Desnutrição causa 20% das mortes de pessoas com câncer; quais cuidados ter?
Pacientes com câncer podem sofrer alterações alimentares que, entre muitas consequências, alteram ou reduzem o apetite. Um dos principais temores é a desnutrição, responsável por 20% das mortes das pessoas com a doença, indicou levantamento publicado em artigo na Revista Europeia de Oncologia Médica.
Segundo Adriana Carrieri, nutricionista especializada em câncer, o acesso ao tratamento nutricional de qualidade é uma das principais barreiras, geralmente faltando aos pacientes orientações aprofundadas. A ausência de uma rede de apoio também pode afetar a alimentação correta, além dos sintomas da própria doença e dos efeitos colaterais do tratamento.
"Falamos que o câncer é uma doença individualizada, então independente do local do tumor, ele merece atenção preventiva para não deixar o paciente entrar em um estágio de desnutrição severa e só depois começar trabalhar a alimentação", disse Carrieri, pesquisadora da Faculdade de Medicina Albert Einstein em Nova York (EUA), em entrevista ao VivaBem durante o congresso Ganepão, realizado em São Paulo na última semana.
Tumores gastrointestinais, como de estômago e esôfago, no pescoço e cabeça podem representar mais dificuldades à nutrição dos pacientes, muitas vezes sendo preciso usar suplementos e sondas.
Nos casos de desnutrição, a imunidade baixa e isso favorece desfechos graves em caso de infecções, por exemplo. "A morte ocorre, muitas vezes, não pelo câncer, mas da desnutrição que fragilizou esse paciente. É uma questão muito séria, que leva a essas complicações", explica Carrieri.
Especialistas defendem que a avaliação nutricional dos pacientes deve ser realizada periodicamente como alternativa para identificar sinais de alerta. As pessoas também devem ser incentivadas, quando possível, a praticar exercícios físicos para melhorarem a resistência e massa muscular.
Veja dicas de alimentação para pessoas em tratamento contra o câncer
Quem faz tratamento oncológico deve ter uma dieta saudável e balanceada com alimentos in natura, como frutas, verduras e legumes, sempre muito bem higienizados. As modalidades terapêuticas contra o câncer têm o objetivo de curar e aliviar os sintomas, mas podem provocar efeitos colaterais que variam de intensidade e duração.
A alimentação deve ser adaptada ao estado nutricional da pessoa com a doença e conforme forem aparecendo os sintomas durante o tratamento.
"Em relação às quantidades, os pacientes oncológicos apresentam demandas metabólicas específicas, com aumento das necessidades calóricas e proteicas. Isso pode ser um grande desafio, visto que o tratamento oncológico, nas suas mais diversas modalidades, causa toxicidades que impactam diretamente no consumo alimentar", diz* Janainna Mazelli, nutricionista oncológica do hospital Sírio-Libanês.
Náuseas e vômitos
Para aliviar os sintomas de náuseas e vômitos, indica-se o consumo de alimentos de fácil digestão. É importante evitar frituras, gorduras e condimentos, além de realizar pequenas refeições durante o dia.
Outra recomendação é não se deitar logo após se alimentar. Para náuseas, uma boa dica é o consumo de gengibre, que pode ser acrescentado em sucos, na água de coco ou em chás. Em caso de vômito, os especialistas também recomendam aumentar a ingestão hídrica de forma fracionada.
Alterações intestinais
É bastante comum que as pessoas que fazem tratamento contra o câncer apresentem diarreia ou constipação. Para ambos os casos é fundamental beber bastante água para evitar a desidratação ou melhorar a consistência das fezes.
Quem sofre com a diarreia deve evitar preparações gordurosas e condimentadas, leite e derivados que contenham lactose, açúcar e alimentos laxativos em excesso, como verduras com muita fibra, cereais integrais, mamão, ameixa e abacate.
