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Estudo mostra que 10% de quem tem entre 5 e 17 anos faz xixi na cama

Acompanhamento médico é recomendado para crianças acima de 5 anos que ainda apresentam episódios de xixi na cama - iStock
Acompanhamento médico é recomendado para crianças acima de 5 anos que ainda apresentam episódios de xixi na cama Imagem: iStock

Alana Gandra

Da Agência Brasil

30/05/2022 18h05

A enurese, quando a criança faz xixi na cama, é um dos problemas urinários mais comuns na infância. Um estudo revelou que 10% das crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos sofrem de enurese, como é mais conhecida a incontinência urinária noturna.

Publicado pelos urologistas Ubirajara Barroso Jr., chefe da disciplina de UFBA (Urologia da Universidade Federal da Bahia), e José Murillo Netto, coordenador do Departamento de Urologia do Adolescente da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), o estudo mostra que o problema ocorre três vezes mais em meninos do que em meninas.

Aproveitando o Dia Mundial da Enurese Noturna, na próxima terça-feira (31), os médicos alertam pais e cuidadores que urinar na cama não é culpa da criança, mas sim uma condição médica que requer tratamento. A data foi criada pela International Children's Continence Society (ICCS).

Os especialistas entendem que ela faz parte do amadurecimento e desenvolvimento infantil normal. "Diz respeito à criança não ter controle urinário à noite, até os 5 anos de idade. A partir daí, progressivamente, ela vai ganhando controle da bexiga com o tempo".

De acordo com os pesquisadores, aos 5 anos, entre 15% e 20% das crianças urinam na cama; aos 7 anos, 10%; aos 10 anos, 5%; e, aos 15 anos de idade, por volta de 1% a 3% ainda não controlam a bexiga durante a noite.

"Há uma melhora progressiva, porém, não a custo zero", alertou Ubirajara Barroso Jr., em entrevista à Agência Brasil. Isso se explica porque, caso os pais esperem muito tempo para tratar a enurese, ela pode trazer consequências para a criança e a família.

Transtornos

Barroso Jr. disse que o problema da enurese noturna traz transtornos para a família e para a criança, que tende a se isolar, ter autoestima baixa e até sofrer punições.

Estudo realizado em Minas Gerais aponta que cerca de 60% das crianças que fazem xixi na cama ficam de castigo e 40% chegam a apanhar. Barroso Jr. adverte sobre a importância de pais e cuidadores entenderem que a criança não faz xixi na cama por preguiça, pirraça ou descuido, mas sim por um problema urológico.

"A punição nunca será um caminho. A criança deve ser acolhida e cada noite seca precisa ser vista como uma vitória", sinalizou.

O especialista recomenda que a criança seja encaminhada para tratamento. "Os pais não devem punir. Na verdade, o correto é que essa criança tenha um acompanhamento médico para que o melhor tratamento seja iniciado, garantindo, assim, a qualidade de vida de toda a família."

Aprender a usar o banheiro e deixar de usar fralda e urinar na cama são marcos na vida da criança. Então, quando a criança não atinge esses marcos ela sente vergonha e não compreende que o problema pode ser tratado.

"Ela se cala. A primeira coisa que faz quando chega ao médico é baixar a cabeça; não quer falar sobre o assunto. Somente aos poucos, ela vai se soltando com o urologista". Barroso Jr. lembra que é importante desmistificar o problema sem.

O acompanhamento médico é recomendado para crianças acima de 5 anos que ainda apresentam episódios de xixi na cama, mesmo que uma vez por semana. Após os 7 anos de idade, o tratamento médico é considerado obrigatório, uma vez que estudos mostram que após essa idade começa a haver redução da autoestima e outros problemas emocionais associados à enurese, como isolamento social. Todos esses indicadores melhoram após o tratamento.

De acordo com o médico, uma das causas da enurese noturna é o fator hereditário. Se os dois pais foram enuréticos quando criança, a chance de o filho também ser é de quase 80%. "Muitas vezes, eles [os genitores] esquecem disso".

