Varíola, covid, hepatite: 3 fatores explicam o surgimento de tantas doenças
Nos últimos dois anos, a covid-19 dominou as conversas e as preocupações, mas conforme a vacinação avança e o coronavírus deixa de ser tão assustador, nota-se o avanço de outras doenças que até agora não eram tão faladas.
A varíola dos macacos, por exemplo, acendeu uma luz amarela. Até o dia 7 de maio, pouco se sabia dela, mas já passam de 200 casos registrados fora da zona endêmica, em países majoritariamente europeus.
No dia 23 de abril, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também emitiu um alerta sobre um novo tipo hepatite: a aguda, que causa inflamação do fígado.
Os primeiros casos surgiram no Reino Unido, em crianças e adolescentes previamente saudáveis, e as investigações sobre as causas ainda estão em andamento.
A OMS chama a atenção ainda para outras doenças infecciosas com potencial epidêmico, muitas delas conhecidas por nós: dengue, tuberculose, zika e ebola.
O que está acontecendo?
Existem três fatores apontados por especialistas para os surtos de novas doenças ou o ressurgimento de velhas conhecidas.
- Estamos mais vulneráveis
- Há desequilíbrios ambientais
- Vivemos uma crise sócio-econômica
Apesar de os vírus não estarem muito diferentes do que eram antes, nós estamos. Após passar os últimos anos isolados, nosso corpo sentiu e a nossa imunidade diminuiu. Como grupo, ficamos mais vulneráveis e estamos experimentando alguma instabilidade. O organismo está trabalhando para encontrar um novo equilíbrio pós-pandemia.
Desequilíbrios ambientais, a devastação desordenada de florestas e a exploração da vida selvagem causam o chamado spillover, ou seja, o salto de um agente infeccioso de um hospedeiro para o outro (do animal para o homem), por exemplo.
E a interferência do homem na natureza estimula o contato entre espécies e a consequente mutação dos vírus.
Isso, somado a mudanças nas condições socioeconômicas da população, abre uma enorme janela para a proliferação de micro-organismos.
No caso do Brasil, por exemplo, a desigualdade regional e a dimensão do país são fatores que contribuem fortemente para que novos patógenos circulem, especialmente os responsáveis por infecções respiratórias e os arbovírus, transmitidos por picada de insetos.
Isso está sempre no radar das autoridades de saúde.
Só para se ter uma ideia, existem cerca de 120 arboviroses capazes de contaminar humanos, e entre as mais conhecidas temos: a dengue, a chikungunya, o zika vírus e a febre amarela —responsáveis por epidemias sazonais.
Falta de cobertura vacinal, recusa da imunização por parte da população e deficiência no controle dos vetores estão entre os grandes obstáculos para diminuição dessas doenças.
A campanha de vacinação para o sarampo, por exemplo, não alcançou 70% das crianças brasileiras que precisam ser imunizadas.
Prevenção
Para prevenir o surgimento de novas epidemias ou pandemias, só a ciência não basta. Isso parece ser unânime entre os especialistas. É preciso trabalhar um conjunto de políticas públicas para proteção da saúde e do meio ambiente, justiça social, educação da população, boa comunicação e ainda garantir o envolvimento de toda a comunidade.
É claro que novas vacinas e medicamentos podem virar o jogo, mas não são suficientes se não houver cuidado com a segurança dos alimentos, o controle de mosquitos e roedores, o desenvolvimento de programas de controle animal, o tratamento da água e do esgoto de todas as regiões.
No caso de doenças contagiosas, como covid e varíola, as indicações são as mesmas: distanciamento físico, uso de máscaras de proteção e higienização frequente das mãos.
Além disso, para controlar novos surtos, é necessário trabalhar de forma rápida na identificação molecular de micro-organismos e dos casos suspeitos.
Fontes: Joel Henrique Ellwanger, biólogo e pesquisador do departamento de genética da UFRGS; e Fernando Bozza, chefe do Laboratório de Medicina Intensiva do INI-Fiocruz
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