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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Codependentes, pais de Hondjakoff vão fazer terapia; por que é importante?

Carmen Lucia Hondjakoff em foto com o filho, o ator Sérgio Hondjakoff - Instagram
Carmen Lucia Hondjakoff em foto com o filho, o ator Sérgio Hondjakoff Imagem: Instagram

Sarah Alves Moura

De VivaBem, em São Paulo*

15/06/2022 15h52

Carmen Lucia Hondjakoff, mãe de Sérgio Hondjakoff, internado em uma clínica no interior de São Paulo para tratar a dependência em crack, cocaína, remédio e álcool, contou em entrevista à revista Quem que ela, o ex-marido e sua atual esposa vão fazer terapia para lidar com o vício do ator.

"Vamos ter acompanhamento com o terapeuta Sandro Barros, uma vez que, com a situação (de dependência química) repetida há anos, ficamos codependentes", afirmou Carmem.

A codependência atinge quem convive com pessoas que têm vício em drogas. Assim como o dependente químico precisa de tratamento, o familiar necessita de cuidados —sobretudo de atenção à saúde mental.

A longo prazo, principalmente em quem já tem problemas emocionais, a situação pode desencadear condições ligadas à depressão e ansiedade, além de doenças cardiovasculares e degenerativas.

Histórias como a da família do ator foram contadas em reportagem do VivaBem publicada no último mês. Junto aos relatos, especialistas no atendimento a adictos indicaram a importância em cuidar de si.

Com a terapia, família ajuda dependente no tratamento

Buscar ajuda, acima de tudo, também é uma forma de ajudar o dependente químico no tratamento. A terapia, inclusive feita em conjunto pela família, é um dos dispositivos para entender as dinâmicas psíquicas daquele grupo, analisando os papéis de cada membro. Algumas pessoas, ao voltarem para a rotina após a internação, não conseguem se manter "limpas" porque retornam também aos mesmos conflitos de antes.

"Ela se defronta com a mesma estrutura familiar, que era adoecedora. Quando o núcleo entende o processo, começa a mudar formas de agir com a doença, e com essa mudança de postura dos hábitos que perpetuava, o dependente começa a entender que a família não vai concordar com o processo", destaca o psiquiatra Rogério Jesus, mestre pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e membro da APB (Associação Psiquiátrica da Bahia).

Há ainda casos em que a família mantém o dependente no lugar de antes, acreditando que ele deve mudar outros comportamentos, e implica com demais aspectos do seu estilo de vida.

Codependentes tendem a se isolar

Alguns sentimentos são comuns em codependentes. É natural que, primeiro, exista desconfiança sobre o uso de drogas. Quando não há mais como negar, essas pessoas tentam controlar as ações dos dependentes, gerenciando, por exemplo, os atrasos no trabalho e demais responsabilidades da rotina.

Depois, vem a culpa. "Junto à vergonha, são sentimentos frequentes, em especial para os pais. Principalmente a mãe. Eles sentem dúvidas sobre dar amor de mais ou de menos, buscam onde erraram", descreve a psicóloga Claudia Cristina Oliveira, pesquisadora na ECIM (Enfermaria de Comportamentos Impulsivo), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).

A culpa, além de torturar, favorece a manipulação, uma das estratégias da doença para a manutenção do vício. E então, mesmo sem perceber, a família pode favorecer o acesso à droga. Por isso, os especialistas indicam que, como em qualquer doença, é importante buscar ajuda médica para a dependência química ao identificar os primeiros sinais na pessoa.

Também é comum que o receio do julgamento faça com que a pessoa se isole. Algo perigoso, porque não desabafar pode aumentar o risco de estresse crônico, quadros patológicos de ansiedade e depressão, com desfechos graves —incluindo ideações suicidas.

Compartilhar a carga ajuda

Assumir o controle tentando concentrar todo o cuidado da situação pode não ser benéfico, explica o psiquiatra Pedro Ferreira, professor da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul). Afinal, como em qualquer situação da vida, dividir a responsabilidade evita desgastes emocionais e físicos.

"É uma batata quente, ou seja, não esfria e alguém tem que segurar. Mas se só uma pessoa segura, ela vai queimar essa mão. A única forma de ninguém se machucar é rotar o papel de cuidador entre várias mãos, sejam outros familiares, amigos, médicos, profissionais da saúde mental, instituições", alerta Ferreira.

*Com informações de reportagem publicada em 09/05/22.