Extensão de cílios pode causar alergia, irritação e até perda dos naturais
Caso você não seja a dona de longos cílios naturais, pode ser que já tenha pensado em fazer um alongamento deles ou até usado postiços, no entanto, alguns desses procedimentos podem causar alergia, irritação e, em alguns casos, até doenças mais graves como um derrame ocular.
Os cílios servem para a proteção dos olhos, impedindo de entrar muita poeira, um corpo estranho, microrganismos e até mesmo de o suor cair diretamente dentro do olho. Eles atuam também como um sensor de proteção: imagine que um inseto está se aproximando e, imediatamente, você fecharia as pálpebras, certo?
Ludmila Corral, dermatologista e preceptora do ambulatório de tricologia de dermatologia do HUOL-UFRN (Hospital Universitário Onofre Lopes da Universidade Federal do Rio Grande do Norte), que faz parte da rede Ebserh, explica que na região dos cílios também há várias glândulas responsáveis pela lubrificação dos olhos, por isso, nem todas as pessoas deveriam fazer alongamentos, mas as contraindicações só podem ser avaliadas em uma consulta médica.
De uma maneira geral, pacientes com muita oleosidade não devem fazer alongamentos, pois precisam de uma higiene diária e bem feita. Normalmente, a orientação inicial após esse procedimento é não esfregar muito a região, o que dificulta a higienização. Especialistas afirmam que usuários de lentes de contato também não são bons candidatos para essa prática.
Quais os riscos para a saúde?
"Na maioria das vezes, o material dos fios usado é sintético, então não é igual aos cílios naturais, e a cola usada é um produto químico, o que pode causar uma dermatite de contato (irritação), e se ficar por muito tempo, esses cílios podem ir obstruindo as glândulas de produção de lubrificação dos olhos", ressalta Corral.
Além disso, uma extensão de cílios, ou mesmo os postiços —em caso de uso prolongado—, pode mudar a conformação normal arqueada dos cílios naturais, devido ao peso do material, fazendo com que eles não fiquem mais alinhados corretamente.
"Isso pode levar à fragilidade e queda dos cílios naturais, aumentar a suscetibilidade a infecções por traumatizar a superfície, e até levar a um derrame ocular", descreve Carla Christina de Lima Pereira, oftalmologista, doutora em pesquisa em cirurgia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Outras patologias que podem surgir com o uso de cílios postiços ou de alongamentos são inflamações de repetição, como a blefarite (inflamação do bordo externo das pálpebras), alergias, a conjuntivite alérgica, entre outras.
"Os riscos de cílios postiços e alongamento/extensão são os mesmos, mas o alongamento tem um agravante de ficar em média por 20 dias, e depois vem a manutenção, é diferente de um uso eventual de cílios postiços", ressalta a dermatologista do HUOL-UFRN.
O tratamento é feito de acordo com o diagnóstico que causou o problema. O principal, normalmente, é retirar os cílios sintéticos e permanecer sem eles durante o tempo de recuperação.
"O uso desses produtos constitui uma fonte de contaminação para a lágrima. Nos ambulatórios de urgência do Hospital Universitário Lauro Wanderley costumamos atender pacientes com lesões oculares devido à presença de cílios postiços, como traumatismo de conjuntiva e até úlceras graves. Eu mesma já tive 2 casos de úlcera grave após um procedimento de alongamento", alerta Pereira, oftalmologista, que também é preceptora da residência médica em oftalmologia da UFPB (Universidade Federal da Paraíba).
Essas complicações podem acarretar até mesmo na perda da visão. "Esse tipo de infecção ocular acarreta na perda da transparência da córnea, sendo muitas vezes necessário realizar um transplante de córnea para recuperação visual", explica a oftalmologista da UFPB.
Outro ponto importante é não fazer o alongamento sozinha e, principalmente, não usar produtos impróprios, como qualquer tipo de cola. Se você quer alongar os cílios, procure um profissional especializado e faça também a manutenção.
"Mesmo assim, se a pessoa usar com muita frequência, vai acumular danos, e ao fazer a remoção dos cílios sintéticos podemos perder até 30% dos naturais", alerta a dermatologista do HUOL-UFRN.
Perdi meus cílios, e agora?
Caso você tenha perdido os cílios naturais por causa de procedimentos estéticos, traumas, queimaduras ou mesmo doenças autoimunes, saiba que existem medicações que estimulam o crescimento de novos cílios, mas que devem ser usadas com cautela e acompanhamento médico.
Nesses casos, é preciso suspender o uso do produto sintético por um tempo para que a medicação faça efeito. "Se a pessoa perder os cílios, eles podem nascer de novo, mas se for um trauma frequente ou uma inflamação muito intensa na região, a gente chama de perda irreversível dos cílios. Tudo vai depender do grau da inflamação que ocorrer", diz Corral.
A especialista ressalta que, em caso de perda total dos cílios, é possível viver sem eles. Pessoas que têm alopecia areata ou alguns pacientes que passam por quimioterapia podem viver sem os cílios naturais, usar os postiços ou alongar o pouco que tiver.
"Pela estética, o paciente pode querer colocar cílios postiços, mas pela função, a gente consegue contornar a perda dos cílios de proteção com outros mecanismos, como óculos de proteção e colírios lubrificantes", pontua Patrícia Mitiko Santello Akaishi, oftalmologista e médica assistente do Hospital das Clínicas da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo).
Mas, se o motivo for apenas estético, você pode colocar cílios postiços, por exemplo, para ir a uma festa e dar um up no visual, o que não é recomendado é ficar o tempo todo como eles.
"Nós também temos algumas medicações para aumentar a espessura do cílio ou alongá-lo, mas nesse caso sempre precisa ter prescrição médica", indica Corral.
Outra possibilidade é fazer um enxerto de cílios, caso houver indicação. "Podemos fazer um transplante de cílios, mas não é uma técnica superdesenvolvida, porque é um enxerto difícil de ser feito e nós não conseguimos controlar o crescimento dos fios", explica Akaishi, médica especialista em plástica ocular, lembrando que, nesses casos, os cílios precisam crescer com a curvatura adequada e não "para dentro".
Segundo Akaishi, devido a alta complexibilidade desse tipo de procedimento, ainda não há uma técnica amplamente difundida. Por fim, se você notar queda de cílios, vermelhidão, coceira, ou qualquer outro tipo de irritação, retire o alongamento ou os postiços e procure um médico. Não espere a situação piorar.
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