ano, de temperaturas mais baixas. "O que está acontecendo agora é um padrão mais comum, parecido com o que ocorria antes da pandemia. Acreditamos que seja a sazonalidade habitual que tínhamos", explica Nelson Horigoshi, pediatra e responsável pela UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Pediátrica do Sabará Hospital Infantil (SP).
"O outono é uma época do ano repleta de doenças respiratórias, com os pronto-socorros cheios de crianças", diz Renato Kfouri, infectologista e presidente do Departamento de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). "O que temos a mais nesta história é o coronavírus."
Segundo os médicos, os vírus que mais circulam nesta época são: vírus sincicial respiratório, o SVR, rinovírus e metapneumovírus. Todos são responsáveis por causar sintomas gripais nas crianças, como tosse, coriza, dor de garganta e febre.
"O vírus SVR, por exemplo, dá uma doença chamada de bronquiolite, que a é que mais interna crianças até 2 anos no mundo. O problema costuma dar falta de ar e, por isso, precisamos internar", conta o pediatra do Sabará Hospital.
Isolamento também pode estar por trás
Outro ponto levantado pelos especialistas é que as crianças passaram um período longo em casa, sem tanta exposição aos vírus que costumam circular nesta época.
"Houve o represamento desses vírus que circularam muito pouco em 2020 e 2021. Esses bebês, nos primeiros anos de vida, por exemplo, teriam sido infectados neste período, mas não foram. Agora, eles ficaram doentes", afirma Kfouri.
Horigoshi concorda com o médico. "Temos crianças menos imunes voltando ao convívio social e pegando os vírus só agora." O pediatra, inclusive, conta que no Sabará Hospital, os casos de covid-19 ainda são poucos e os outros vírus, citados anteriormente, ainda são mais prevalentes.
Há algo que os pais podem fazer?
Sim, mas também depende da dinâmica da família. Se a criança apresentar qualquer sintoma gripal, o ideal é que ela fique em casa, sem ir à escola ou à creche, por exemplo —o que nem sempre é possível.
"Com uso de máscara, as doenças respiratórias diminuíram, tanto que vimos isso durante a pandemia, quando todo mundo utilizava. Mas com essa liberação das atividades, sabemos que é difícil continuar aderindo", explica Horigoshi.
O médico reforça que as crianças ainda estão em fase de formar a imunidade do corpo e, por isso, são mais suscetíveis às doenças, inclusive as respiratórias. "A imunidade dela vai sendo criada pouco a pouco. Por isso que temos todas as vacinas no começo da vida", diz.
Alerta para vacinação
Por mais que ainda não seja época de gripe ainda, a ABCVAC (Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas) alerta para o risco de um cenário preocupante. Menos de 6% das clínicas privadas atingiram a expectativa vacinal contra gripe em 2022.
Para os estabelecimentos associados à ABCVAC, o resultado da baixa cobertura vacinal provém, em grande parte, da redução dos investimentos em campanhas de vacinação.
Mais de 76% das clínicas disseram que a campanha está fraca e 22% consideram regular. Somente 5,5% das associadas atingiram mais de 70% de sua expectativa vacinal para 2022 e mais de 41% atingiram apenas entre 10% e 30%.
Essa é a pior campanha de vacinação contra a gripe nos últimos 20 anos em termos de cobertura vacinal. Geraldo Barbosa, presidente da ABCVAC.
"O mercado privado é um reflexo do serviço público e os números são realmente preocupantes. A baixa cobertura pode ocasionar outro surto de gripe, assim como vivenciamos no final do ano passado. Além disso, estamos há um mês do inverno, quando o vírus influenza se espalha mais", reforça.
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