Exercício melhora sinais de depressão e ansiedade; como começar a praticar?
Praticar atividade física pode ser um importante aliado ao tratamento de condições psicológicas, como ansiedade e depressão. No entanto, é preciso investir em exercícios que deem prazer e iniciar a rotina aos poucos, sem pressão por alta performance.
"O movimento como um todo tem um fator protetor contra mortalidade e doenças físicas presentes nessas pessoas", afirma o educador físico Felipe Barreto Schuch, doutor em psiquiatra pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), em entrevista ao VivaBem durante o Brain Congress 2022, em Gramado (RS).
Segundo Schuch, as pessoas podem sentir sinais positivos na saúde física e mental. Entre eles, efeito antidepressivo, redução da ansiedade, melhora da função cognitiva (sobretudo memória, foco) e no perfil metabólico e cardiovascular, já que essas pessoas têm maior risco de desenvolver condições associadas, alerta o educador físico.
Atividade física também serve de prevenção
A prática de atividades físicas também é importante para reduzir o percentual de doenças ligadas à saúde mental. "Pessoas mais fisicamente ativas têm risco menor de apresentar ansiedade e depressão", diz Schuch.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda ao menos 150 a 300 minutos de exercícios moderados por semana para pessoas entre 18 e 64 anos, incluindo quem tem doenças crônicas ou algum tipo de deficiência física.
De acordo com o educador físico, estudos mostram que esse tempo de atividade semanal, mesmo que de intensidade moderada, reduz em 18% os riscos de ter depressão. "Mesmo as doses menores já são protetoras", defende.
Como começar a praticar?
Iniciar uma rotina de exercícios pode ser desafiador para muitas pessoas, principalmente se elas são sedentárias. Em quem tem transtornos mentais, os obstáculos muitas vezes são ainda maiores, sobretudo se já existe histórico de desistência —inclusive do tratamento psicoterápico e da medicação.
Encontrar atividades que promovam prazer é o primeiro passo, porque isso ajuda a fortalecer o vínculo com a prática. Outro ponto é entender que a intensidade do exercício deve ser um detalhe e não exigir alta performance logo de início, fator frequente de frustração e desistência.
"Se prescrever uma corrida intensa, o paciente vai fazer apenas uma vez. A resposta afetiva à intensidade pode ser aversiva, a sensação de desprazer será ruim. É importante que a intensidade seja aspiracional, uma meta", destaca Felipe Barreto Schuch. "Antes de dizer o que fazer, é preciso pensar no sentido que atividade física tem na vida, o que gosta de fazer. Considerar contextos e individualidades."
De maneira geral, a indicação é que o exercício apresente senso de competência, dê autonomia, possibilidade de entender por que é importante, além de participar de processo de construção da rotina de atividade e se identificar à prática.
Há o consenso de que é necessário substituir o famoso mantra "No pain, no gain" (sem dor, sem ganho, na tradução do inglês), usado para reforçar a alta intensidade dos exercícios, para "No fun, no gain" (sem diversão, sem ganho), reforçando o prazer pela atividade escolhida.
Também é fundamental que o paciente busque auxílio de um educador físico, que vai orientar sobre a execução correta dos exercícios. O trabalho do profissional deve, de preferência, ser realizado em conjunto com os especialistas (psiquiatra e/ou psicólogo) que acompanham o paciente para um tratamento multidisciplinar.
*A repórter viajou a convite do Brain Congress
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