Suplementos de vitaminas são 'desperdício de dinheiro', segundo cientistas
Pílulas de vitaminas e suplementos podem não ajudar na prevenção de doenças cardiovasculares e câncer em pessoas saudáveis, segundo uma revisão de estudos feita por membros da USPSTF (Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos, na sigla em inglês), um painel independente de especialistas em prevenção de doenças e medicina baseada em evidências.
Em um editorial publicado na última terça-feira (21), a revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association) expõe argumentos favoráveis às conclusões da equipe da USPSTF, que fez uma revisão sistemática de 84 estudos sobre uso de suplementos de vitaminas.
A publicação é uma atualização de uma recomendação que já havia sido feita em 2014. Desde aquele ano, foram adicionados 52 novos estudos à revisão.
Segundo os cientistas, não existe evidência suficiente de que os suplementos possam prevenir doenças cardiovasculares ou câncer.Trata-se de um "desperdício de dinheiro", escrevem. Mais da metade dos adultos nos EUA fazem uso de suplementos diariamente. A estimativa é de que os americanos gastaram cerca de US$ 50 bilhões em vitaminas e suplementos alimentares em 2021, e a tendência é que esse número cresça.
"Eles estão desperdiçando dinheiro e foco achando que existe um conjunto mágico de pílulas que vai fazê-los se manterem saudáveis", afirma Jeffrey Linder, da faculdade de medicina da Universidade Northwestern Feinberg, em Chicago, nos EUA. "Deveríamos seguir as recomendações de se alimentar de forma saudável e praticar atividades físicas, que são baseadas em evidências", completa.
Ter acesso a uma alimentação saudável, no entanto, pode ser um desafio para boa parte da população norte-americana, segundo Jenny Jia, coautora do editorial do JAMA e especialista em doenças crônicas, já que alimentos saudáveis tendem a ser mais caros no país.
"Políticas públicas devem garantir que alimentos saudáveis e ambientes para prática de atividade física sejam acessíveis para todos os residentes dos EUA", escreve Jia. "Adotar uma dieta saudável e praticar mais atividade física são coisas mais fáceis de falar do que de fazer."
Linder reforça que a revisão de estudos não está recomendando que não se deve fazer o consumo de multivitaminas, uma vez que eles podem ajudar aqueles que têm deficiência de vitaminas - como vitamina D e cálcio, que podem prevenir quedas e fraturas em idosos -, mas que, se fosse realmente benéfico para a saúde, já haveria evidência científica.
"O problema é que, conversar com pacientes sobre suplementos durante o tempo limitado de uma consulta nos faz perder tempo que poderíamos estar aconselhando sobre como realmente reduzir os riscos cardiovasculares, como por meio de exercícios físicos ou parando de fumar", diz Linder.
O grupo de cientistas não recomenda o uso de suplementos com betacaroteno, já que a substância pode aumentar o risco de câncer de pulmão, nem de suplementos de vitamina E, que não reduz a mortalidade nem o risco de doenças cardiovasculares ou câncer.
Exceções
O único grupo para o qual os suplementos são recomendados de fato são as pessoas grávidas ou que estão tentando engravidar. "Algumas vitaminas, como ácido fólico, são essenciais para o desenvolvimento de um feto saudável", diz Natalie Cameron, uma das autoras do artigo. "A forma mais comum de atender essa necessidade é tomando vitaminas durante o pré-natal", completa.
Mais estudos e dados são necessários para avaliar como a suplementação pode afetar os riscos de complicações cardiovasculares na gravidez, segundo o estudo.
Além disso, pesquisas recentes da Northwestern descobriram que a maioria das mulheres nos EUA tem problemas cardiovasculares antes de engravidar. Para Cameron, além de discutir a suplementação de vitaminas, trabalhar com pacientes para melhorar a saúde cardiovascular antes da gravidez é parte importante do cuidado pré-natal.
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