Fatores como metabolismo e alimentação também devem ser considerados. O especialista afirmou que o tratamento para essa condição varia de acordo com as necessidades de cada criança. São indicados mudanças de hábito, uso de medicamento oral e alarme de enurese (neuroestimulação).

Medidas

De acordo com o professor da UFBA, existem algumas medidas que podem, de alguma forma, diminuir a incidência de ocorrência da enurese. São medidas comportamentais, como urinar mais durante o dia.

Outra medida é ter um intervalo de duas horas entre o jantar e a hora de dormir. Também na janta, evitar alimentos que retêm líquido, como o sal que, além de dar sede, retém o líquido.

Deve-se evitar também cafeína, porque a bexiga fica mais sensível à contração; depois do jantar, restringir a absorção de líquidos ao máximo e levar a criança para fazer xixi logo antes de ir se deitar.

Não é aconselhável que os pais acordem a criança repetidamente durante a madrugada, porque isso não resolve o problema e condiciona a criança a ficar acordando de hora em hora. "Isso não resolve. Os trabalhos mostram que o horário da enurese é aleatório".

Além disso, esse hábito vai acabar afetando o rendimento escolar do menor e aumentando o estresse em casa. Outra contraindicação dos urologistas é tratar a enurese com o uso de fraldas. Essas orientações podem reduzir o volume e a frequência da enurese, mas curam apenas 18% dos casos.

Tratamento

Além da medicação, indica-se o alarme de enurese ou neuroestimulação elétrica transcutânea (TENS). O alarme funciona como um sensor que dispara ao primeiro sinal de urina para acordar a criança para ir ao banheiro fazer xixi.

Barrroso Jr. conta que a criança com enurese tem mais dificuldade de acordar do que as demais. O alarme permite aos pais levar a criança ao banheiro para urinar e faz com que ela aprenda, no longo prazo, a não fizer xixi na cama. Os pais têm que ter paciência e dar suporte ao filho, porque esse é um tratamento mais demorado que leva, às vezes, meses.

Um dos precursores da técnica de neuroestimulação sacral no tratamento da incontinência urinária infantil, Barroso Jr. disse que o tratamento de TENS é associado a medicações.

"Tem sido utilizado fazendo parte de todo um processo. Tratar enurese não é igual a tratar uma infecção, que dá um remédio e passa. É um processo. O TENS é uma ferramenta que pode ser utilizada e tem mostrado que reduz o número de ocorrências de xixi na cama".

A principal medicação é a desmopressina, que age sobre a vasopressina, hormônio antidiurético mais produzido à noite. Ele diminui a diurese (quantidade de urina produzida em um determinado momento), o que leva o ser humano a urinar menos à noite do que de dia.

Segundo o professor de urologia, quem faz xixi na cama tem um déficit da produção desse hormônio, o que leva as crianças que fazem xixi na cama a urinarem mais à noite.

A substância desmopressina é análoga ao hormônio antidiurético. Por isso, ela diminui a diurese à noite. A bexiga vai se encher lentamente e o cérebro consegue processar o enchimento lento da bexiga e controlar sua ação à noite.

Segundo o urologista, essa é uma medicação segura e usada há mais de 40 anos. O único senão é que, como ela diminui a diurese, a pessoa não pode beber muito líquido à noite. "Ela deve ser utilizada sob orientação de um médico. E é bem tolerada pelas crianças".

Barroso Jr. disse, ainda, que existe associação entre 60% e 70% dos casos de pessoas que fazem xixi na cama com sintomas durante o dia. Crianças passam a ter urgência para urinar, que é urgência miccional, pequenos escapes durante o dia.

Nesse caso, o tratamento envolve também questões de orientação miccional durante o dia, com intervalo correto para urinar e, às vezes, também fazer um tratamento específico para urinar durante o dia.

Existem centros de apoio gratuitos para o tratamento da enurese em todo o Brasil. Em Salvador, o CEDIMI (Centro de Distúrbios Miccionais na Infância), na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, presta esse suporte gratuito a famílias com crianças com enurese, bexiga neurogênica e incontinência urinária.

O estudo foi publicado no Journal of Pediatric Urology, em 2019, e envolveu 804 crianças residentes na Bahia e em Minas Gerais.