Seguras, disponíveis e necessárias: vacinas criam rede de proteção coletiva
Todos os anos, cerca de três milhões de vidas são salvas no mundo graças à vacinação, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde). Se a cobertura vacinal fosse maior, o número de mortes evitadas aumentaria em mais de 1,5 milhão.
Hoje, dia 9 de junho, comemora-se o Dia Nacional da Imunização, data que visa conscientizar sobre a importância da vacinação para prevenir, controlar e erradicar várias doenças infecciosas.
Uma das maiores descobertas da ciência, a primeira vacina criada no mundo foi contra a varíola, em 1796. Na época, o médico sanitarista inglês Edward Jenner percebeu que as mulheres ordenhadeiras de vacas que contraíam a varíola bovina não adoeciam ou apresentavam quadros brandos da varíola humana.
A partir dessa observação, Jenner fez um experimento: inoculou pus extraído das lesões de uma pessoa que havia se infectado com a varíola bovina em uma criança de 8 anos, James Phipps, filho do seu jardineiro. Após a inoculação, o menino foi exposto à varíola humana e não desenvolveu a doença. E assim surgiu o primeiro experimento que daria início ao conceito do que conhecemos hoje como vacina, do termo latim vacca.
A imunização é tão importante que, logo ao nascer, os bebês já precisam tomar duas vacinas, a da hepatite B e a da BCG, que atua contra as formas graves de tuberculose.
Do nascimento até os 4 anos, as crianças são imunizadas com diversas vacinas que protegem contra doenças como pneumonias, meningites, paralisia infantil, sarampo, caxumba, rubéola, difteria, tétano, catapora, entre outras. No site da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), você confere as vacinas necessárias para cada faixa etária: https://sbim.org.br/calendarios-de-vacinacao.
"As vacinas são aplicadas em grande quantidade já no primeiro ano de vida porque quanto mais precocemente a criança for exposta à proteção de uma doença transmissível, menor será o risco de ela desenvolvê-la e sofrer suas consequências e sequelas", explica Antonio Carlos Bandeira, infectologista, professor de infectologia na UNI-FTC Salvador e membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
Crianças em idade escolar
Manter em dia a vacinação das crianças que frequentam a escola é ainda mais necessário devido ao contato próximo e prolongado que elas têm umas com as outras, direta ou indiretamente, ao compartilhar brinquedos e/ou objetos.
"Crianças trocam microrganismos com muito mais facilidade e são potenciais transmissores", diz Rosana Richtmann, médica infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas (SP) e consultora da SBI.
Na prática, isso quer dizer que se uma criança não vacinada se contaminar com uma doença transmissível, como o meningococo, que é o agente causador da meningite, ela poderá passar adiante se as outras também não estiverem imunizadas.
A vacinação da criança na idade escolar gera a defesa individual e ajuda a manter uma rede de proteção para todos os conviventes, inclusive para aquelas crianças que, por apresentarem determinadas doenças que levam ao comprometimento da imunidade, não podem receber todas as vacinas disponíveis.
"Nesses casos, a imunização é também um ato de solidariedade com o imunocomprometido", afirma Tânia Petraglia, pediatra, infectologista e presidente do Departamento Científico de Infectologia da Soperj (Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro).
Definido pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações), o calendário básico de vacinação brasileiro é constituído por 20 vacinas recomendadas à população, desde o nascimento até a terceira idade —desse total, 18 são para crianças e adolescentes.
Todas as pessoas podem se vacinar gratuitamente nos postos de vacinação localizados dentro das UBSs (Unidades Básicas de Saúde). Para isso, basta levar o cartão de vacinação.
O que é dose de reforço e para que serve?
Com o passar do tempo, nossa resposta de proteção tende a declinar para algumas vacinas, por isso é necessário receber reforços vacinais.
"A dose de reforço é uma dose extra, aplicada além do esquema básico inicial da vacina. Com ela, o sistema de defesa responde mais rápida e intensamente, gerando maiores concentrações de anticorpos e uma defesa mais elevada e duradoura", explica Bandeira, que também é doutor em ciências.
Ao não tomar as doses de reforço, crianças e adolescentes podem ficar sujeitos a pegar doenças e infecções, além de transmitir para pessoas com baixa imunidade ou que não podem se vacinar, complementa Richtmann.
Vejamos como exemplo o tétano: o esquema básico vai até os 4 anos, porém os anticorpos vão caindo aos poucos, e a partir dos 15 anos esse nível cai muito, deixando o adolescente suscetível à doença. Com isso, ele precisará tomar uma dose de reforço e repeti-la a cada 10 anos.
Segundo Petraglia, manter os esquemas completos de vacinação, inclusive para adultos, é extremamente importante para aumentar, prolongar e ter melhores resultados na proteção contra doenças.
Embora seja essencial como temos falado até aqui, desde 2016, o Brasil vem apresentando quedas na cobertura vacinal de todo o calendário, atingindo os piores índices durante a pandemia. As causas são multifatoriais. Uma delas é pelo conceito dos 3 Cs, usado pela OMS: confiança, complacência e conveniência, que a infectologista Richtmann detalha a seguir:
"A confiança é sobre a eficácia e efetividade das vacinas diante de tantas fake news e a ausência de campanhas de divulgação pelas autoridades de saúde. A complacência é a falta de percepção da doença pela população, visto que as próprias vacinas são as responsáveis pela eliminação de várias doenças —as pessoas passam a ter mais receio dos eventos adversos das vacinas do que da própria doença. E a conveniência, que diz respeito ao acesso às vacinas, disponibilidade e horário de funcionamento das unidades básicas de saúde".
Um outro ponto levantado é como a alta rotatividade de profissionais de saúde terceirizados e com contratos temporários "impossibilita um treinamento adequado e conhecimento acumulado, o que pode impactar na qualidade do atendimento e na confiança das famílias nas vacinas", pondera Petraglia, que também é vice-presidente da SBIm-RJ (Sociedade Brasileira de Imunizações - Regional Rio de Janeiro).
O perigo do retorno de doenças já erradicadas
Bandeira afirma que a baixa cobertura vacinal é a porta de entrada e um grande perigo para o retorno e os novos surtos de doenças que já estavam erradicadas, reiniciando ciclos de transmissão que depois de iniciados são difíceis de interromper.
De acordo com Richtmann, a comunindade médica está receosa com a possibilidade da volta do sarampo e da poliomelite, doenças super transmissíveis e incapacitantes: "Nosso dever é sempre esclarecer e reforçar à população a importância e segurança em se vacinar".
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