Para a constipação intestinal, o ideal é aumentar o consumo de aveia, linhaça, verduras e frutas como mamão, laranja com bagaço, ameixa, manga e abacate. Outra dica importante é realizar atividade física, se não houver contraindicação.
Perda de apetite
Não ter mais vontade de comer pode ocorrer com frequência, mas essa atitude é bastante arriscada, pois leva à desnutrição e compromete o tratamento.
Quem apresentar dificuldade de consumir alimentos sólidos pode ingerir mais líquidos como vitamina, suco, sorvetes, iogurtes e sopas. Vale a pena tentar comer em pequenas quantidades, porém mais vezes ao dia. Além disso, sempre ingerir alimentos que dão vontade naquele momento. Acrescentar azeite, abacate e castanhas nas preparações do dia a dia ajuda a aumentar a quantidade de calorias.
Em alguns casos, quando há perda de peso em excesso ou desnutrição, os especialistas podem incluir a suplementação via oral, para complementar a dieta com mais nutrientes.
Mucosite
É bastante comum que quem enfrente um câncer tenha aftas ou feridas na boca. Isso pode atrapalhar a alimentação, pois comer nesses casos causa dor ou desconforto. Por isso, é importante consumir alimentos macios e pastosos, como purês, e com temperatura morna.
Não é interessante comer alimentos muito gelados ou quentes e também evitar os ácidos, apimentados e irritantes da mucosa bucal, como condimentados e outros cheios de sódio.
Boca seca
Ficar com o sintoma de boca seca também é bastante frequente. Manter-se hidratado e consumir alimentos que aumentam a salivação são estratégias úteis para diminuir esse desconforto. Por isso, recomenda-se aumentar o consumo de frutas, vegetais frescos, sucos e sorvetes de frutas. Uma boa dica é o consumo de água com gotas de limão.
Em alguns casos, pode-se utilizar uma suplementação de estimulante de saliva. Ingerir líquidos durante as refeições também favorece a mastigação e a deglutição.
Anemia
Algumas pessoas com câncer apresentam anemia pela redução da ingestão alimentar ou devido a alterações nas funções absortivas do intestino. Há também casos de pessoas com tumores que causam perda de sangue ou que afetam a medula óssea, o que atrapalha a sua capacidade de produzir glóbulos vermelhos.
Por isso, é importante aumentar o consumo de alimentos ricos em ferro, como folhas verdes escuras e proteínas animais como carne vermelha, junto com alimentos ricos em vitamina C, para favorecer a absorção do ferro. É necessário um acompanhamento rigoroso nos exames e iniciar a suplementação, caso tenha necessidade.
Alterações no olfato e paladar
É comum que as pessoas que realizem quimioterapia sintam uma diminuição no paladar ou olfato. Dessa forma, os alimentos ficam menos interessantes ou com gosto amargo. Como cada pessoa é afetada de forma individual, o ideal é encontrar formas de tornar a alimentação mais atrativa com temperos, ervas e especiarias para realçar o gosto.
Hidratação em dia
Os líquidos como água e sucos naturais são fundamentais para o funcionamento do organismo, pois ajudam a digestão, o transporte de nutrientes e excreção, além de auxiliar no funcionamento renal. Manter-se hidratado é de suma importância para que as medicações usadas não sobrecarreguem os rins e, assim, tenham menor efeito tóxico no organismo.
Atenção aos produtos
É preciso se atentar para a qualidade e a higiene dos alimentos consumidos, principalmente fora de casa. Quem está fazendo um tratamento contra o câncer precisa dar preferência a alimentos sempre bem cozidos, embalados adequadamente, com selo de qualidade, no prazo de validade e em locais onde as normas de higiene são seguidas rigorosamente.
Os especialistas reforçam que é importante evitar alimentos industrializados, pois são ricos em conservantes. Deve-se evitar também o consumo de bebidas alcoólicas, alimentos ultraprocessados, fritos e extremamente açucarados.
*com informações de reportagem publicada em 30/11/20
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