Memória ficou ruim pós-covid? Entenda o que causa e se há tratamento
Falta de concentração, esquecimento e sensação de cansaço mental são alguns dos sinais de declínio cognitivo associado à covid-19, mesmo em casos leves. A relação ainda é estudada, mas técnicas já são utilizadas para tratar os impactos.
Um dos projetos de reabilitação neuropsicológica, desenvolvido por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), foca em abordagens multidisciplinares para auxiliar pacientes. Entre elas, técnicas de associação e planejamento de rotina.
"Existem recomendações muito importantes de que os pacientes recebam intervenções o mais rápido possível, baseadas no que é usado em doenças neurodegenerativas, por exemplo", explicou Eliane Correa Miotto, professora do curso de neurologia da USP, durante palestra no Brain Congress 2022, em Gramado (RS), nesta quinta-feira (2).
Em geral, os principais sintomas associados ao quadro são dificuldades de atenção e para exercer tarefas executivas (que controlam pensamentos, emoções e ações), fadiga física e mental, brain fog (névoa cerebral, descrita como a sensação semelhante a de uma noite sem dormir) e problemas de memória.
O que causa e como identificar?
Segundo Miotto, possíveis causas dos danos cognitivos estão relacionadas à invasão do vírus no cérebro, processos inflamatórios decorrentes da covid-19, hipóxia (ausência de oxigênio suficiente nos tecidos para manter as funções corporais), alterações vasculares e sepse (complicação potencialmente fatal de uma infecção).
O diagnóstico alia exames cerebrais de imagem e avaliação clínica. Em muitos casos, no entanto, é comum que os sinais tenham relação com quadros anteriores de transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão —comuns no contexto da pandemia.
"Até pessoas que não tiveram covid apresentaram ansiedade e esses fatores emocionais geram, por si só, uma série de preocupações e ansiedades, que levam à dificuldade de atenção e alterações de memória", detalha Miotto.
Por isso, cabe ao profissional de saúde avaliar os sintomas e, se persistirem as queixas após tratamento dos quadros psicológicos, incluir terapia cognitiva para recuperar as funções.
Sem medicação
O quadro ainda não tem indicações de medicação, mesmo que algumas substâncias sejam associadas a efeito positivo do funcionamento cognitivo.
"Não há evidência de impacto, existem defesas fisiopatológicas porque se tem um nível de proteção, são elementos importantes na dieta, mas não se sabe até que ponto seria um placebo neste caso. Não existe evidência médica para usar", explicou em entrevista ao VivaBem o neurologista Norberto Anízio Ferreira Frota, do Hospital Geral de Fortaleza (CE) e professor da Unifor (Universidade de Fortaleza).
Segundo Frota, alguns estudos indicam melhora natural dos quadros após 18 meses da infecção pela covid-19, sem terapias focadas. Os padrões não se igualam ao funcionamento de antes, mas pelo menos não há avanço no declínio das funções.
Tratamento
Mesmo sem protocolos específicos para o tratamento da perda cognitiva associada à covid-19, estudos iniciais indicam que manter abordagens já utilizadas em condições associadas podem ajudar.
Neste sentido, as terapias são individuais, moldadas pelas dificuldades de cada paciente. As principais abordagens são os treinos cognitivos, que tratam dificuldades específicas (memória, atenção e/ou linguagem). A modalidade de reabilitação, mais intensa, amplia os cuidados ao apresentar soluções eficazes para lidar com as demandas do dia a dia e, assim, reduzir os níveis de ansiedade.
Intervenções preliminares também usam um modelo conhecido como CI (movimento induzido por restrição, na tradução do inglês), desenvolvido na Universidade do Alabama (EUA). Ele é usado originalmente para tratar pacientes com mobilidade comprometida e, no campo cognitivo, está voltado para a reabilitação da linguagem. A TCC (terapia cognitivo-comportamental) também é uma alternativa para atuar na redução dos sinais de ansiedade.
De olho na agenda
Quando o paciente com danos cognitivos entende que isso pode ser uma sequela da covid-19, é natural que sintam alívio por terem um diagnóstico e alternativas de tratamento.
Entender a condição é o primeiro passo para criar consciência sobre o quadro. Inclusive, é comum que já exista alguma melhora nos pacientes após a compreensão do quadro, indica a professora Eliane Correa Miotto.
Isso também cria consciência para criarem uma rotina em que consigam, pouco a pouco, recuperar o funcionamento de antes. "Normalmente, pessoas buscam ajuda quando estão com algum quadro instalado na vida diária, podem deixar de ir trabalhar porque não conseguem lidar com as demandas", diz Miotto.
Dicas básicas, como planejar as tarefas do dia, deixar alarmes para se lembrar de compromissos e intercalar foco nas atividades e descanso, tornam a rotina mais fluída.
*A repórter viajou a convite do Brain Congress
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